A missão de João Batista e a nossa missão: anunciar Jesus, denunciar o que contradiz o reino de Deus e propor novos caminhos

Reflexão litúrgica: terça-feira, 02/01/2024, Tempo do Natal,
Memória de São Basílio Magna e São Gregório Nazianzeno, bispos e doutores da Igreja

 

Na Liturgia desta terça-feira do Tempo do Natal, na 1a Leitura (1Jo 2,22-28), a revelação cristã mostra que a salvação é o dom da vida que o Pai concede aos homens através de Jesus. Anticristos são aqueles que rejeitam Jesus como Cristo, isto é, como Messias e Salvador; desse modo, rejeitam também o Pai e, portanto, a própria vida. Cristãos verdadeiros são aqueles que aceitam Jesus como Salvador, e assim recebem a vida que vem do Pai. Jesus tinha anunciado que no fim dos tempos apareceriam anticristos, que procurariam desviar os fiéis. Os cristãos, porém, não devem temer, porque receberam a unção do Espírito que mantém sempre viva neles a memória de Jesus e ensina os cristãos a encarnar Jesus Cristo em qualquer tempo e lugar.

No Evangelho (Jo 1,19-28), vemos que os judeus exigem que João Batista se identifique. Ele se apresenta como precursor, pedindo que o povo se prepare para receber o Messias.

Quando João Batista começou a pregação, os judeus estavam esperando o Messias, que iria libertá-los da miséria e da dominação estrangeira. João anunciava que a chegada do Messias estava próxima e pedia a adesão do povo, selando-a com o batismo. As autoridades religiosas estavam preocupadas e mandaram investigar se João pretendia ser ele o Messias. João nega ser o Messias, denuncia a culpa das autoridades, e dá uma notícia inquietante: o Messias já está presente a fim de inaugurar uma nova era para o povo.

Messias é o nome que os judeus davam ao Salvador esperado. Também o chamavam o Profeta. E, conforme se acreditava, antes de sua vinda deveria reaparecer o profeta Elias.

João Batista é a testemunha que tem como função preparar o caminho para os homens chegarem até Jesus. Ora, a testemunha deve ser sincera, e não querer o lugar da pessoa que ela está testemunhando.

Qual é a missão, o papel do Profeta João Batista?

A missão de João Batista é a mesma da Igreja: anunciar o Messias e denunciar o que contradiz o Reino de Deus. Ele representa todas as pessoas iluminadas, cheias de Deus, que apontam saídas e esperança aos que querem desistir do caminho do bem. João representa todos os Movimentos Sociais que querem uma nova sociedade, uma nova ordem, temida pelo Sinédrio que manda a polícia intimidar e, mais tarde, eliminar João Batista.

João Batista pregava uma mudança – arrependimento: “Vocês não devem pensar que são os gentios que caminham para a destruição e que os filhos de Abraão serão poupados por causa de seus antepassados e de sua raça. Não penseis que basta dizer: Temos por pai, Abraão. Pois eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão” (Mt 3,9).

Deus pode destruir Israel e criar um povo novo para si, e ele o fará, se Israel não se arrepender. João dizia que todos precisam mudar:  pecadores, prostitutas, coletores de impostos, soldados, escribas, fariseus, Herodes etc.

O batismo de João era sinal de arrependimento individual e pessoal. “Eram batizados por ele… confessando seus pecados” (Mc 1,5). O perdão e a conversão seriam a poupança do castigo futuro. João não pregou a observância das leis e rituais da moral vigente, mas uma moral social: “Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, quem tiver o que comer, faça o mesmo…”  (Lc 3,11-14).

João foi preso e decapitado porque tinha ousado falar em público também contra Herodes. Os outros grupos denunciaram a mulher adúltera porque era pobre, mas Herodíedes (rica e do poder) ninguém denunciou, somente João Batista (Mc 6,14-29).

João Batista foi o único homem que impressionou Jesus. João avisou do desastre que ocorreria se não houvesse mudança. Jesus estava atento aos sinais dos tempos, também viu que Israel caminhava para sua destruição. Só de pensar nisso Jesus chorou (Lc 19,41).

“Pois dias virão sobre ti, e os teus inimigos te cercarão com trincheiras, te rodearão e te apertarão por todos os lados. Deitarão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e não deixarão de ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada! (Lc 19,43-44). Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então os que estiveram na Judéia fujam para os montes, os que estiverem dentro da cidade saiam… porque serão dias de punição… Ai daquelas que estiverem grávidas e estiverem amamentando naqueles dias! Com efeito, haverá uma grande angústia na terra e cólera contra este povo (Lc 21,20-23). Jesus, porém, voltando-se para elas lhes disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos filhos!” (Lc 23,28).  Algumas pessoas lhe contaram o que acontecera com os galileus, cujo sangue Pilatos havia misturado com os das suas vítimas. Ele disse: “se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo” (Lc 13,1-3).

Qual é o lugar de João? Ele não ocupa o lugar de Jesus, não se aproveitou da ‘fama’, ele é simplesmente seta, indica o caminho, sai de cena discretamente: “Convém que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30). Qual é também o nosso papel frente à realidade que nos cerca?

Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.