Atitude vigilante

Quinta feira da Vigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Último dia do mês de agosto. Setembro está logo ali, apontando na esquina. Passou rápido! A vida segue o seu percurso, na tentativa de buscar a cada dia as nossas realizações. Fomos criados para viver a plenitude da vida. Se assim não está acontecendo, algo está errado, contrariando assim os desígnios de Deus. Fomos criados para sermos felizes, mas passando pelos desafios que a realidade coloca nos nossos horizontes. Enfrentá-los de cabeça erguida é o que Deus espera de cada um de nós. O filósofo Sócrates, há seu tempo, já dizia: “Uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.

A liturgia desta quinta feira nos traz uma temática bastante pertinente para os nossos dias de hoje: a segunda volta de Jesus e o fim dos tempos. Parece um discurso amedrontador, mas não é bem isto que Jesus quis transmitir, quando falou aos seus discípulos: “vigiai, pois, no dia em que não esperais, o vosso Senhor há de vir”. (Mt 24,42a.44) A volta do Senhor é certa. O tempo é incerto. É por este motivo que Jesus pediu aos seus, que ficassem permanentemente vigilantes, pois ninguém tinha o domínio e o conhecimento de quando seria esta hora.

Estamos diante de uma das temáticas que a teologia chama de discurso escatológico. A Escatologia é um dos estudos da Teologia. O termo “escatologia” começou a ser utilizado no século XIX e é formado pela junção de duas palavras gregas: “eschatos”, que significa “último”; e “logos”, “palavra” ou “dissertação”. Desta forma, escatologia significa “doutrina ou estudo acerca das últimas coisas”. Está relacionada àquilo que acontecerá no fim dos tempos e de como será o encontro nosso com Deus. A “hora da verdade” dirão alguns. Nestas horas, ajuda-nos o pensamento de Santa Teresa d’Ávila: “O essencial não é pensar muito, é amar muito”.

O evangelista Marcos ao falar dos últimos tempos, utiliza uma forma de linguagem apocalíptica acerca de sua visão escatológica: “Então verão o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. E ele enviará os seus anjos e reunirá os seus eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu”. (Mc 13,26-27) Na compreensão de Marcos, Jesus é o Filho do Homem que, pela sua morte e ressurreição, testemunhadas pelos discípulos, irá reunir todo o povo de Deus, numa clara alusão ao que fora dito pelo profeta Daniel: “entre as nuvens do céu vinha alguém como um filho de homem. Chegou até perto do Ancião e foi levado à sua presença. Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino é tal que jamais será destruído”. (Dn 7,13-14).

O discurso escatologia está rodeado de mistério. É o mistério de Deus que governa e julga a história. O misterioso Filho de Homem é uma personificação do povo fiel, que recebe de Deus o reino que durará para sempre. O Novo Testamento vê em Jesus, o instaurador do Reino de Deus, como esse misterioso Filho de homem que vem do céu. Evidentemente que quando fala destas coisas, Jesus não tem a intenção de assustar ou amedrontar os seus seguidores, mas os prepararem para que não sejam pegos de surpresa. Tão importante como será a segunda vinda de Jesus é conhecer o tempo desse evento e o que fazermos enquanto esperamos. Não sabemos nem o dia e nem a hora, por isto, resta-nos fazermos aquilo que diz o latim “estote parati”, “sempre alerta”, “sempre pronto”. Atitude de espera vigilante e preparados, fazendo o Reino acontecer.

A recomendação de Jesus é: “ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá. (Mt 24,44) Ao responder aos seus discípulos, Jesus não lhes diz quando isto acontecerá, mas , indica apenas como o discipulado deve se comportar no presente da história. Assim, cabe ao discípulo e a discípula testemunharem sem desanimar, continuando as mesmas ações de Jesus. A espera da plena manifestação de d’Ele e do mundo novo por Ele prometido. Jesus ainda alerta os discípulos: “Cuidado, para que ninguém engane vocês”. (Mt 24,4). O fim não significa o fim do mundo e nem o fim da relação entre Deus e as pessoas. Resta-nos seguirmos o conselho de Jesus: “Vigiem e rezem, para não caírem na tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt 26,41) O estado de vigilância permanente impede que a pessoa se torne inconsciente e inconsequente diante das situações que vai vivenciando no dia a dia.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.