Quarta feira da Trigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Novembro se divide ao meio. Um feriado nacional no meio da semana: Dia da Proclamação da República. A Proclamação da República aconteceu em decorrência de um longo processo de desgaste da monarquia, a partir da década de 1870, com diversos grupos da sociedade brasileira. Os militares eram um desses grupos e tiveram protagonismo no golpe que derrubou essa forma de governo. Os militares se sentindo “humilhados” pela monarquia brasileira, entre outras coisas, não aceitavam o fato de não poderem manifestar suas opiniões políticas. A proclamação aconteceu em 1889, através da mobilização do Exército e de republicanos civis contra a monarquia instalada no país desde 1822.
A partir deste golpe, a República foi instaurada no Brasil e a família real foi expulsa. No ano de 1891, foi elaborada a primeira Constituição do Brasil República, com sua promulgação em 24 de fevereiro do mesmo ano. Esta Carta Magna estabeleceu o presidencialismo como forma de governo, no qual o presidente era eleito pelo voto direto, com mandato de quatro anos. Esta Constituição foi importante também porque garantiu uma maior autonomia aos Estados da Federação. Uma das decisões importantes foi a separação entre Igreja e Estado. O Senado também passou por mudanças com os senadores deixando de ser vitalícios e passaram a ter mandato limitado.
República a parte, seguimos na nossa via crucis, em busca das nossas realizações pessoais e comunitárias. Meu dia começou ainda muito cedo na companhia de Pedro. Fiz o propósito de rezar, pelo menos uma vez na semana, ao lado do lugar do descanso de seus restos mortais. Beber da sua sabedoria, revestir-me da sua simplicidade e sonhar todas as utopias possíveis, forjadas na resistência e na teimosia de sua espiritualidade profética libertária. Trago ainda gravado em minha memória pós-AVC, uma de suas frases significativas para o momento de hoje: “A solução é sempre a esperança. Uma esperança, porém, que comece a trabalhar, que saiba viver o dia a dia, que procure fazer o trabalho de justiça e libertação com os outros”.
Justiça e libertação que estavam cravadas no projeto messiânico de Jesus. Ele que hoje está, segundo o evangelista Lucas, a caminho de Jerusalém, no limiar entre Samaria e a Galileia. Ele passando exatamente na fronteira religiosa de Israel. De um lado a Galileia dos pagãos e, de outro, a Samaria. Nesta encruzilhada, dez leprosos imploram por cura. Inicialmente, Jesus oferece a purificação a todos e os envia a mostrarem-se ao sacerdote. Entretanto, no meio do caminho, ao perceber sua cura, um dos dez, volta-se, dando glória a Deus e, com o rosto em terra, lança-se aos pés de Jesus agradecendo-lhe. Trata-se de um samaritano.
As pessoas que contraiam a “lepra”, não tinham vida fácil. Além de serem consideradas imputas, eram obrigadas a viverem isoladas, fora da convivência social, como nos relata o livro do Levítico: “Quem for declarado leproso, deverá andar com as roupas rasgadas e despenteado, com a barba coberta e gritando: ‘Impuro! Impuro!’ Ficará impuro enquanto durar sua doença. Viverá separado e morará fora do acampamento”. (Lev 13,45-46) Estas pessoas eram completamente marginalizadas e, contra elas, havia todas as formas de preconceito. Além de sofrerem com a doença em si, também sofriam com a exclusão social, sobretudo das pessoas que amavam.
Jesus age diferente no trato com estas pessoas. No seu projeto de libertação, vai até o leproso, o cura e o reintegra na vida social, como o vemos no texto de hoje. Dez pessoas se beneficiam com a graça de serem curadas desta moléstia, mas apenas uma delas, reconhece esta ação de Deus por intermédio de Jesus, e volta para agradecê-lo. Talvez a mais marginalizada delas, um samaritano. Um marginalizado como exemplo de gratidão e gratuidade. A fé madura nasce da esperança, cresce na obediência à palavra de Jesus e se manifesta na gratidão. Assim sendo, esta pessoa não só recebe a cura, mas é salva, liberta, reintegrada.
A vida de Jesus é dom de Deus, gratuidade e graça para todos nós. Um samaritano nos ensinando como deve ser a nossa experiência de fé: gratidão, gratuidade e reconhecimento. Não é esta a primeira vez que um samaritano nos dá uma grande lição. Desta forma, somos desafiados a termos uma fé samaritana. Sairmos do nosso comodismo e da nossa zona de conforto, para sermos uma Igreja Samaritana, que vai ao encontro daqueles que mais necessitam de nós. A Igreja samaritana que Jesus sonhou e desejou, que os seus seguidores a assumissem até as últimas consequências. No texto de hoje, Jesus está fora da cidade, lugar que se torna o centro de nova relação social e da evangelização: o lugar dos marginalizados é o lugar onde se pode encontrar Jesus. A Igreja samaritana é a Igreja dos marginalizados, distantes dos templos e do centro do poder.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.