A infantilização da fé

Sexta feira da Segunda Semana do Advento. A preparação para o Natal nos pede uma revisão profunda de nossa vida. Um olhar para nós mesmos, para que possamos abrirmos-nos para um olhar para a realidade que estamos vivendo. Olhar de misericórdia e compaixão, como o olhar de Jesus, frente ao contexto que estamos vivendo hoje. Olhar comprometido e responsável da fé.

Sexta feira que nos anuncia o final de semana que vem vindo. Já estamos cruzando o limiar do mês de dezembro, avistando o Natal no horizonte de nossas expectativas. A manjedoura, que prefigura o lugar do nascimento do Deus-Menino, já está sendo preparada. Ele nascendo lá e renascendo em nós como perspectiva de uma vida nova que podemos/queremos ser e viver.

“Tudo podia ser melhor. Se o Natal não fosse um dia. E se as mães fossem Maria. E se os pais fossem José. E a gente parecesse com Jesus de Nazaré”, canta o Padre Zezinho. Fazer o Natal acontecer todos os dias, como proposta de Deus que veio morar definitivamente no meio de nós e é um-conosco. Este é o verdadeiro sentido para aqueles e aquelas que já não vivem uma fé infantilizada.

Este foi o contexto do desafio da minha oração nesta manhã. Rezei no silêncio do quintal, rico em folhagem, do Canuto, um “histórico Prelazia”, que hoje vive na capital dos goianos. Enquanto ouvia ao longe o barulho dos carros, fui aqui, me entendendo com Deus no meu dialeto com Ele. Rezando em sintonia com o pensamento de Soren Kierkegaard: “A função da oração não é influenciar Deus, mas especialmente mudar a natureza daquele que ora”. Desafiante.

Como cristãos e cristãs, seguidores e seguidoras de Jesus de Nazaré, somos interpelados a crescer na fé. Uma fé amadurecida e que não traga em si os reflexos de uma infantilidade, eis o maior desafio, diante do contexto do Evangelho de hoje. O evangelista Mateus, através de um dos ditos de Jesus, nos alerta que devemos ser vigilantes na fé, para saber escutar, interpretar e viver a palavra de Deus, permitindo que ela se faça vida nas nossas vidas.

O projeto de Deus conta com várias pessoas que se dispuseram e se dispõem em levar adiante a proposta do Reino. Foi assim no Antigo Testamento, e é também assim nos tempos atuais. Quanto mais nos aproximarmos e identificarmos com este projeto, seremos rejeitados, perseguidos e até mortos, por aqueles que não aceitam um Reino de paz, amor, justiça, fraternidade e igualdade entre todos. Os violentos, como foi dito no Evangelho de ontem, estão à espreita.

Atentemos para que não façamos hoje o que foi feito no tempo de Jesus. Ali, o povo comportava-se de maneira infantil: acusando João Batista de radical, louco, exigente, porque era severo demais; acusam Jesus de boa-vida, comilão e beberrão, junto com pagãos, pecadores, prostitutas, muito condescendente com essa gente. No entanto, se esquecem de ver as ações de João e de Jesus, testemunhando o Reino e a realização da vontade de Deus. De que lado está mesmo você nesta história? Já parou para pensar nisso? Sua fé amadureceu ou ainda está ligada à infância catequética?


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.