Gestos que salvam

O sol hoje ao nascer, sobre o Araguaia, fez um espetáculo maravilhoso. Indescritível. Sou um ser privilegiado, pois tenho a oportunidade de ver este cenário todas as manhãs. Creio que seja um dos poucos lugares do mundo, em que estou no Estado de Mato Grosso e vejo o sol nascer no Estado do Tocantins, sobre a Ilha do Bananal, dourando o Rio Araguaia. Pena que, diante de um espetáculo tão magnífico, dado como um presente de Deus, a maioria das pessoas, ou está dormindo, ou não vêem como um cartão postal, pintado pelo Arquiteto do Universo.

Tenho o hábito de rezar todas as manhãs, na área dos fundos da minha chácara. Enquanto vou degustando uma boa cuia de chimarrão, aproveito para dialogar com Deus do meu jeito. Também aproveito para contemplar a passarada, que faz “barulho” danado no meu quintal. Há alguns meses atrás, acompanhei a desempenho de um João de Barro, na construção de sua casa, na mangueira do vizinho. Dia após dia, via a evolução da sua arte arquiteta, sua casa ganhando corpo. Não há de ver que o vizinho cortou todas as galhas da mangueira. Você não viu o Joãozinho fazendo sua casa em uma das galhas, fui perguntar a ele. Não! Tinha? Não vi.

Não precisamos ter um coração demasiado sensível para ver a realidade e valorizar os pequenos gestos que fazem a grande diferença em nossas vidas. Gestos que, sem ao menos termos a dimensão, pode significar na vida do outro uma grande diferença. Dia desses, uma pessoa entrou em contato comigo, para dizer que uma pequena frase, escrita num dos meus textos, mexeu com a vida desta pessoa. Pequenos gestos têm alcance, que não conseguimos mensurar. Muito embora, como costumamos dizer, os grandes perfumes, vem quase sempre em pequenos frascos. Já um amigo meu emendou: os grandes venenos também.

Neste momento em que estamos vivendo, tais gestos são muito importantes e pode salvar vidas. O fato de cada um estar em sua casa, dá-nos a possibilidade de exercitar com aqueles que estão mais próximos, gestos de carinho tais como: amo você; você faz a diferença na minha vida; sem você não sei como seria; como eu gosto de ti; meus dias ganham contornos diferentes com a sua presença na minha vida. Palavras que saem de dentro do coração e se alojam no coração de alguém, que talvez esteja precisando ouvir. São palavras colocadas no momento certo para que as pessoas possam ouvir e sentir no seu íntimo, o quão são amadas e são importantes, num contexto em que tudo mostra o contrário. Você já parou para pensar nestes pequenos gestos, que podem ser feitos você? Ligar para alguém distante e dizer a elas que está com saudades e precisa muito delas para a sua vida ser melhor?

A vida ganha contornos diferentes, quando nos sentimos amados e valorizados pelas pessoas. Com esta vivência atabalhoada, que tínhamos antes desta pandemia, fez de nós seres áridos, em relação às outras pessoas. Desta forma, passamos a tratar as pessoas, como os objetos que adquirimos, numa avalanche consumista e nem nos damos conta, de que tratamos as pessoas como a tais objetos. Eis uma oportunidade única para retomar um novo caminho, em que saibamos ver o outro e dizê-lo sem muitas firulas, que estamos juntos e não teria sentido uma vida na base do cada um pra si. A beleza das pessoas está nos pequenos gestos simples, e nas pequenas atitudes realizadas. Não nos deixemos cegar e nos enganar pela grandiosidade de momentos efêmeros. Também devemos nos lembrar que gestos concretos e atitudes, valem mais do muitas palavras ditas. Mas a palavra precisa ser dita também, pois o que os ouvidos ouvem, o coração sente, E como sente.

Tenho recebido algumas ligações de pessoas nestes dias. Uma delas me chamou atenção. Uma senhora, do outro lado da linha, dizia-me que eu estava em situação de pecado e que ela tinha um jeito de salvar a minha vida, bastava que eu aceitasse Jesus e passasse a frequentar a Igreja dela. Não a tratei mal, mas fiquei intrigado com aquele tipo de abordagem. Evidentemente que os nossos gestos e atitudes, jamais poderão ser nesta direção. Esta, a meu ver, é um tipo de abordagem muito invasiva e sem sentido. Talvez, devamos fazer como a minha amiga, que resolveu fazer um saboroso doce de abóbora, armazenando em pequenos potes, colocando-os, na porta de cada uma de suas vizinhas de prédio. Telefonou para cada uma delas dizendo: fiz pensando em você! Gesto lindo e muito concreto. Não percamos a chance que nos é dada, de também fazer a nossa parte e encontrar um gesto simples para realizar nestes tempos sombrios desta triste pandemia.