Cristianismo libertador

Segunda feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Estamos trilhando os últimos passos em direção ao mês que caracteriza o ano bissexto. A chuva, segue presente em nossa caminhada por aqui. Ontem aconteceu a primeira celebração presidida pelo nosso novo padre que veio trabalhar conosco: Padre Luís Cláudio da Silva. É dos nossos e da caminhada da Igreja pé no chão, como Pedro gostava de dizer. Celebrou pela manhã na catedral de São Félix, e a noite com a comunidade Santo Antônio, periferia da cidade. Seja bem vindo, companheiro! Estamos juntos! Tudo pelo Reino!

Estar junto na caminhada é o propósito da Igreja pensada e vivida pelo nosso bispo Pedro. Tudo pelo Reino, sem ficarmos presos aos adereços institucionais que vem transformando a nossa Igreja. De saber que em uma das dioceses do Brasil, um bispo sem noção, proibiu os padres de usarem chinelos de dedo. Certamente, nesta diocese, nosso bispo Pedro não teria voz e vez, já que andava sempre com as suas surradas sandálias nos pés. Jesus também não teria acesso a esta diocese, mesmo com as suas adorações do santíssimo intermináveis, regadas à fumaça. Fico me perguntando: qual Jesus estaria ali mesmo?

Domingo de muitas celebrações nas comunidades pelo Brasil afora. Uma delas chamou a nossa particular atenção, e não foi na “canção velha” e nem na “rede morta”. Estou me referindo a linda celebração, presidida pelo Padre Júlio Renato Lancellotti, com as presenças de Leonardo Boff e do Frei José Fernandes Alves, OP, dentre muitas outras representações. Leonardo e Frei José, hipotecaram o apoio e solidariedade ao Padre Júlio, em nome de todos nós e dos Padres da Caminhada. Mexeu com o Padre Júlio, está mexendo com todos nós, que professamos a fé no Deus de Jesus de Nazaré e estamos na mesma caminhada.

Somos do cristianismo libertador e não da igreja alienada e das vestes suntuosas do clericalismo patriarcal medieval. Aliás, as muitas vestes, ornadas de rendas, cheias de filetes dourados, suntuosas, eram, no tempo de Jesus, as vestimentas pagãs do Império Romano. Estas tais vestimentas foram apropriadas por um setor da Igreja Católica, incorporadas aos guarda-roupas das sacristias de muitas de nossas igrejas, sendo veneradas pelos bispos e presbíteros, sobretudo os mais jovens. Como diz um amigo meu, adotaram a “teologia do pano”, dando mais ênfase às vestimentas, no lugar da verdadeira mensagem do Evangelho de Jesus de Nazaré. Igreja da “aporofobia”, pois não estão em sintonia com a realidade dos mais pobres e invisibilizados de nossa sociedade.

Bem ao contrário de Jesus, que continua a sua atividade messiânica na região dos gerasenos. Gerasa era uma pequena região em formato de L, junto ao mar da Galileia. Ali, Jesus curou dois homens endemoniados. (Mc 5,1-20; Lc 8,26-39; Mt 8:28-34) A cura de hoje gerou muita controvérsia em toda a região pois, se de um lado estavam aqueles que ficaram admirados com Jesus, seus ensinamentos e curas, estavam também aqueles que se revoltaram com Ele pelo fato de Jesus estar causando prejuízo aos comerciantes locais, às custas de salvar uma pessoa que morava no cemitério.

Lembrando que a pessoa endomoniada estava a um passo da morte. Marcada para morrer. Naquele contexto, a pessoa não possuía consciência de si mesma, uma vez que era dominada pelos espíritos maus. A pessoa não possuía autonomia e nem agia por conta própria. Era alienada de tudo e de todos. O ato de cura de Jesus devolve a dignidade àquela pessoa, libertando-a das forças ocultas interiores que estavam sobre ela. A pessoa virou gente novamente, causando a admiração de muitas pessoas: “Elas foram até Jesus e viram o endemoniado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído por Legião”. (Mc 5,15)

“Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo”. (Lc 7,16) Muitos daquela cidade pediram que Jesus fosse embora. A atitude dos que pedem que Jesus vá embora é a mesma de uma sociedade que valoriza mais a riqueza e a posse dos bens do que a libertação dos alienados e escravizados. Devemos nos lembrar sempre, que Deus quer que as pessoas vivam. A sociedade que põe qualquer coisa acima da vida humana é uma sociedade que rejeita Jesus. Rejeitar Jesus é rejeitar o projeto de Deus que Ele veio trazer para a humanidade: a face de um Deus extremamente amoroso, cheio de compaixão e misericórdia e quer que todos os seus, vivam na plenitude maior da existência humana. Muitos demônios ainda precisam ser expulsos do meio de nós, inclusive de dentro das nossas igrejas, que fazem opção pelos grandes e poderosos e se esquecem dos pequenos, pobres e marginalizados.

 


Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.