Reflexão litúrgica: quinta-feira, 08/02/2024
5ª Semana do Tempo Comum
Na Liturgia desta quinta-feira, 5ª Semana do Tempo Comum, veremos na 1a Leitura (1Rs 11,4-13), que o pecado de Salomão foi a idolatria provocada por suas mulheres. Isso não quer dizer que a mulher seja fonte de infidelidade a Deus. Devemos lembrar que os casamentos de reis, em geral com filhas de outros monarcas, implicava em verdadeiras alianças econômicas, políticas, ideológicas e religiosas. Tais casamentos, portanto, significavam desvio dos ideais de um povo: deixava-se de lado a ideologia igualitária da religião, para se seguir a ideologia da desigualdade sustentada pela religião de outras nações.
No Evangelho (Mc 7, 24-30 ou Mt 15, 21-28), vemos que a misericórdia de Deus está além-fronteiras. O texto foca que uma mulher pagã muda o ‘modo de pensar’ de Jesus e de seus discípulos. Ela se torna uma testemunha viva de Jesus: “Mulher, grande é tua fé!” Vejamos os obstáculos que ela encontra, mas, acima de tudo, sua perseverança:
1º) A mulher, que representa a comunidade e cada um de nós, tenta iniciar um diálogo com Jesus, que parecia impossível. Jesus se cala: “não lhe respondeu palavra alguma”;
2º) Os discípulos, ao invés de interceder por ela, querem expulsá-la: “Manda embora essa mulher…” A Jesus, agrada-lhe, especialmente, que peçamos pelas outras pessoas. “A necessidade obriga-nos a rogar por nós mesmos, e a caridade fraterna a pedir pelos outros; mas é mais aceitável a Deus a oração recomendada pela caridade do que aquela que é motivada pela necessidade” (São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 14,3);
3º) A mulher prostra-se, persevera e reza: “Senhor, socorre-me!”. Recebe a resposta que não será atendida: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”;
4º) Ela é esculachada e ofendida. Para os judeus, os ‘diferentes’ eram vistos como impuros, cães, sem salvação: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”;
5º) A mulher insiste na oração, pede, nem que sejam as migalhas que caem da mesa. Não pede nada apoiada em seus méritos; mas invoca a misericórdia do Senhor, dizendo: “Tem piedade de mim”. E não diz: Tem piedade de minha filha, mas de mim, porque a dor da filha é a dor da mãe; e, para movê-lo ainda mais à compaixão, conta-lhe a sua dor, por isso continua: “Minha filha é cruelmente atormentada pelo demônio”;
6º) Pela humildade e perseverança da mulher, Jesus ficou comovido – a mulher recebe a graça que busca, o milagre acontece: “seja feito como tu queres, tua filha ficou curada”.
Santo Agostinho conta-nos, nas suas Confissões, como a sua mãe, Santa Mônica, santamente preocupada com a conversão do seu filho, não cessava de chorar e de rogar a Deus por ele; e, também não deixava de pedir a pessoas boas e sábias que falassem com ele para que abandonasse os seus erros. Certa vez, um bispo disse-lhe essas palavras de consolo: “Vai em paz, mulher! Pois é impossível que se perca o filho de tantas lágrimas”. Mais tarde, o próprio Santo Agostinho dirá: “Se eu não pereci no erro, foi devido às lágrimas cotidianas cheias de fé de minha mãe” (Confissões, 3,12,21).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.
Padre Leomar Antonio Montagna é presbítero da Arquidiocese de Maringá, Paraná. Doutorando em Teologia e mestrado em Filosofia, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus de Curitiba. Foi professor de Teologia na Faculdade Missioneira do Paraná – FAMIPAR – Cascavel, do Curso de Filosofia da PUCPR – Câmpus Maringá. Atualmente é Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Sarandi PR.