Evangelho Mt 22,1-14

Talvez esta outra parábola de Jesus sirva para nós: há cristãos que estiveram na catequese quando crianças, fizeram a primeira eucaristia e receberam o sacramento da Crisma. Com esses três sacramentos, considerados pela Igreja como os sacramentos da iniciação, muitos acharam que estavam com os “documentos” em dia e que só iriam precisar deles caso se casassem no religioso. Pensam que estão dentro do Reino mas não estão. Para pertencer ao Reino de Deus, temos de levar adiante a força do Espírito que recebemos no batismo, depois confirmado na Crisma.

Jesus está em Jerusalém e, mais exatamente, no templo, centro do poder político, econômico e ideológico daquele tempo. É aí que ele conta três parábolas. Trata-se de parábolas de confronto e de conflito entre Jesus, o mestre da justiça, e os promotores da sociedade injusta.

Jesus contou a parábola do casamento do filho do rei. É fácil perceber que o rei é Deus e que o filho do Rei é Jesus. O casamento recorda a aliança. Participar dele é comprometer-se com a prática da justiça. Os convidados que recusam o convite são as lideranças do povo (chefes dos sacerdotes e anciãos do povo). Os empregados são os profetas ou mensageiros que ao longo da caminhada do povo de Deus, desmascaram as injustiças dos líderes.

Parece estranho que esse rei convide, em primeiro lugar, os que detêm o poder econômico e político (os chefes dos sacerdotes e anciãos formavam a maioria no Sinédrio). É que as lideranças são as primeiras responsáveis por uma sociedade justa e fraterna (ao menos deveriam ser…).

O rei preparou a festa de casamento do filho. E mandou os empregados chamar os convidados para  a festa, mas eles não quiseram ouvir. O rei mandou outros empregados dizendo: “Digam aos convidados: já preparei o banquete, os bois e os animais cevados já foram abatidos e tudo está pronto. Venham para a festa”.

Esta parábola se encontra também em Lc (14, 16-24) com algumas diferenças como por exemplo, a delicadeza com que os convidados se desculpam, coisa muito própria das elites: sabem tapear com fineza e manipular as coisas a seu gosto. Os convidados segundo a parábola de Mateus são grosseiros e violentos, pois desprezam em bloco o convite: um foi para o campo, outro para os negócios, e outros agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. E aqui chegamos no nó da questão.

O banquete que Deus oferece é a possibilidade de uma sociedade baseada na justiça do Reino, tema fundamental do Evangelho de Mateus. Em vez de se preocupar com a justiça do Reino, que é vida para todos, as elites se ocupam com suas posses e lucros desonestos. De fato, no tempo de Jesus os anciãos eram latifundiários e grandes comerciantes. Mas não é só isso que eles fazem, pois chegam a torturar e matar os que denunciam sua injustiças.

A parábola é muito severa na sentença: “indignado, o rei mandou suas tropas, que mataram aqueles assassinos e puseram fogo na cidade deles” (v. 7). As elites se excluíram do Reino de Deus e sua justiça.