Sexta feira da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. No dia 4 de agosto é comemorado o “Dia do Padre”, com a Igreja celebrando a Memória de São João Maria Vianney (1786-1859), declarado o patrono dos padres. Esta data é celebrada desde 1929, quando o Papa Pio XI, proclamou este santo como o Padroeiro dos Párocos e dos Sacerdotes. Também conhecido como Santo Cura d’Ars, um sacerdote católico francês, canonizado pela pelo Papa Pio XI, no ano de 1925. Cura d’Ars que na sua missão sacerdotal tinha como base a seguinte frase: “Se tiver muito, dê muito. Se tiver pouco, dê pouco, mas sempre dê com o coração e com alegria”.
“No Brasil, segundo dados do Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (CERIS) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), há cerca de 30 mil padres. No mundo, são 407.872 padres, segundo o Vaticano”. Pessoas que deixaram suas famílias e passaram por um processo formativo para dedicarem-se ao Ministério Sacerdotal. Alguns deles atenderam ao chamado e levaram a sério, colocando-se como seguidores de Jesus de Nazaré, dando continuidade à Missão de edificar o Reino no aqui e agora de nossa história. Estes são aqueles que o Padre Antônio Vieira dizia: “Há homens que são como as velas; sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros”.
Alguns padres marcaram a minha história de vida. Estes foram aqueles que foram moldando-me e ajudando a construir a minha personalidade. Vários deles, mas dentre estes, destaco o Padre Ticão, que atuava na Região de Ermelino Matarazzo, Zona Leste de São Paulo, Região de São Miguel Paulista. Eram os meus primeiros anos no sacerdócio, dando os primeiros passos, e Ticão muito me ensinou na luta de ser um padre na linha de frente pelas causas dos empobrecidos. O outro que me inspirou a continuar semeando esperança na resistência e na teimosia, foi o Padre Pedro. Embora bispo, o povo do Araguaia o chamava carinhosamente de “Padre Pedro”. Com este, percebi que estava no caminho certo, reforçando ainda mais o meu compromisso, que havia assumido alguns anos atrás.
“Ser padre sem ser clerical”, uma das primeiras frases que ouvi Pedro falar, assim que me acolheu na Prelazia de São Félix do Araguaia (1992). Não basta ser padre, é preciso seguidor das mesmas causas de Jesus de Nazaré. Infelizmente, a história da Igreja é marcada por um forte clericalismo patriarcal, fugindo por completo da inspiração das primeiras comunidades cristas e dos anseios de Jesus em relação aos seus seguidores e seguidoras. Nos últimos tempos, este clericalismo tem crescido assustadoramente, ganhando novas roupagens, com os Ministros Ordenados não conseguindo mais ser padres sem ser clericais. É como se fosse a sua identidade, marcada pela postura superior, ornado de muitas vestes clericais.
O Sacerdote é o continuador da missão de Jesus. Como disse o Papa Francisco em uma de suas falas recentes: “Entre todos os seus discípulos, o Senhor Jesus quer escolher alguns em particular, para exercer publicamente na Igreja, em Seu nome, o sacerdócio em favor de todos os homens, uma continuidade da missão pessoal do mestre, como sacerdote e pastor”. Aquele que anuncia Jesus e seu Projeto do Reino. Não anuncia a si mesmo, nem deve estar em evidência no lugar do Mestre de Nazaré. Como bem disse São Paulo na sua Carta aos Filipenses: “Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens”. (Fil 2,5-7)
Sabedoria que vem de Deus. Jesus não é Deus, mas Deus está com/em Jesus. Ele que no dia de hoje a liturgia nos traz, estando em sua terra natal. Desta vez, ensinando na sinagoga para a admiração de muitos que o ouviam. Jesus cheio de sabedoria divina. Tal admiração de seus ouvintes nem era pela sabedoria que d’Ele vinha, mas por causa de sua origem humilde, de família pobre da periferia de Nazaré: “Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas?. (Mt 13,55) Seus concidadãos se escandalizam e não admitem que alguém como eles possa ter sabedoria superior à dos lideres religiosos de seu tempo. Essa rejeição à Jesus não é meramente acidental: é o Projeto de Deus que está sendo rejeitado. Lembrando que todos os profetas do Antigo Testamento também foram rejeitados. Viva o Padre conectado com a “Igreja em Saída”!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.