A fé que sustenta a Igreja

 

O Evangelho deste final de semana (Mt 16,13-20) possui uma temática muito importante para todo e qualquer cristão: a relação entre Cristo e a Igreja. Para nós católicos, ele ainda é carregado de um significado mais profundo, pois nos ajuda a compreender o ministério petrino. No entanto, mais importante do que fundamentar a Doutrina da Igreja acerca do Papa, o Evangelho que nos é proposto nos ajuda a entender a íntima relação entre a Igreja e a fé no Cristo Jesus. 

O Evangelho de Mateus é bastante provocativo. Quem é Jesus para nós? Muitos anos se passaram desde o episódio narrado pela Sagrada Escritura e nós continuamos tentados a perdermo-nos em falsas ideias sobre messianismo de Jesus. Muitos ainda buscam um messias triunfalista numa Igreja apoteótica, numa Igreja politizada ou até mesmo numa Igreja engessada numa dura doutrina. Aqui, cabe recordar uma afirmação bastante significativa do Papa Emérito Bento XVI na Encíclica Deus Caritas Est: “No início do ser cristão não há uma decisão ética, ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” Jesus Cristo não é uma ideia, uma filosofia ou uma doutrina. Antes de tudo, Jesus Cristo é uma pessoa. É preciso superar as caricaturas que pintamos de Deus e aproximarmo-nos do Senhor com o coração livre e sincero para que Ele se revele a nós. (v. 17) Por isso, Jesus recomenda aos discípulos que não conte a ninguém que Ele era. (v. 20)

O encontro com Jesus e a fé no Cristo é uma experiência individual. Isso não significa que a experiência de fé seja algo intimista. Pelo contrário, ao professarmos a fé no Cristo nós nos tornamos membros duma grande comunidade de fé. Essa fé em Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, é a rocha firme sobre qual se edifica da Igreja. (v. 18) Não é por acaso que a Tradição reconhecesse Pedro como o grande símbolo do Colégio Apostólico. A resposta de Pedro sintetiza toda a identidade e missão de Jesus. “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo”. (v. 16) A palavra Messias, em hebraico משיח (Mashiah) e em grego Χριστός (Christós), significa Ungido. Jesus é o Ungido de Deus, isto é, a presença libertadora do Deus de Israel na vida do seu povo. No entanto, o messianismo de Jesus é diferente. O povo estava preso às velhas compreensões messiânicas. (v. 14) O Cristo Jesus não é um líder político, social ou religioso, como muitos esperavam. Ele é o próprio Filho de Deus. O messianismo de Jesus não se dará através de um sistema político, de lutas armadas ou de uma nova doutrina, mas por meio da adesão livre e pessoal ao seu projeto de vida.