Quarta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. Hoje é um dia de festa na Igreja. Celebramos a memória de São Francisco de Sales (1567-1622). Um grande homem do XVI, pertencente à nobreza, mas ainda muito cedo buscou viver aquilo que ele denominava de “a vontade do Senhor”. Bispo e declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX, em 1877. É considerado o patrono dos escritores e jornalistas e também da família salesiana, fundada por Dom Bosco. Foi canonizado no ano de 1655, pelo Papa Alexandre VII. Morreu com apenas 55 anos de idade, sendo que 21 deles foram dedicados a sua atuação como bispo da Igreja.
“A alegria abre, a tristeza fecha o coração”, afirmava São Francisco de Sales. Assim, com o coração em festa, povoado de alegria, iniciei o meu dia no túmulo do Mártir da caminhada. Entre um pingo e outro de chuva, testemunhados pelo olhar tímido do sol, que avançava o dia, rezei invocando a força do profeta do Araguaia. No dia de hoje, certamente, ele estaria em festa, comemorando com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) os seus 40 anos de luta e resistência. Quatro décadas de vida daquele que é um dos maiores movimentos populares da América Latina e o maior do Brasil. O MST foi fundado em janeiro de 1984, no 1º Encontro Nacional de Trabalhadores Sem Terra, na cidade de Cascavel (Paraná). Pedro, não somente trazia consigo o boné do MST, como apoiava o movimento na sua incansável luta.
Pedro, poeta dos pobres, semente de vida e esperança! Seu legado nos ensina que a luta continua e que precisamos resistir, insistir e persistir, acreditando na força de nosso esperançar pelo Reino, de mãos dadas com os mártires da caminhada. Pedro plantou a semente de uma Igreja de pés descalços, na caminhada do povo de Deus em marcha. Semente que está viva e brota do chão das causas do Reino. Semente da Palavra viva, que está sendo semeada a cada dia no chão dos muitos corações. Semente de esperança que nos faz sonhar com o Reino, no aqui e agora de nossa história. Semente que acreditou na possibilidade da vida teimosa de Pedro, que dizia: “Eles podem tirar tudo de nós, exceto a esperança fiel”.
Semente, palavra semeada hoje pela liturgia que Marcos faz questão de nos mostrar no texto que refletimos nesta quarta feira. Jesus, as margens do Mar da Galileia, ensinando os seus e a multidão em forma de parábolas. Ele conta a conhecida “Parábola do Semeador”. Jesus usando de toda uma metodologia para tratar de coisas sérias, de maneira muito simples. A complexidade de uma compreensão exegético-teológica, sendo traduzida em miúdos, para que as pessoas mais simples pudessem chegar a um entendimento da mensagem, em sua forma cristalina. A ação do semeador, fazendo com que a semente chegue ao terreno apropriado, e produza os frutos desejados por Deus.
Semente (Palavra) semeada por Deus! Semente semeada por Jesus nos mais variados chãos de nosso coração. Em cada coração foi semeado a semente da palavra. Cada coração (chão), recebe a semente e reage a sua maneira, conforme o terreno cultivado em cada coração humano. Com esta sua pedagogia, Jesus quer ajudar as pessoas a ler e compreender toda a sua missão. Ler, escutar, compreender e viver esta palavra (semente). Mas é preciso “estar dentro”, isto é, seguir os passos de Jesus, para perceber que o Reino de Deus está se aproximando através de sua ação. Os que não seguem a Jesus ficam “por fora” e não cultivam a semente semeada em seu coração. Terreno pedregoso.
O profeta Isaías a seu tempo, e de forma sábia, já nos dizia: “Da mesma forma como a chuva que cai do céu e para lá não volta sem antes molhar a terra, tornando-a fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e alimento para quem precisa comer, assim acontece com a minha palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei”. (Is 55,10-11) Palavra (semente) que é liberdade e vida para todos e todas. Cabe a nós ter a sabedora para acolher a palavra (semente) e fazê-la germinar, convertendo-nos, ouvindo sua palavra e tornando-nos aliados seus na luta em prol de liberdade e vida para todos.
Cada um de nós acolhe a semente (palavra), vê e entende a partir do lugar que ocupamos na sociedade e das dificuldades que encontramos para nos comprometermos com Jesus e para dar continuidade à sua ação nos nossos dias de hoje. Cada terreno de nosso coração está cultivado com os valores, os princípios e as diretrizes que damos para as nossas vidas. A semente (palavra) está sendo semeada cotidianamente, e Deus quer contar com o chão de nosso coração. O seu coração está com o chão preparado para receber esta semente, fazendo-a germinar e frutificar? Ler, escutar/entender e viver a palavra é fazer germinar a semente de Deus semeada em nosso coração. Que você seja uma sementeira de Deus na vida dos seus!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.