Mais um domingo da nossa pandemia. Aparentemente, um dia não muito diferente dos demais, já que todos eles, com a mesma rotina. A diferença para os cristãos é que o domingo é o DIA DO SENHOR. Dia que damos uma parada estratégica para, de alguma maneira, estar com a comunidade e rezar. “Dia do Senhor” é um termo que advém da palavra hebraica Sabbath, que quer dizer DESCANSO. Era no sábado até a RESSURREIÇÃO DE JESUS, em que o Sabbath era comemorado como o dia de descanso de Deus, após ter terminado a Criação. Este dia marca a ALIANÇA DE DEUS com o seu povo. Hoje, comemoramos o Dia do Senhor no domingo, pois assim estamos também celebrando/comemorando a Ressurreição de Jesus entre nós.
Os dias seguem tristes. Foi uma semana difícil com a morte de muitas pessoas, dentre elas algumas lideranças e jovens INDÍGENAS. Como não se abater numa situação como esta? Convivi de perto com todos aqueles indígenas que se foram. Pessoas que muito me ensinaram e que já estão fazendo falta. Outras poderão seguir o mesmo caminho, pois para muitos dentre nós, VIDAS INDÍGENAS, NÃO IMPORTAM! Quanto mais morrerem, melhor, este é o raciocínio dos ECONOMICIDAS de plantão. “Que país é este?” já cantava Cazuza anos atrás.
O medo nos rodeia por todos os lados. Seja pelo vírus que se aproxima, cada vez mais, seja pelas ameaças infundadas dos genocidas da política necrófila. Somos dominados por este clima que passou a existir entre nós. Um país rico por natureza, mas entregue nas mãos de uma das piores pessoas dentre os 210 milhões de habitantes que compõe esta grande nação. Um país que na concepção de Ariano Suassuna, “muito difícil de se vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos PRIVILEGIADOS e o país dos DESPOSSUÍDOS.
Mas é domingo! E neste dia, a liturgia nos apresenta um texto que vem de encontro ao contexto que estamos vivenciando: o MEDO. Jesus, ainda orientando e instruindo os seus seguidores, diz-nos por três vezes: “NÃO TENHAM MEDO!” ELE faz questão de avisar aos seus seguidores que a tarefa é árdua e difícil, mas que eles não deverão se deixar levar pelo medo. Primeiro porque ELE vai estar junto com os seus. É presença certa conosco. Segundo, porque as forças da morte não prevalecerão sobre aqueles que perseverarem. Ademais, o medo inibe a ação. Quem está com medo ficará retraído e dificilmente se colocará na linha de frente no enfrentamento.
“O problema é ter medo do medo”, já nos diz o bispo Pedro. Quem se coloca na perspectiva de Jesus, e quer fazer da sua vida um seguimento fiel a ELE, sabe que encontrará resistência e perseguições. Não temais medo, assegura-nos Jesus. Foi assim com ELE e será assim com todos aqueles que se filiarem no projeto de Jesus. A perseguição é inerente ao discipulado. Pequenas coisas que fazem a diferença. Estava eu transitando pela cidade, com uma camiseta vermelha com dizeres sobre a causa indígena, quando um desavisado se dirigiu a mim afirmando: “Os dias de vocês estão contados!” Fui obrigado a concordar com ele. De fato os nossos dias estão contados. De todos nós. Assim que nascemos já caminhamos rumo à morte. Cada dia é um dia a menos.
Penso que o infeliz mexeu com a pessoa errada. Ter medo diante de tais situações é dar mostras de que não estamos convictos daquilo que acreditamos. Evidente que todo o contexto da pandemia deixa-nos FRAGILIZADOS e INSEGUROS, mas não abatidos no campo de batalha. Um dos meus pensadores favoritos, Aristóteles, sabiamente já nos afirmava que “A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”. Assim, é necessário revestir-se desta coragem, para que não sejamos dominados pelo espírito do medo. Sabendo também que esta Coragem da qual falamos é aquela que nos faz ter resistência ao medo, para dominá-lo, e não a ausência do medo em si.
Recebi um telefonema de um professor indígena esta semana, manifestando a sua preocupação, diante da morte de várias pessoas nas aldeias. Dizia-me que ele era um GUERREIRO de seu povo, mas que estava com muito medo da doença dos Waradzu (brancos). Que situação deprimente! “Não tenhais medo dos homens”, esse é o recado dado por Jesus. Revistamos da coragem para que não sejamos dominados pelo medo. Nunca nos esqueçamos de que Deus nos dá sempre mostras de que caminha conosco, como está escrito no livro do Deuteronômio: “ Sejam fortes e corajosos! Não tenham medo, nem fiquem apavorados, porque Javé seu Deus é quem vai com você. Ele não o deixará, e jamais o abandonará” (Dt 31, 6)
