Segunda-feira da Quinta Semana do Tempo Comum. Segunda chuvosa aqui pelas bandas do Araguaia. O céu amanheceu escuro e São Pedro acordou-nos com ruidosos trovões. A semana nos enchendo de esperança, de boas vibrações e realizações na caminhada. Enquanto a chuva caía lá fora, contemplei-a da varanda de meu quintal, rezando e agradecendo a Deus pela vida e pela chuva. Veio-me na mente um dos versículos do Salmo 33: “Senhor, esteja sobre nós o teu amor, assim como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22). Quando colocamos a nossa esperança em Deus, Ele se alegra e nos responde com toda a sua amorosidade, ternura e compaixão.
O tempo litúrgico é comum, mas o dia é dela: Santa Águeda (235-251). Nascida na Catânia, Itália, filha de uma rica família, seu testemunho de fé é um dos mais lindos dos primeiros séculos do cristianismo. Uma Mártir do século III, em que a Igreja celebra a sua memória neste dia 5 de fevereiro, data da sua morte em Catânia aos 16 anos de idade. Ela que foi torturada e barbaramente assassinada, dando-nos uma verdadeira prova de fidelidade a Jesus de Nazaré. Professou a fé com a vida: “Senhor, que me criastes e me protegestes, desde a minha infância; na minha juventude, me fizestes agir com coragem” (Santa Águeda).
O sangue dos Mártires da Caminhada rega o chão dos nossos passos e ilumina as nossas lutas por outro mundo melhor, onde a justiça é a nossa medida. Eles e elas nos ensinam que lutar nunca é em vão. Como sempre nos dizia nosso bispo Pedro: “Mártires são todos aqueles e aquelas que deram a vida pela vida”. Vidas pela vida! Vidas pelo Reino, como o Mártir Jesus! Santa Águeda viveu num período de muita perseguição e morte dos cristãos. A origem do cristianismo foi marcada pelo sangue inocente de muitos e muitas, pessoas que fizeram o seguimento radical de Jesus e, como Ele, deram suas vidas pelo Reino.
Infelizmente este passado de sangue derramado, caiu no esquecimento de muitas lideranças religiosas de nosso tempo. Boa parte da nossa Igreja deixou cair a profecia e vivem mais num ritualismo devocional, voltado para o interior das igrejas, das sacristias, longe da luta sofrida do povo pela sobrevivência. O que dizer destes “padres midiáticos”, prestando um grande desserviço à evangelização de nosso povo, na divulgação de uma fé intimista, elitista e individualizada, que não levam as pessoas a lutarem pela transformação da sociedade injusta, uma vez que esta mesma sociedade é que mantém os privilégios da elite a que estes padres prestam seus serviços. Curioso é que eles sequer fazem referência ao pontificado de Francisco, seus escritos e falas.
Na proposta da liturgia deste Ano B, seguimos na companhia de Marcos. Hoje findamos o capítulo seis de seu Evangelho (Mc 6,53-56). Jesus e seus discípulos atravessam o Mar da Galileia e chegam a Genesaré. O Lago de Genesaré, também conhecido como Mar de Tiberíades, por sua grande extensão, aproximadamente 20 quilômetros, era muito transitado por Jesus que passava por várias cidades costeiras daquela região. As expectativas das pessoas destas cidades eram enormes, sempre que Jesus os visitava. O texto de hoje nos informa que era grande a quantidade de enfermos trazidos até Jesus. Em Genesaré não foi diferente. E Jesus tinha uma atenção especial àquela gente, visto que eram abandonados pelos poderes públicos e também religiosos da época (ovelhas sem pastor).
“Logo que desceram da barca, as pessoas imediatamente reconheceram Jesus”. (Mc 6,54) Jesus era reconhecido pela gente simples. A mística da dor e do sofrimento, os fazem reconhecer em Jesus alguém que os defende e os cura de suas enfermidades. Enquanto as lideranças religiosas o detestavam e queriam matá-lo, o povo via em Jesus o seu salvador. Embora estando, caminhando os mesmos caminhos d’Ele, e sendo ensinados por Ele, também os discípulos demoraram em ver a presença de Deus em Jesus. É como se Ele fosse um fantasma ou apenas um “fazedor de milagres”, provocando neles mais medo que aceitação. Como aos discípulos de Jesus, falta-nos reconhecer Jesus e n’Ele depositar a nossa confiança. Isto quando não fazemos da nossa fé uma prática do “toma lá dá cá”. Amadurecer na fé é reconhecer em Jesus ,o Messias enviado de Deus, que “está conosco todos os dias até o fim dos tempos”. (Mt 28,20) Se Ele é por nós, quem será contra nós?
Francisco Carlos Machado Alves conhecido como Chico Machado, foi da Congregação do Santíssimo Redentor, os Redentorista, da província de São Paulo. Reside em São Felix do Araguaia no Mato Grosso e é agente de Pastoral na Prelazia de São Felix desde 1992. Sua atividade pastoral é junto aos povos indígenas da região: Xavante, Kayabi, Karajá, dentre outros. Mestre em Educação atua na formação continuada de professores Indígenas, nas escolas das respectivas aldeias.