Quinta feria da Décima Sétima Semana do Tempo Comum. O mês de agosto vem surgindo com a sua especificidade: clima seco, quente e com a fumaça, típica deste período por aqui. Os desumanizados seguem cometendo os seus crimes impunemente contra a Mãe Natureza. A fumaça e a fuligem tomam conta do ar. Ainda que estejamos vivendo o segundo dia de uma triste constatação. O dia 2 de agosto marca a data em que o Planeta consumiu todos os recursos disponíveis para todo o ano de 2023. A data, que não é fixa, é calculada desde 1971 pela Global Footprint Network, marcando o momento em que a demanda anual por água, matérias-primas, solos e outros recursos ultrapassa a capacidade de recuperação regenerativa global. O que é mais triste é que o contínuo aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE) supera a capacidade de absorção das florestas e oceanos, agravando ainda mais a crise climática e o aquecimento global.
Ou mudamos as nossas atitudes, costumes e estilo de vida, ou vamos todos sucumbir a uma catástrofe planetária. Salvar-nos todos é salvar antes de tudo o planeta que agoniza, em virtude da nossa agressão, muitas vezes gratuitas. A terra está cansada de ser agredida por nós. Se ao menos tivéssemos a disposição para aprender com os povos indígenas quando dizem: “Sem terra não há vida, para nós. Nós não exploramos nosso território para lucrar, mas para nos alimentar, manter nossa cultura e preservar nossas tradições e espiritualidade”. Uma relação respeitosa simétrica de reverência aos territórios sagrados que suas comunidades ocupam.
Diante de tanta destruição, a temática da salvação está presente na ordem do dia. Ou nos salvamos todos, ou ninguém se salvará sozinho, por mais dinheiro, posses e poder que tenha. A salvação é graça. Ela é um dom de Deus. Como São Paulo assim nos comunica: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus. (Ef 2,8) Salvação que, na pessoa de Jesus, surge sob uma nova perspectiva de viver: o amor que gera doação e comunhão, através das obras que continuam a ação de Jesus de Nazaré, realizando o projeto de Deus. A nova forma de viver, porém, é graça de Deus que já foi dada às pessoas, mediante o testemunho do Verbo encarnado em nossa realidade humana.
É esta mesma salvação de que fala a liturgia desta quinta feira: Jesus e o seu “projeto soteriológico”, revelando-nos os segredos de Deus. No campo da teologia, a Soteriologia é o estudo da salvação humana. Cada uma das religiões apresenta um tipo diferente de salvação e possui sua própria Soteriologia. Para o Cristianismo, a salvação é estabelecida através de Jesus de Nazaré. Na literatura hebraica, a raiz mais importante para salvação é “yasha” que significa “liberdade” ou “libertar daquilo que prende”. É esta proposição que Jesus veio nos trazer, revelando-nos que a salvação é oferecida a todos e todas, na medida em que a pessoa se livra dos projetos pessoais egoístas e abraça o Projeto da Justiça do Reino.
Estamos refletindo no dia de hoje os finalmente do capitulo 13 de Mateus. Jesus com mais uma de suas parábolas (rede lançada ao mar), revelando aos seus contemporâneos, o segredo do Reino. Nesta rede lançada, há todos os tipos de peixes e todos eles são recolhidos para uma triagem a ser realizada por aquele que lança a rede. As parábolas contadas por Jesus tem a intenção de revelar o segredo de Deus para aqueles que têm fé. Lembrando que em Jesus, tudo se renova e ganha um novo sentido. Dai a liberdade que cada um, e cada uma tem de fazer a escolha de adesão ou não ao Projeto Messiânico de Jesus.
“Eu não vim para julgar o mundo, mas sim, para salvá-lo”. (Jo 12,47) Jesus é a revelação do próprio Deus que anseia que todos se salvem. A missão de Deus em Jesus se estende a todos, mas cada pessoa permanece livre de aceitar a sua oferta ou não. A recusa da vida, porém, traz consigo a escolha da própria morte. Mais do que uma concepção maniqueísta entre “bem” e “mal”, a consumação do Reino se realiza através do julgamento que separa os que escolhem viver a justiça do Reino e os outros. Os que vivem a justiça anunciada por Jesus tomarão parte definitiva no Reino; os que não vivem serão excluídos. Esta é uma decisão que precisa ser tomada já, e não esperar pelos tempos futuros. Que possamos repetir e rezar com o Livro dos Atos dos Apóstolos: “Abre-nos, ó Senhor, o coração, para ouvirmos a palavra de Jesus!” E assim entender os segredos do Reino. (At 16,14)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.