Terça feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Estamos a um passo de entregar este mês que está chegando ao fim. Muita coisa aconteceu ao longo destes dias que passaram. Os propósitos que fizemos na virada do ano, ainda devem estar na ordem do dia. Não sermos os mesmos de antes é o grande desafio. Buscar ser cada dia melhor, dando o melhor que podemos ser, é a meta de cada um de nós. O mundo precisa de pessoas com mais ternura e amorosidade nos corações. Ter compaixão é deixar o coração ser invadido pela justiça de Deus. Sejamos nós a mudança que queremos ver no mundo!
O dia amanheceu melancólico por aqui e eu me deixei ser tomado pela nostalgia. Depois é que vou perceber o porquê. No dia 30 de janeiro, comemoramos o “Dia da Saudade”. Uma data especial para relembrarmo-nos das pessoas amadas/queridas que se foram ou que, por algum motivo, estão longe de nós; por um distanciamento circunstancial geográfico, ou pela rotina diária, que vai nos afastando uns dos outros. Relembrar os tempos passados e a riqueza das relações que fomos capazes de construir e que sobrevivem ao tempo, mesmo depois de tantos anos passados. “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”. (Mário Quintana)
A saudade que também mata! A título de curiosidade e conhecimento, a saudade matava os negros escravizados aqui no Brasil. Assim que pisavam o solo daquele que veio a se chamar Brasil (Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz – Brasil), eles eram acometidos de uma grande tristeza, batizada de “banzo”. Por terem deixado a sua terra natal, familiares e amigos para traz, entravam num estado de depressão psicológica profunda, acompanhada de uma enfermidade crônica: a nostalgia profunda que levava-os à morte. Muitos assim morreram. Quem não conhece a cena do filme “Amistad”, quando uma mãe, amamentando a sua criança no parapeito do navio, se deixa cair ao mar com o seu bebê?
De saudade em saudade vamos construindo a nossa rotina de vida, apostando, lutando e trabalhando para que coisas semelhantes ao escravagismo nunca mais volte a acontecer entre nós. Somos filhos e filhas do Deus da vida e a liberdade é a condição inerente a todo ser humano. Nascemos livres para viver em plenitude. O trabalho dignifica a pessoa humana, quando ele é realizado com dignidade, valorização, respeito e salários dignos, coisas que o capitalismo sanguinário, ainda não aprendeu a fazer com os seus trabalhadores. Como diz a ativista lituana Emma Goldman (1869-1940): “O capitalismo sabe corromper aqueles que deseja destruir”.
Continuamos refletindo com o evangelista Marcos e os seus textos, que a liturgia se encarrega de trazer até nós. Com o seu proposito de responder a pergunta: Quem é Jesus?, Marcos conta hoje mais algumas curas realizadas por Jesus. Aliás, ao longo de seu evangelho, ele aponta pelo menos 18 delas, a saber: Cura de endemoniado na Sinagoga (1,21-28); Cura de febre (1,29-31); Cura de homem com lepra (1,40-45); Cura de paralítico (2,1-12); Cura da mão seca/atrofiada de homem (3,1-6); Acalma a tempestade para seus discípulos (4,35-41); Cura de endemoniado com demônios enviados a 2000 porcos (5.1-17); Cura de mulher hemorroísa (5,25-34); Ressuscitação de menina de 12 anos (5,35-43); Multiplicação de pães (6,30-44); Caminhada sobre as águas do mar (6,45-52); Cura mulher endemoniada (7,24-30); Cura surdo-mudo com saliva (7,31-37); Segunda multiplicação dos pães (8,1-9); Cura homem cego com saliva (8,22-26); Cura de endemoniado epiléptico (9,14-29); Cura de cego (10,46-52); Figueira estéril (11, 12-26).
As curas de Jesus, em sua maioria, eram realizadas entre as pessoas mais simples, pobres e marginalizadas. A ação era de Jesus, mas as pessoas que recebiam tal ação, eram aqueles que possuíam uma grande fé em Jesus. Foi assim com o chefe da sinagoga e também com a mulher que sofria de hemorragia. O caso dela é emblemático, pois o simples toque dela na roupa de Jesus, já fora o suficiente para que ela ficasse curada. Sabendo que ela jamais poderia tocar em Jesus, pois naquela época, toda mulher menstruada, ou que sofria de algum tipo de corrimento de sangue, era considerada impura. (cf Lv 15,19.25) Impuros ficavam também aqueles que fossem tocados por ela. A fé em Jesus faz com que essa mulher viole a Lei e seja curada. Fica hoje para nós a lição de que a missão de Jesus é libertar as pessoas na vida total: não só libertá-las da doença que as diminui e exclui do convívio social, mas também salvá-las da morte, que as exclui da vida prematuramente. Será que temos a mesma fé desta mulher? Senhor aumenta-nos a fé!
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.