Dia 15 de outubro. Mais um dia especial nas nossas vidas. Dia de uma das santas mais queridas da história da igreja. Teresa D’Ávila. Também conhecida como Santa Teresa de Jesus. Nasceu no dia 28 de março de 1515, na província de Ávila, Espanha. Uma mulher mística, contemplativa do século XVI, que viveu num dos momentos mais conturbados da Igreja Católica, com a Reforma Protestante. Ela foi uma das fundadoras da Ordem dos Carmelitas Descalços, juntamente com o também místico, São João da Cruz. É dela um dos mais belos poemas que conhecemos: “Nada te perturbe. Nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança; Quem a Deus tem, nada lhe falta: Só Deus basta.”
Santa Teresa D’Ávila muito me ajudou na construção da minha própria espiritualidade. Nunca fui dado à vida contemplativa, como ela foi, mas os seus escritos foram moldando a minha espiritualidade. Sempre fui mais da ação no meio do turbilhão. Entretanto, Teresa me acudia nos momentos de maior dificuldade, pois ela me revelava a face de um Deus muito próximo e atuante na história. Em uma de suas obras primas “O Castelo Interior”, que se tornou um livro de cabeceira para mim, encontrei refúgio e sustentação, para dar conta de muitas das minhas práticas, nos embates dos movimentos sociais, por exemplo. A minha inquietude se aquietava, na medida que recorria a esta grande doutora da História da Igreja.
Hoje também é o dia do professor, da professora. Particularmente não gosto da palavra professor/a. Depois que conhecemos Paulo Freire, fica difícil falar do profissional “professor”. Gosto mais da palavra “Educador”. Ela diz mais da nossa profissão, da nossa missão (vocação) frente ao conhecimento e ao campo do saber. Enquanto o primeiro pode ser aquele que acha que sabe tudo, o segundo está em processo, e em permanente aprendizagem. Aprende sempre, juntamente com os alunos com os quais trabalha, e não se vê como um mero transmissor de conhecimentos (conteúdos) prontos e acabados. O educador, ao mesmo tempo em que ensina, aprende junto com. Ensina e aprende por amor, afinal, “educar é um ato de amor”, já nos dizia Paulo Freire. Processo este feito na amorosidade, portanto.
Nossa educação vai muito mal. Não por causa dos educadores e educadoras. Nossa educação vai mal, porque estes profissionais não são devidamente valorizados no brilhante trabalho/missão/vocação, que realizam nas escolas por ai afora. Não são valorizados a começar pelo órgão máximo, Ministério da Educação e Cultura (MEC), que deveria ser aquele que cuidasse melhor das escolas, da educação como um todo. Não são valorizados, porque o salário de um profissional da educação hoje no país é um dos mais baixos. Lembrando que todos os demais profissionais passam necessariamente pelas mãos dos educadores, das educadoras. Uma nação que não valoriza os seus profissionais da educação não pode ser uma nação séria e nem merece o devido respeito. Mais do que um dia a se comemorar, trata-se de um dia de luta.
Como o meu trabalho é fazer a formação continuada dos profissionais da educação indígenas, nas escolas das aldeias, esta foi uma das discussões mais calorosas entre nós, quando fomos estudar Paulo Freire. Num dado momento de uma destas formações, um educador indígena se dirige a mim com as seguintes palavras: “Chicão, você sabe muito. Eu queria ser assim também na minha escola.” Evidente que esta foi a porta de entrada para aprofundarmos o estudo sobre a visão de nosso maior pedagogo, quando ele afirma: “Não existe saber mais ou saber menos. Existem sim, saberes diferentes.”
Eles ficaram felizes da vida quando eu disse a eles que os conhecimentos/saberes são diferentes. Eu poderia saber muitas coisas, mas que eles também sabem muitas outras coisas que eu não sei e nem domino tão bem como eles. Citei o exemplo, de como eles dominam as coisas relacionadas à natureza e a mãe terra. Muitos destes conhecimentos e saberes que eles dominam muito bem, poucos de nós, não indígenas, conhecemos como eles conhecem. A forma de relacionar com o meio em que vivem e a tática, por exemplo, de preservação da mãe natureza da forma como ela é, é algo tipicamente dos povos indígenas, e que nós, não indígenas, precisamos muito de aprender, até como forma de defesa da nossa própria sobrevivência.
Viva Santa Teresa de Jesus! Viva os profissionais da educação de nosso país! Venha em nosso socorro Santa Teresa, e faça de todos e cada um de nós, resistentes, combativos e teimosos, frente a uma sociedade estúpida e idiotizada, que nega os saberes originários e o conhecimento científico.