(Chico Machado)
Segunda feira da Segunda Semana do Advento. Mais uma semana se inicia, onde temos a chance de escrever a nossa história no livro da vida. A cada dia se abre uma página em branco, onde vamos desenhando quem e como queremos ser. Devagar vamos aproximando do dia em que contemplaremos nas grutas do mundo, o nascimento do Deus-Menino. As Marias, os Josés e o Rebento, aguardando pelos nossos olhos da fé e do comprometimento social.
Os presépios vivos estão a céu aberto. As imagens mais fortes deles, clamam por justiça e vida digna, como filhos e filhas de Deus que todos somos. Numa sociedade estratificada na desigualdade, é inadmissível que os ganhos e a exploração de uns poucos, se sobreponha sobre os demais, massa sobrante, essência do capitalismo.
Com Santo Agostinho rezei nesta manhã, a oração da indignação: “A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las”. Não entregar ao conformismo naturalizante das coisas, realça a indignação. O ambiente do vai e vem da rodoviária de Goiânia, não me demoveu deste propósito. Enquanto a chuva lá fora caía de mansinho, com a chegada dos ônibus acontecendo, me pus a conversar com Ele, o meu companheiro de todas as horas.
A liturgia desta segunda-feira nos traz uma perícope em que o evangelista Lucas narra para nós uma cena inusitada: Jesus ensinando (certamente à multidão), enquanto, a sua volta, fariseus e doutores da Lei ali se colocaram, aumentando ainda mais a controversia deles, em relação a Jesus.
O clima se torna hostil, pois Jesus, além de perdoar os pecados de um pobre doente, o faz levantar-se de sua cama, ficando liberto de sua doença. Isso para a alegria e aclamação das pessoas comuns, e revolta por parte das lideranças religiosas, escribas e fariseus: “Quem é este que assim blasfema?” (LC 5,21) Jesus com a autoridade de Deus, confrontando as pseudo autoridades.
Segundo a tradição judaica antiga, a doença era causada pelo pecado e não por causa das mazelas e descaso das autoridades. As pessoas pobres eram duplamente marginalizadas: por serem pecadoras e também doentes. Ao contrário das lideranças religiosas daquele tempo e algumas delas hoje, Jesus faz o serviço completo e cura aquele homem por dentro e por fora, permitindo-o alcançar a sua autonomia com dignidade. “Salva a tua alma”, dizem os religiosos. Salva a pessoa humana, diria Jesus, pois é o corpo que sofre quando a alma é alienada. Estas são as bases sólidas do cristianismo libertador. Mais do que salvar almas, são as vidas humanas sofridas que precisam ser libertadas.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.