A luz da palavra

Segunda feira da Vigésima Quinta Semana do Tempo Comum. Estamos caminhando rapidamente para o final do mês da Bíblia. O “Setembro Amarelo” vai findando, mas não a preocupação com a vida daqueles que atentam contra ela. “Se precisar, peça ajuda!” Como a Igreja Católica dedica o mês de setembro à Palavra de Deus, a intenção dela é que as pessoas alimentem a sua fé, buscando uma maior intimidade com a Palavra. A Palavra de Deus deve ser o alimento diário para o fortalecimento e amadurecimento da nossa fé. Ler, meditar, rezar e viver! “Ler a Sagrada Escritura significa pedir o conselho de Cristo”. (São Francisco de Assis)

“Vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24). Este é o tema que está norteando o nosso estudo neste ano de 2023 da Carta aos Efésios. Precisamos urgentemente, revestir-nos do espirito “Jesuano”, revestindo-nos do amor à proposta de Jesus e colocar em prática tudo aquilo que Ele nos ensinou. Na concepção paulina, a Igreja abarca a humanidade inteira, nas dimensões do universo. Ele a descreve sob três imagens: esposa (5,22-23), corpo (1,23; 4,16) e edifício (2,19-22). Desse modo, o Apóstolo nos relembra os laços íntimos e orgânicos que unem as pessoas a Jesus e entre si na comunidade, para levá-la ao pleno desenvolvimento. Assim sendo, a Carta aos Efésios é a carta do mistério da Igreja.

“Que a luz de vocês brilhe diante dos homens, para que eles vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai de vocês que está no céu”. (Mt 5,16) A luz da Palavra de Deus brilha em nós por meio das nossas ações em sintonia com o Projeto Messiânico do Reino, que Jesus veio nos revelar. Fazer parte do discipulado de Jesus é estarmos conscientes que estamos unidos com todos aqueles que anseiam por um mundo novo. Através do testemunho visível de cada um de nós, é que as pessoas podem descobrir a presença e a ação do Deus invisível. Somos a luz da palavra que vai irradiando o sonho de Deus, trazendo-o para a nossa realidade histórica: Reino.

Meditei nesta manhã em meio ao burburinho das enormes araras azuis que vieram acordar o meu quintal. Na penumbra da manhã se fazendo dia, elas vieram despertar em mim a realidade de uma segunda feira preguiçosa. A Palavra de Deus se tornando dialeto no falar das araras, fazendo-me contemplar a natureza e louvar a Deus pelo dom gratuito da vida acontecendo em mim. São Francisco de Assis iria adorar a cena e, com certeza, estaria com o seu corpo coberto delas. Eu que sou Chico, mas não sou de Assis, deixei-me seduzir pelo cântico das criaturas. A natureza é bela, pena que muitos não se encantam por ela. Findei a minha oração pensando com o filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A música é celeste, de natureza divina e de tal beleza que encanta a alma e a eleva acima da sua condição”.

O evangelista Lucas nos brinda com apenas três versículos no dia de hoje, oportunizando a nossa reflexão. Um texto pequeno, mas de uma densidade teológica profunda. Mais uma vez, Jesus dirigindo sua palavra a uma grande multidão, dando pequenos, mas valiosos conselhos: “Ninguém acende uma lâmpada para cobri-la com uma vasilha ou colocá-la debaixo da cama; ao contrário, coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que entram vejam a luz”. (Lc 8,16) A função da luz é promover a claridade, para que todos possam ver e enxergar bem. A função da luz é espantar a escuridão e todas as artimanhas que são realizadas ali. Se bem que, para Jesus, nada daquilo que foi realizado às escondidas, ficará para sempre escondido: “Com efeito, tudo o que está escondido deverá tornar-se manifesto; e tudo o que está em segredo deverá tornar-se conhecido e claramente manifesto”. (Lc 8,17)

A maldade humana, as injustiças praticadas e a morte de inocentes, ganharão a verdade da luz do dia. Quem tem a Palavra de Deus como luz e a pratica, não comete as obras feitas nas trevas da escuridão. Por outro lado, a prática libertadora iniciada por Jesus não é para ser abafada ou ficar escondida, mas para se tornar conhecida e contagiar a todos e todas. Quem acolhe a Boa Notícia da Palavra, aprende a ver e agir de acordo com a visão e a ação de Jesus. E a compreensão vai aumentando à medida que vai agindo. Quem deixa de agir, perde até mesmo a pouca compreensão que já tem acerca da vida e da Palavra. Palavra de Deus, luz da vida, como expressou o nosso Pontífice, numa de suas falas: “A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. Nós a escutamos com os ouvidos e passa ao coração; não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração; e do coração passa às mãos, às boas obras. Este é o percurso que faz a Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos”. Sejamos a luz da palavra na escuridão do desamor!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.