Compadre Francisco

Quarta feira da Vigésima Sexta Semana do Tempo Comum. A primavera segue dando as caras com o seu jeitão de verão: sequidão, dias quentes, de baixa umidade e ausência de chuvas aqui para nós. O Araguaia continua evaporando, mostrando suas areias claras e límpidas. Os animais, principalmente, estão passando por momentos difíceis. Quando coloco o esguicho giratório, para molhar as plantas, uma centena variada de pássaros refresca-se com os pingos da água salpicando sobre as plantas. Cantarolam alegremente e abrem suas asas ecumenicamente. A natureza em festa com tão pouco.

Na data em que comemoramos o Dia da Natureza e o Dia Mundial dos animais, precisamos urgentemente nos abrir para o respeito e a importância da preservação do meio ambiente . Esta data foi pensada, coincidindo com a Memória de São Francisco de Assis (1181/1182-1226), que a Igreja Católica, celebra neste dia 4 de outubro. Um homem que tinha uma profunda ligação apaixonada pela a natureza e os animais, chamando a todos de irmãos e irmãs. Viveu a radicalidade evangélica na austeridade, num tempo em que a Igreja medieval, estava voltada para os interesses da burguesia feudal, acumulando riquezas e propriedades.

Francisco de Assis, um homem que revolucionou o pensamento, as atitudes e o status quo do establishment, ou seja, a ordem ideológica, econômica, política e legal das estruturas medievais, inclusive dentro da própria Igreja. Um homem simples, filho de uma família nobre, herdando da mãe os valores que sustentaram seu modo de viver, já que o pai era um burguês, cheio de ambições, que sustentava os valores do pensamento da época. Tudo aconteceu em sua vida, depois de ter passado por uma juventude inquieta e mundana, submetendo-se a um processo de conversão que vai mudar radialmente a sua vida.

São Francisco de Assis, um dos santos mais simpáticos e admirados de toda a história da Igreja, até mesmo por quem não tem fé ou não é da Igreja Católica. Francisco era o homem da ternura. Fraterno com ternura: “fraternura”. Amor com ternura e compaixão pelos mais vulneráveis. Determinado que foi, entregou-se com paixão no seguimento de Jesus de Nazaré. Voltou-se plenamente para as causas dos mais pobres, com eles convivendo ao longo de toda a sua vida. Revolucionou as estruturas da igreja da época, provocando mudanças significativas a partir do Evangelho que abraçou. Uma vida sóbria de um andarilho, em meio à riqueza esnobe de uma igreja opulenta e ante-evangélica.

Convivi muito de perto com outro “franciscano”, muito embora pertencesse a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos). Sim, estou falando de nosso bispo Pedro, um admirador incondicional do pobre de Assis. Sendo quem era e vivendo radicalmente a pobreza, não foi difícil identificá-lo com Francisco. Ambos souberam fazer das suas vidas, um seguimento abnegado da proposta de Jesus de Nazaré. Pedro não tinha dúvida quanto a sua opção evangélica eclesial, frente ao Reino. Não tinha dúvidas quanto a esta sua opção preferencial pelos pobres, vivendo-a integralmente nas estradas desta vida sofrida aqui do Mato Grosso. Para os que titubeavam, costumava dizer: “Na dúvida, fique do lado dos pobres.”

Francisco foi também um dos apóstolos enviados por Deus, como fez Jesus no texto que hoje refletimos na liturgia. No final do capítulo 9 de Lucas, Jesus está dando às coordenadas para aqueles e aquelas que são chamados e enviados em missão, para darem continuidade ao seu Projeto Messiânico. A condição primordial é que sejam capazes de abraçar as causas e dar a vida por elas, sem titubear: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”. (Lc 9,62) Chamados e enviados. Primeiro vieram os doze; depois mais 72. Por fim, todos nós somos chamados a fazer parte deste ministério de Jesus, levando-o adiante a todos os cantos.

Os passos daqueles e daquelas que seguem Jesus em seu caminho requer disponibilidade contínua, capacidade de renunciar a seguranças e, iniciado o caminho, não voltar para trás, por motivo algum. São Francisco soube responder a este chamado e se colocou radicalmente na caminhada com Jesus, na pobreza e na austeridade, olhando sempre para frente. Outro Francisco, o de Roma, segue na mesma toada de Jesus. Seu pontificado diz por si, quebrando todos os paradigmas, trazendo a Igreja para mais próximo da realidade dos empobrecidos e marginalizados, apesar da resistência dos ultraconservadores fundamentalistas. Uma Igreja autentica, fundamentada nos valores do Evangelho, contrariando o espírito do mundo que ele aponta como: “o mundo é poluído pelas aparências, vivemos uma cultura da maquiagem”. Viva, Chico de Assis! Viva, Chico de Roma! Esses Chicos!


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.