O discípulo de Jesus, em qualquer tempo e lugar, deve reescrever o Evangelho com a sua própria vida

Reflexão litúrgica: sexta-feira, 26/01/2024
4ª Semana do Tempo Comum
Memória de São Timóteo e São Tito, bispos

Na Liturgia desta sexta-feira, 4ª Semana do Tempo Comum, na 1a Leitura (2Tm 1,18), o Apóstolo Paulo exorta Timóteo a manter a plena fidelidade ao Senhor, convida-o a testemunhar a fé em todos os lugares e culturas. Paulo compreende que o discípulo de Jesus, em qualquer tempo e lugar, deve reescrever o Evangelho com a sua própria vida.

Neste texto, ele faz um insistente convite à nossa renovação espiritual: “Reaviva o dom de Deus que há em ti”. Reavivamos a vida de Deus em nós quando nos colocamos à escuta do Senhor que nos fala pela vida (realidade) e pela Palavra (Bíblia). Mais necessário será testemunhar nossa fé perante as adversidades, perplexidades e angústias do tempo presente, pela superficialidade da cultura urbana e pela insegurança diante de grandes desafios. Vivemos diante de uma lacuna que coloca em xeque nossa vocação e o próprio Projeto de Deus. A cada dia aumentam os problemas sociais e, cada vez mais, aumentam os sinais das contradições de nosso tempo, em que a miséria e opulência convivem sob a angústia de uns e a indiferença de outros, em que é preciso investir na força criadora da evangelização inculturada, por meio do serviço e do diálogo, do anúncio e do testemunho de comunhão. O Espírito Santo, contudo, não nos deixa acomodados e nos impele a repetir, como em um canto novo, a experiência do profeta: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7). Seduzidos pelo Senhor, devemos ser mistagogos (mestres nos mistérios), levando muitas pessoas à mesma experiência do amor de Deus.

Na 2ª Leitura (Tt 1,1-5), vemos que a tarefa do apóstolo é anunciar aos homens o projeto de Deus, que quer conduzi-los à vida eterna. Paulo dá instruções a Tito para organizar a comunidade em Creta. Como ainda não há um modelo hierárquico definido, as funções e lideranças vão se formando aos poucos.

As primeiras comunidades cristãs permaneciam sob a dependência direta do apóstolo ou de um delegado seu. Este era encarregado de organizar um grupo de pessoas que presidiam ao ensinamento e ao funcionamento da comunidade. Surgiram, então, os presbíteros e os dirigentes, os epíscopos. Com o desaparecimento dos apóstolos e dos delegados a situação se desenvolveu: a comunidade é animada por um bispo, que preside o colégio dos sacerdotes e o grupo dos diáconos. A função ministerial na Igreja exige vida digna, em vista do dever fundamental de anunciar a palavra de Deus.

No Evangelho (Lc 10,1-9), vemos que todos somos enviados por Jesus para anunciar a paz e a vida nova num mundo ferido por muito sofrimento. Neste envio, as instruções são explicitas: mansidão, pobreza, ser portadores de paz, contentar-se com o que há, interessar-se pelos necessitados e anunciar o Reino; se rejeitados, repetir o anúncio; não se deixar levar por um entusiasmo fácil diante do sucesso; a única coisa válida é ser membros do Reino; enfim, estar convencidos de que o Reino não se constrói em um dia.

Os discípulos são organizados por Jesus para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino. Aqueles que não quiserem aderir à Boa Notícia ficarão fora da nova história.

 O Evangelho de Jesus tem uma dimensão social tão profunda que deixá-la de lado ou negá-la significa desfigurar completamente o anúncio e a prática de Jesus Cristo, o Filho de Deus, razão de nossa fé. Fazer uma opção de Fé cristã, sem assumir um compromisso social na linha da busca da justiça, da solidariedade, da supressão das situações de miséria, da justa distribuição dos bens, da defesa da vida, da opção pelos pobres, da organização dos trabalhadores em defesa dos seus direitos fundamentais, é uma opção de fé incompleta, capenga, insuficiente. Fazer uma opção de fé e colocar-se contra esse compromisso é uma opção de fé falsa. É uma idolatria. A opção de compromisso social é uma graça de Deus, se não a tivermos, mas, pelo menos, não criticarmos os que a possuem, já é um grande avanço. Combater ou depreciar os que caminham por essa direção é combater e depreciar o próprio Deus que vê, ouve e desce para libertar todos os que sofrem as consequências desse mundo injusto e desigual. O que mais machuca são as críticas que vêm de dentro, dos próprios irmãos e irmãs, dos próprios cristãos.

Oxalá ninguém precise apresentar, um dia, diante do Tribunal de Deus, a desculpa que não sabia que era necessário se comprometer e transformar as realidades temporais. Enquanto é tempo, escutemos o clamor dos pobres e dos que sofrem, pois, caso contrário, “mesmo que um morto ressuscite, não ficaremos convencidos” (Lc 16, 19-31).

São Timóteo e São Tito, bispos

Timóteo, de pai pagão e de mãe judia-cristã, foi discípulo e colaborador de São Paulo e por ele colocado à frente da comunidade eclesial de Éfeso. Tito, também companheiro de São Paulo na atividade missionária, foi colocado na direção da Igreja de Creta. Os dois discípulos são destinatários de três cartas pastorais do apóstolo, que deixam entrever os primeiros elementos dos ministérios da Igreja.

 Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.

 


Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.