Sábado da Primeira Semana do Advento. As palavras de ordem para este período litúrgico são: preparação, espera (do verbo esperançar) e alegria. Uma fé robusta e bem alicerçada aguarda com expectativa a chegada do Deus-Menino. Ele que vem renovar a tudo e todos. Deus que cumpre a sua promessa e vem morar definitivamente no meio de nós na pessoa do Filho, Verbo encarnado em nossa realidade humana: “Ele tinha a condição divina, mas não se apegou a sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens”. (Filip 2,6-7)
Jesus é a encarnação da humildade em pessoa. De ascendência divina, se apresenta entre nós como um simples ser humano. Abriu mão de todo e qualquer privilégio e se fez obediente a Deus, servindo os mais carentes e necessitados. Serviu até o fim, sendo crucificado como um desonrado malfeitor, como se fosse um criminoso qualquer. Por conta de sua coerência e fidelidade ao Pai, Deus o ressuscitou e o colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do universo e da história. Todos e cada um de nós, somos convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para pôr-nos a serviço dos outros, até o fim. “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel!” (Mt 10,6)
Rezei nesta manhã refletindo esta pérola cristológica escrita pelo apóstolo Paulo. Na penumbra da noite se fazendo dia, me fiz em sintonia com tantos outros seguidores de Jesus que souberam fazer de suas vidas uma dedicação às causas do Reino. As ovelhas perdidas estão abandonadas, pois lhes faltam pastores que estejam, de fato, ao lado delas, junto com elas, trazendo em si o cheiro delas. Bem que o Papa Francisco tem insistido para que as lideranças religiosas desçam de seus pedestais, suas pompas e seus excessos de vaidade, tornando-se fieis seguidores do Nazareno, nas encruzilhadas da vida.
Mais um final de semana ganha espaço no horizonte das nossas vidas. Estamos a caminho do Natal, mas o meu coração vive um momento de ruptura. Hoje vai ser o meu dia de partida rumo aos exames e consultas médicas na cidade de Goiânia. Passarei o meu Natal longe do meu Araguaia. São os cuidados que devemos ter depois que se passa dos 66, entregar-nos nas mãos do cardiologista, neurologista, gastrologista, ortopedista e outros “gistas” mais. De Goiânia, chegarei ao Curso de Verão, em São Paulo, que desta vez será presencial, felizmente. A esperança maior é que tudo corra bem, e eu possa cair dentro do abraço de tantos amigos e amigas da caminhada. Rezem por nós!
“Em geral, parece que toda a Igreja acolheu a proposta do caminho sinodal. O problema é que, a maioria, resolveu caminhar em marcha ré”. Não sei o autor desta frase profética, mas ela traz em si um realismo muito forte, e que nos faz refletir em sintonia com a proposta do Evangelho deste sábado, quando Jesus pede aos seus para ajam com compaixão assim como Ele: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. (Mt 9,36) Agir movidos por um coração compassivo, bem diferente daquilo que vemos em muitas das nossas igrejas hoje. Padres, bispos e leigos mais voltados para dentro de si mesmos ou para os seus templos, movidos por um sacramentalismo, que faz vistas grossas à realidade de sofrimento das “ovelhas perdidas da Casa de Israel”.
Bem diferente é a atividade messiânica de Jesus de Nazaré: “Ele andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo”. (Mt 4,23). A compaixão era o sentimento que movia o coração de Jesus. Compadecia do povo pobre, doente e marginalizado, sentindo com eles a sua dor. Aos que se propõem caminhar com e como Jesus, recebem o mesmo poder d’Ele: desalienar as pessoas (expulsar demônios); libertá-las de todos os males (curar doenças). Somos membros da comunidade de Jesus. Assim sendo, somos os continuadores de sua missão, realizando sua palavra e ação. Tal missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Somos portadores da libertação, às ovelhas perdidas. Sejamos firmes acreditando nas palavras ditas por Josué: “Sou eu que estou mandando que você seja firme e corajoso. Portanto, não tenha medo e não se acovarde, porque seu Deus está com você aonde quer que você vá”. (Js 1,9)
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.