Se considerarmos que os santos não são perfeitos, mas sim pessoas normais, com virtudes heróicas, apesar dos pecados, obviamente que podemos considerar a santidade como uma possibilidade para todos. Afinal, era isso que São Paulo pensava sobre a santidade quando se referia a outros cristãos com a alcunha de santos (Rm 16,5). Certamente que ele não estava considerando-os como perfeitos, mas como fiéis a Jesus. É assim que também a Igreja pensa quando declara alguém santo. O que ela faz é afirmar que, apesar do pecado, tal pessoa viveu heroicamente as virtudes cristãs (fé, amor e caridade).
Atualmente para alguns incautos existe uma classe de pessoas que não podem levar uma vida santa, em hipótese alguma: trata-se dos políticos. Para essas pessoas, política é sinônimo de mentira, corrupção e outros males. Para tanto, segundo esse pensamento espúrio, ao entrar na política o justo necessariamente terá que metamorfosear seu caráter, abdicando a ética.
A mentalidade referida é reforçada pelos meios de comunicação que comumente dão ênfase aos erros políticos, reforçando o preconceito e a generalização, levando as pessoas imaginar que não existe alma honesta no meio político. Sem dúvidas, no atual cenário trilhar o caminho da justiça em certos contextos políticos é difícil, mas isso não nos permite afirmar que a santidade é impossível na política.
O que muita gente nunca parou para pensar é que existe uma lista enorme de santos que viveram heroicamente as virtudes cristãs, em diferentes contextos históricos e políticos. O mais ilustre exemplo é de São Thomas More, chanceler da Inglaterra, durante o reinado de Henrique VIII (séc. XVI). Este santo se opôs frontalmente ao autoritarismo do monarca. Em seu livro “Utopia” descreveu como seria uma sociedade ideal, contrapondo-se ao modelo político vigente. Sua fama de justiça foi grande, de modo que o papa São João Paulo II oficializou seu nome como padroeiro dos políticos, no ano 2000.
Alguns nomes de santos envolvidos na política merecem destaque: Santo Henrique (imperador do Sacro Império Romano Germânico, séc. XI), São Canuto (rei da Dinamarca, séc. XI), Santa Isabel (rainha de Portugal, séc. XIV), Santo Estevão (rei da Hungria, séc. XI), São Luis (rei da França, séc. XIII), Santa Hildegarda Burjan (deputada federal da Áustria, séc. XIX). Outros nomes ainda poderiam ser acrescentados nessa lista, mas basta esses para termos presente que também a política é um caminho possível para santificação.
Não querendo ser prolixo, para findar o assunto deixo uma frase do papa Francisco: “Devemos nos envolver na política, porque a política é uma das formas mais elevadas da caridade, porque ela procura o bem comum”.
Padre Gilson José Dembinski, é graduado em Teologia, Filosofia. Especialista em Psicologia Pastoral, Teologia Bíblica e Ensino Religioso, Orientação Espiritual, Parapsicologia Clínica e Hipnoterapia. Formação profissionalizante: Introdução à mágica.