Na Liturgia deste Domingo, XXIX do Tempo Comum, na 1a Leitura (Is 45, 1.4-6), o profeta Isaías nos fala que o rei pagão, Ciro, não conhecia a Deus e, mesmo assim, fez de Deus um instrumento de libertação para o seu povo. Ciro, Rei da Pérsia (557 a 529 a.C.), permitiu aos judeus voltarem à própria terra e começarem a reconstruir o templo e a cidade de Jerusalém. O profeta chama o rei pagão de “ungido do Senhor”. Ele vê, no acontecimento, a mão de Deus agindo na história do seu povo.
Deus pode se servir de qualquer pessoa para realizar seus projetos. Pode se servir de dirigentes, até sem religião, desde que sejam competentes, honestos e saibam promover o bem comum e a paz. Deus não está confinado a um templo, nem a uma instituição, nem a determinada estrutura de religião: o lugar eminente do seu agir é a história e a vida.
Na 2ª Leitura (1 Ts 1, 1-5b), o apóstolo Paulo agradece e elogia a fé, a esperança e a caridade dos fiéis da Comunidade de Tessalônica. A vida cristã nasce do compromisso de fé em Jesus Cristo. A esperança é o dinamismo que nasce do amor, alimentando a vida cristã, voltada para o futuro do Reino de Deus, isto é, para a realização plena da vida. A caridade é o testemunho de vida, por meio da partilha dos bens e da fraternidade que concretizam o Reino de Deus no dia a dia da história.
No Evangelho (Mateus 22, 15-21), os grupos religiosos, favoráveis ao poder romano, tentam pegar Jesus em uma armadilha, fazem uma pergunta capciosa: “É permitido ou não pagar o imposto a César?” Se Jesus dissesse sim, apareceria como colaborador da dominação romana. Se dissesse não, seria denunciado às autoridades romanas como subversivo. Jesus não pode esperar outra coisa deles senão ações que, apesar de maquiladas com verniz de religião, são diabólicas. Estes grupos religiosos são os piores inimigos de Jesus, sustentam a sociedade injusta, são dominadores do povo e acreditam que é possível ser fiel a Deus conservando-se ligados ao sistema injusto e que oprime. Mas, a armadilha preparada para Jesus se volta contra aqueles que a prepararam: a resposta Dele vai além, buscando que se devolva a Deus o que lhe foi tirado. Tal resposta reivindica os direitos de Deus sobre o povo que lhe pertence e sobre a terra a este cedida.
Jesus pede uma moeda e pergunta: “De quem é essa imagem? De César… Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Para Jesus, o imposto é justo quando reverte em benefício do bem comum. Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece e fortalece tanto a dominação interna como a estrangeira. Um povo amadurecido e de consciência democrática não reconhece poderes abusivos nem se sente obrigado a prestar-lhes obediência.
O Cristão tem obrigações com a sociedade em que vive. Nenhum país funciona se a população não der a César o que é de César… O cristão autêntico deverá ser um membro ativo do seu país. Deverá não só pagar os impostos, respeitar as leis justas e evitar os esquemas de corrupção, mas, também, procurar participar da vida de seu país em todos os seus aspectos e lutar por uma sociedade mais justa e mais fraterna.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), nos fala do ‘altar do leigo’, isto é, a missão do leigo na Igreja e na sociedade:
A imensa maioria do povo de Deus é constituída por leigos. Ao seu serviço, está uma minoria: os ministros ordenados. Cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos na Igreja. Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicato, dotado de um arreigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé. Mas, a tomada de consciência desta responsabilidade laical que nasce do Batismo e da Confirmação não se manifesta de igual modo em toda a parte; nalguns casos, porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes, noutros por não encontrar espaço nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e agir por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões. Apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, este compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade. A formação dos leigos… constitue um importante desafio pastoral (EG, 102).
Enfim, a Bíblia fala e condena os que sonegam o tributo do templo. Como vivemos em relação ao dever de oferecer o nosso dízimo? Será que estamos, de fato, dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus?