A experiencia com Deus nos leva a suprimir a maldade e toda forma de exclusão

Reflexão litúrgica, sexta-feira, 11/08/23
XVIII Semana do Tempo Comum, Memória de Santa Clara, virgem

 

Na Liturgia desta sexta-feira da XVIII Semana do Tempo Comum, vemos, na 1a Leitura (Dt 4,32-40), que a grande maravilha é reconhecer o único Deus vivo que age na história. Sua ação nasce da fidelidade à Aliança, liberta o povo, lhe revela seu caminho e lhe dá a terra. Não existe outro Deus que faça isso: todos os outros são falsos absolutos.

Devemos aprender e reconhecer que temos uma história, que é história da salvação: Deus interveio e sempre intervém para nos libertar, para promover nossa verdadeira e plena maturação humana na história, para nos conduzir a uma pátria de felicidade inexcedível. Só reconhecendo a Deus, reconhecemo-nos de fato a nós mesmos. Cumpre reconhecer Deus para viver plenamente no mundo da realidade. De outra maneira não sabemos quem somos, como a criança que não sabe quem é senão quando reconhece de quem recebeu a vida. Diante deste texto fica a questão: nós sabemos que a vida é um caminho, sabemos de onde viemos e para onde nos dirigimos?

No Evangelho (Mt 16, 24-28), apresentamos algumas chaves de leitura para uma melhor compreensão:

1ª) Jesus vai à Jerusalém, isto é, assume o compromisso com a cruz: renúncia, aceitação. Essas são as condições para o seguimento: renunciar a ser o centro de si mesmo ou a buscar o caminho mais fácil, ter medo das consequências. Não fazer como Pedro, que queria um caminho mais fácil, triunfante, vencer a qualquer preço, queria um Jesus bem-sucedido, Jesus do sucesso, com isso, tornou-se um obstáculo ao Reino. Jesus vence essa tentação. Alguns querem seguir Jesus do jeito que pensam, imaginam ou querem, mas não necessariamente devemos oferecer ao povo o que este quer, mas o que precisa.

Alguns querem que toda a Igreja seja reduzida à sua ‘pequena cabecinha’. Sempre comento: “É melhor errar com a Igreja do que querer acertar sozinho”.

2ª) Jesus é o centro: “Convém que Ele cresça e eu diminua”. O mundo e os bens não são o fim último para o ser humano. É preciso renunciar aos apegos, mesmo aos mais afetivos. O mundo se torna menos humano à medida que deixamos de seguir o Cristo, isto é, perdemos o sentido do sobrenatural. A economia, o lucro, não podem comandar tudo, isso levaria a perdas humanas, ecológicas, sociais, espirituais etc.

3ª) Jesus retribuirá a cada um de acordo com sua conduta: O céu ou o inferno começam aqui, na história. O ser humano é o único que sabe e pode antever o seu fim. Mas aqui mesmo, antes de passarmos à vida eterna, há recompensas existenciais importantes quando nos doamos ao que é bom e justo. Quando ajudamos, quando somos generosos, ficamos felizes. Devemos permitir aos outros que, também, nos ajudem. O Senhor espera que façamos o bem nas coisas de nosso dia a dia.

Recentemente, o Papa Francisco assim se expressava, em uma de suas homilias:

Quando tocamos em algo, deixamos as nossas impressões digitais. Quando tocamos as vidas das pessoas, deixamos nossa identidade. A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por causa de você. Seja fiel ao tocar os corações dos outros, seja uma inspiração. Nada é mais importante e digno de praticar do que ser um canal das bênçãos de Deus. Nada na natureza vive para si mesmo. Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Jesus não se sacrificou por si mesmo, mas por nós. Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. Não importa quão difícil seja a situação em que você se encontra; continue fazendo o bem aos outros.

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.