Terça feira da Terceira Semana do Tempo Comum. O mês de janeiro vai caminhando no passo-a-passo rumo ao seu final. Pouco mais de uma semana e daremos de cara com fevereiro que vem vindo. Devagar o ano de 2024 vai se encaixando nas nossas vidas. Os tempos não são mais os mesmos e com razão, já que ele é o senhor da razão. Os tempos de ontem se foram, servem apenas como espelho da história. O presente se faz no aqui e agora, projetando para um futuro que há de vir no horizonte de nossas utopias. Quiçá possamos adotar a ideia do filósofo chinês Confúcio: “Se queres conhecer o passado, examina o presente que é o resultado; se queres conhecer o futuro, examina o presente que é a causa”.
Todos os dias são dias de liberdade! Entretanto, na data de hoje se comemora O Dia Mundial da Liberdade. Data criada pela ONU, tendo a liberdade como um direito de todos os seres humanos para realizarem as suas próprias escolhas, para traçarem o seu futuro e determinarem as suas opções de vida. O documento que serve como referência para este dia é a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH 1948), que no seu Artigo 1º diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
“Tudo quanto aumenta a liberdade, aumenta a responsabilidade”, dizia-nos o poeta e dramaturgo francês Victor Hugo (1802-1885). Liberdade como o sonho projetado por Deus para toda a humanidade. Nesta compreensão, ser livre significa pertencer completamente a Deus, fazer a sua vontade, pois somos obra de sua criação e Ele deseja a nossa salvação. Ser livre fazendo o bem sendo gratos a Deus. Como o apóstolo Pedro manifestou assim em uma de suas cartas: “Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus”. (1Pedro 2,16)
Hoje, estamos refletindo sobre a família de Jesus. Todos sabemos que Jesus, embora de origem divina, veio do berço familiar de Maria e José. Nascido na periferia de Nazaré, foi ali que Ele aprendeu a dar os seus primeiros passos. Esta é a família de Jesus, que os Evangelhos nos relatam. Entretanto, o texto que Marcos nos apresenta hoje, fala de um recado dado a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura”. (Mc 3,32). De quem eles estão falando, afinal? Jesus tinha outros irmãos? Maria e José tiveram outros filhos além d’Ele? Maria, considerada pela tradição como sempre virgem, teve uma vida conjugal normal com José após o nascimento do Menino?
Trata-se de uma discussão bastante controversa e que há várias interpretações, que não vamos falar sobre elas neste momento. O que importa é a fala de Jesus diante da circunstância apresentada: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. (Mc 3,33-35) Enquanto a família segundo a carne está “fora”, a família segundo o compromisso de fé está “dentro”, ao redor de Jesus. Sua verdadeira família é formada por aqueles e aquelas que realizam na própria vida a vontade de Deus, que consiste em dar continuidade à missão d’Ele: missão, comunhão, participação. Koinonia, palavra de origem grega e significa “comunhão”, companheirismo, participação, compartilhamento e contribuição com o próximo e com Deus.
Aqui entra o sentimento de pertença. Pertencer à família de Jesus. Pela criação, já somos da família de Deus. Pelo batismo, passamos a fazer parte desta mesma família de Jesus. Pela fé vamos fazendo a caminhada junto com Ele, sendo continuadores de sua missão. Ele não quer caminhar sozinho, por isso escolheu pessoas que, com Ele, pudessem fazer a mesma caminhada. Todos e todas, de alguma maneira somos chamados a fazer parte desta família. Querendo ou não entrar para ela, é uma decisão livre de cada um com as suas escolhas. Na medida em que aceitamos ser da mesma família, precisamos falar uma linguagem comum, manifestada pelo amor, pela misericórdia, pelo perdão e, sobretudo pela compaixão. Quem é da família de Jesus não se conforma com a injustiça e a desigualdade, mas luta por outro mundo possível.
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.