Namastê

O dia amanheceu bastante nublado. Sinal de chuva? Que nada! É fumaça mesmo, sobre as nossas cabeças. Dias difíceis para se respirar. Fico imaginando aquelas pessoas mais idosas, que apresentam problemas respiratórios. Estão padecendo nestes dias. Ainda estamos em setembro, e as chuvas só chegam por aqui mês que vem. Um amigo me disse: “ou morreremos pela covid-19, ou pela falta de ar para respirar.” Triste escolha.

Enquanto rezava hoje pela manhã, me veio uma saudação dita por um dos meus amigos nas redes digitais. Namastê! Saudação que tem se tornado muito comum entre as pessoas que possuem certa afinidade. Trata-se de uma saudação tradicional indiana de respeito e reverência, que quer dizer “entrega”, ou “reverência” ao outro. Nós cristãos, emprestamos esta saudação e demos uma nova significância: “O Deus que há em mim, saúda o Deus que há em você.” Muito legal esta nova roupagem e creio que os indianos não ficarão chateados conosco, por causa desta apropriação.

Somos movidos pelo amor. Pelo menos deveríamos ser. Este mesmo amor que dá sentido às nossas vidas e a nossa ação no mundo. Quando não somos assim, deixamos que o desamor acampe dentro de nós e faça morada permanente. Nos tornamos azedos e de mal com a vida, nossa e dos outros. Quem não age pelo espírito do amor, não consegue desenvolver empatia por quem quer que seja. Além da falta de empática, desenvolvemos dentro de nós a intolerância que não é capaz de aceitar o outro com as suas especificidades. Acabamos nos tornando amargos e intransigentes, com tudo e com todos.

Refletindo sobre a presença do amor em nós, me veio à mente um dos poemas do poeta português Luís de Camões (1524-1580). Dizia ele: “Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer.” Uma bela definição desta palavra mágica, formada por duas consoantes e duas vogais. Não é atoa que Camões se tornou um dos maiores representantes da literatura mundial, sobretudo do Classicismo, que foi um movimento artístico cultural que ocorreu durante o período do Renascimento, a partir do século XV, na Europa.

Nosso eterno bispo Pedro, costumava repetir com frequência uma das frases que mais gostava: “O contrário da fé não é a dúvida. O contrário da fé é o medo.” Alguns psiquiatras, dentre eles, o suíço Carl Gustav Jung, dizem que o contrário do amor não é o ódio, como muitos de nós pensamos, mas o medo. Uma vez que, com medo, não somos capazes de tomar decisões, deixamos de ser criativos e, desta forma, não seremos felizes. Se deixarmos que o medo adentre o nosso coração, deixamos também de amar. Desta maneira, vamos qualificando os nossos medos: medo do fracasso; medo da rejeição; medo da perda; medo das possíveis mudanças; medo de morrer; medo de não sermos aceitos do jeito que somos.

O teólogo e filósofo Agostinho, bispo de Hipona, que nasceu em 354 d.C. tinha uma de suas frases que se tornou célebre. Dizia ele: “Ame e faça o que quiseres.” Nesta compreensão de Agostinho, quando somos movidos pelas regras do amor, tudo é possível de se fazer, pois os nossos feitos serão também regidos pelo amor. Nos meus tempos de seminário, ainda garotão, no final da década de 60, nosso professor de latim, José Braga, nos dizia sempre: “Amor vincit omina” – “O amor vence tudo.”

Namastê! O Ser Supremo que há em mim, saúda a divindade, o onipotente que há em você. Seja qual for a compreensão que você tem deste Ser Superior. Mesmo sendo este Ser, uma entidade de matriz africana. Mesmo que seja um ancestral que comanda o ser e o viver dos povos originários. O importante é que ELE habita em mim e em você. O Ser, em quem acredito e venero, saúda o Ser que a sua fé permite compreendê-lo do seu jeito. Nada de predomínio de um sobre o outro. Finalizo com este texto fabuloso escrito por Paulo: “O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (1 Cor 13, 4-7)