Nem tudo está perdido! Há sinais visíveis de esperança entre nós. No cenário devastador de uma grande pandemia, vemos renascer gestos concretos de alegria pelas múltiplas vitórias conquistadas. Não há alegria maior, que aquela manifestada pelos profissionais de saúde, quando vêem um paciente, recuperar a sua saúde, e voltar para a sua casa, para os braços dos seus. Uma festa, de um lado e de outro. De um lado a família, recebendo de volta um ente querido. De outro, a equipe dos profissionais de saúde, por alcançar mais uma vitória. Que alegria contagiante!
Neste contexto, fico rememorando a cena da mãe, que estava grávida do primeiro filho, contraiu o vírus e teve o seu bebe prematuramente. Ambos ficaram internados, cada qual num ambiente diferenciado. O bebe, sem ser positivo, logo se recuperou do parto prematuro, e voltou para casa. Sua mãe recebeu alta, 73 dias depois. A alegria daquela mãe, ao reencontrar-se com o seu bebe, que até então não o conhecia. Mãe e filho se contemplando por horas. É como se a criança soubesse, que estava diante da pessoa mais importante da sua vida. Um misto de surpresa e contentamento. A mãe esteve à beira da morte, mas trazia dentro de si a esperança de reencontrar o seu bem maior. Foi isso que a fez nascer de novo, disse.
Sinais de esperança visíveis. O existir, por si só já é um milagre. A vida é o dom maior que recebemos de Deus. Por isso precisamos valorizar cada dia vivido. Cada momento que se passa, é a concretização deste milagre, com que Deus nos presenteia. Viver é muito mais do que passar pela vida! Viver é dar o melhor que cada um pode dar, fazendo a diferença, com as suas próprias digitais. Não podemos passar pela vida como meros viventes, mas deixar a nossa marca na história. Cada um de nós é único. Por isso precisamos deixar registrada, essa nossa unicidade.
Sinais de esperança que vão brotando aqui e ali. Basta ter um pouquinho apenas de sensibilidade, para poder captar estes momentos mágicos, que também nos enche de esperança. Como aquela paciente que fora internada, e ninguém da sua família a procurou, ou quis saber notícias suas. Ela se sentiu abandonada pelos seus irmãos, filhos e netos. Uma das enfermeiras a adotou como sua mãe. Esteve o tempo todo lado a lado, não só para o tratamento, mas também como suporte de carinho. Todos os dias, mentia para a paciente, dizendo que alguém da família, tinha estado ali a procura de notícias e que estavam preocupados. “Se não fosse esta filha que ganhei, não teria me recuperado”, disse ela na saída do hospital, mesmo sem ter ninguém da família que a levasse para casa. A própria enfermeira a levou.
Aos poucos vamos conhecendo as pessoas e elas vão se nos dando a conhecer. Se bem que o filosofo Tales de Mileto, que viveu na Grécia Antiga, entre os anos de 624 — 546 a.C., dizia que a coisa mais difícil era conhecer-se a si mesmo. Ou seja, nós achamos que conhecemos as pessoas, mas, na verdade, não conhecemos nem a nós mesmos. Achamos que nos conhecemos. Somos uma incógnita para nós mesmos. Temos reações que até nos surpreende, às vezes. Basta ver a reação de algumas pessoas frente as mais de 80 mil mortes no Brasil. Alguns não são capazes de manifestar nenhum tipo de sentimento, de afeto, para com a dor daqueles que perderam seus familiares. Estes não são sinais de esperança, mas sinais de que o inferno começa aqui, na mesma perspectiva satreana que afirmava: “O inferno são os outros” (Jean-Paul Sartre.)
Já na perspectiva cristã, o outro para mim, é a revelação do próprio Deus, pois cada um deles, trás dentro de si, o sopro divino. O outro me revela Deus e me faz ver que também, trago o espírito da criação dentro de mim. Dizia-me esta semana, o cacique Xavante, Damião Paridzané: “Eu queria dar uma flechada no coração do vírus, mas eu não sei aonde ele está.” Porque o que não conseguimos enxergar, fica difícil de se vivenciar. Os sinais de esperança estão presentes entre nós, cada vez que sou capaz de pensar e viver, mais na perspectiva do outro do que na minha própria. Os sinais de esperança assim, se transformam nos sinas do REINO DE DEUS que vai acontecendo entre nós de forma muito concreta. Sinal de esperança que renasce na fala de Paulo nesta narrativa: “Que o Deus da esperança encha vocês de completa alegria e paz na fé, para que vocês transbordem de esperança, pela força do Espírito Santo.” (Rm 15, 13)