Hoje, na minha oração matinal, voltei ao Êxodo e invoquei a figura de Moisés. Tudo por causa da sua experiência de aproximação que fez com o Deus que ouviu o clamor de seu povo e desceu par o socorrer. Certamente, a grande preocupação de Moisés foi a de como ele deveria dizer ao povo quem era aquele Deus afinal. E o Senhor, simplesmente disse a Moises: “Eu SOU aquele que SOU! Você falará assim aos filhos de Israel: EU SOU me enviou até vocês”, (Ex 3, 14).
Também Jesus teve preocupação em saber como as pessoas estavam vendo-o, quem ELE era para os seus seguidores e também para as demais pessoas. Num dado momento de sua atuação na Palestina, Ele se vira para os seus discípulos e pergunta-lhes: “Quem dizem os homens que eu sou? Eles responderam: João Batista; outros, Elias; outros, ainda, um dos profetas. E vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou? Pedro respondeu: Tu és o Cristo. Então, proibiu-os severamente de falar a alguém a seu respeito (Mc 8,27-30).
Nesta profusão de notícias desencontradas e tantas contradições entre nós, com escândalos, envolvendo as pessoas das igrejas, esta é uma pergunta que temos necessidade de também responder para os dias de hoje: Afinal, quem é Deus para nós? E quem é Jesus neste plano maior de Deus para a humanidade? O Deus que acreditamos é o mesmo que se revelou a Moises de forma tão clara e direta? Trata-se do mesmo Deus que presente em Jesus de Nazaré? Que Deus é este afinal?
Vivemos em tempos de aparências, onde o mais importante não é o que se é, de fato, mas as aparências dizem mais de nós. O SER deixou de lado a sua importância e foi substituído pelo TER. O ter diz quem eu sou. Estas aparências dizem mais de nós que aquilo que somos. Também nas nossas igrejas houve uma inversão de valores. As vestimentas, as rendas, as casulas, os adornos, tomaram lugar da simplicidade própria do Evangelho. Então, se torna comum um determinado templo, ostentar um sino que custa 6 milhões de reais, pois o que está em jogo não é a simplicidade, mas a grandiosidade. As pequenas comunidades perdem toda a sua equivalência perante as multidões anônimas, atraídas para os grandes “centros da fé.”
Vivemos tempos difíceis que confundem ainda mais as pessoas simples. O que dizer daquelas pessoas pobres, que às vezes retiram da sua vida frugal e pacata o seu pobre dinheirinho para fazer a doação, acreditando que estará, com este gesto, contribuindo para a evangelização, e ajudando na construção de um enorme e suntuoso santuário. Varias destas pessoas nos procuram cabisbaixas se perguntando: e agora, o que vou fazer depois de tudo o que ouvi? Em quem devo acreditar?
No mesmo instante em que também somos surpreendidos pelas graves denúncias envolvendo uma deputada federal pelo Rio de Janeiro, cantora gospel de afinado discurso moralista, que está sendo acusada de mandar assassinar o seu marido. A mesma deputada, que foi a 5ª maior votação do estado, assumindo em campanha ser radicalmente contra o aborto, a homossexualidade e defensora intransigente da vida. Uma mulher de dentro da igreja a qual fazia parte. Fico também com a pergunta da senhorinha: em quem acreditar agora?
Somos cada vez mais desafiados a responder para nós mesmos. Ser aquilo que se é. Nem mais, nem menos. Deus sabe quem somos nós. Não é a ELE que haveremos de responder, mas para nós mesmos. Quem sou eu nesta história toda? Onde estão fincados os valores e princípios que acredito? O que dizem as pessoas que eu sou? Como elas me vêem. Neste sentido, não basta ser quem sou, mas preciso também parecer quem sou. Aquilo que sou tem que transparecer para alem da minha vida.
Ser o que se é! Eis o desafio diário que precisamos encarnar em nossas vidas e trazer para dentro de nós. Talvez pudéssemos fazer como o bispo Pedro que foi um pouco mais além quando disse num de seus poemas: “Ser o que se é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama. Até as últimas consequências.” Quem sabe não seja também este o desafio de uma igreja que queira se aproximar de sua essência e inspirar-se na pessoa de Jesus de Nazaré, sendo aquilo que ELE foi, na sua fidelidade radical às coisas do Pai.