A melhor comunidade

É domingo novamente. O domingo sempre é um dia especial. Para os cristãos, é o Dia do Senhor. É o dia em que nos encontramos em comunidade para conviver mais de perto e celebrar. Um dia especial de oração. Agradecer pelas dádivas de Deus a nós e também pedir, suplicar para que os dias sejam melhores para nós e os nossos. Dia de nos encontrarmos com a Palavra e, em comunidade, decifrar os mistérios que a envolve. É na comunidade que temos a grande chance de fazer uma interpretação mais fiel aos anseios de Deus para a nossa caminhada.

Neste domingo (27), por exemplo, a narrativa da comunidade de Mateus nos trás Jesus que está frente a frente com os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo. Ali, além de os confrontar, Jesus lhes diz algo que, certamente os incomodou deveras. Aliás, nós também nos sentimos incomodados com o que o Mestre disse ali naquele contexto: “Eu garanto a vocês: os cobradores de impostos e as prostitutas vão entrar antes de vocês no Reino do Céu. (Mt 21, 31). Jesus provocou legal! Fico daqui só imaginando a cara de poucos amigos daquelas “autoridades”, que se julgavam os maiorais, as “pessoas de bem” daquela época, diante desta fala instigante de Jesus.

Este é um alerta para todos nós que participamos da comunidade. Aqueles de nós que se julgam os mais perfeitos que os demais, bons observadores da Palavra de Deus, os papa hóstias regularmente, serão antecipados no Reino, por aqueles que julgamos e os condenamos, dizendo que não estão de acordo com o projeto de Deus, como os maiores violadores das leis, pecadores públicos. O que Jesus exige, na verdade, é que saibamos colocar em prática a vontade do Pai que ama toda pessoa e, em especial os mais necessitados, sobretudo os desprezados, marginalizados. Jesus nos ensina a reconhecer a justiça das pessoas que não têm boa fama, mas praticam a justiça e são solidários à causa dos pequenos.

O Frei Franciscano Leonardo Boff, publicou anos atrás, pela Editora Vozes/Petrópolis, um livro que já se encontra na sua 12ª edição. “Santíssima Trindade é a melhor comunidade.” Nesta sua obra, Boff reproduz para nós, com uma linguagem bastante simples e acessível, discorrendo sobre a Santíssima Trindade, partindo da comunhão destas três pessoas: PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, se atendo às características de cada uma delas. E o interessante é que este autor, critica as concepções trinitárias que partem ora de uma pessoa, ora de outra, prejudicando a perfeita harmonia trinitária delas. Uma obra que faz parte do meu pequeno acervo pessoal a qual, desde já, recomendo a sua leitura. Imperdível!

Nosso bispo Pedro tinha uma concepção que também acho muito interessante. Ele compreendia que a Família de Nazaré, JESUS, MARIA e JOSÉ, era a melhor comunidade. Cada um deles, a seu modo, desenvolvia as ações que ia construindo o Reino de Deus ali na Palestina. Como ele Pedro costumava dizer, foi na carpintaria de José, por exemplo, que Jesus descobriu que fazia parte de uma classe social, marginalizada e explorada ao ver José com o seu trabalho. Ali, Jesus fez definitivamente a opção pela classe dos empobrecidos, sendo a voz dos sem voz e sem vez, diante de uma sociedade marcada pela desigualdade social.

Numa das nossas igrejas aqui da Prelazia de São Félix do Araguaia, há um mural que retrata um pouco esta comunidade. Na igreja de São José, Cerezo Barredo, interpretou fielmente o sonho de Pedro, colocando a Família de Nazaré dentro de uma Comunidade Eclesial de Base (CEB). Neste mural, José é um simples lavrador com uma enxada às costas, a comadre de Nazaré, com uma trouxa de roupa na cabeça e o pequeno, Jesus usando uma camiseta surrada com os letreiros da CEB. Não é atoa que esta comunidade era a menina dos olhos de Pedro e também da Tia Irene.

A Igreja da Prelazia sempre se constituiu como uma rede de comunidades. Pedro nunca teve a intenção de institucionalizar esta igreja, burocratizando-a em forma de paróquias, nos moldes de uma igreja européia. Ao contrario, as comunidades tinham autonomia de caminhar dentro da proposta de uma igreja martirial, cuja espiritualidade se dava na luta do dia a dia. É na comunidade que aprendemos a lutar. Quando nos reunimos para realizar as atividades da comunidade, vamos entrando em comunhão com a luta de cada um daqueles que ali estão. Comunidades sem a presença do chefe dos sacerdotes e dos anciãos do povo, que ditam as ordens para os outros seguirem, enquanto eles permanecem acomodados com os seus privilégios, distantes da realidade do povo sofrido.