Já estamos em meados de outubro. O mês por excelência, considerado pela Igreja Católica com o mês missionário. É assim desde 1972, tendo este mês especificamente dedicado às missões. Neste domingo (18), especialmente celebramos o “Dia Mundial das Missões”, que foi instituído pelo Papa Pio XI no ano de 1926. A temática a ser refletida neste dia é: “A vida é Missão: Eis-me aqui, envia-me” (Is 6, 9).
Sem dúvida, um tema que nos toca a todos e todas. Considerar a vida como missão, é o grande desafio do cristão. Significa que, desde o nosso nascimento, somos incorporados ao Projeto de Deus e dele fazemos parte, mesmo que não tenhamos esta compreensão e consciência. Entendemos esta dimensão quando olhamos para trás e vemos o profeta Jeremias, por volta do ano 650 a.C, nos dizer muito claramente: “Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações”. (Jer 1, 5) Compromisso que Deus estabelece conosco muito antes do que imaginávamos.
Ser igreja missionária num contexto de pós-pandemia, sem dúvida, será o nosso grande desafio. Juntando a esta dimensão, temos pela frente o desafio de ser uma IGREJA EM SAÍDA, que o Papa Francisco tem repetido insistentemente. Neste sentido, a primeira mudança que precisamos estabelecer em nós, é a de que não devemos ter uma igreja para frequentar/participar, mas o de ser igreja onde se está. Assim, como uma Igreja em saída, temos a difícil missão de ser, transmissores da boa nova do amor e da misericórdia de Deus a todos, em especial aos pobres e pequenos, os últimos. Revestidos com a roupagem da justiça, devemos também levar a esperança a um mundo desesperançado pela angustia de não conseguir enxergar o amanhã.
O grande modelo a ser seguido é o de Jesus de Nazaré. Ele que fez a sua inserção no mundo dos pobres, a partir da periferia da Galileia, e com eles, promoveu a grande transformação em suas vidas. Esta sua atitude, fez os pobres acreditarem que Deus tinha uma predileção especial para com eles e que, somente através da união destes, iriam superar os desafios que eram postos ali naquele contexto. ELE é a miragem dos nossos sonhos de um novo amanhã. ELE é fiel e continua presente na caminhada de seu povo rumo à UTOPIA DO REINO.
Dar testemunho de Jesus caminhando conosco é a grande sacada para uma igreja missionária nos tempos atuais. Os tempos são difíceis, todos sabemos, mas revestidos da esperança vamos em frente. A esperança é antes de tudo, uma palavra vencedora. Quando tudo parece perdido, irremediável, destruído e sem saída, ela comparece para salvar e nos apontar novos horizontes possíveis. Ela é capaz de transformar a derrota em vitória, o perigo em alívio, o desespero em alegria. Talvez por isso nosso bispo Pedro insistisse tanto conosco: “Podem tirar-nos tudo, menos a esperança fiel.”
Será que a nossa Igreja Católica, instituída e estruturada da forma como a temos hoje, aceitará o desafio de ser uma igreja missionária, numa proposta de ser uma igreja em saída? Sair do comodismo e do lugar comum, estabelecido como zona de conforto? Ser uma igreja atuante na sociedade, anunciando o Reino e denunciando todas as estruturas do anti-reino? As nossas celebrações trarão no seu contexto, a encarnação de uma realidade que carece de mudanças profundas e significativas? Nós como seguidores do Jesus Crucificado, abraçaremos as causas dos crucificados da história, fazendo com eles o caminho do calvário de suas vidas? Ou será que faremos como aquele padre agoniado que, em meio a uma grande pandemia, está convocando os seus “paroquianos” para contribuírem na reforma do prédio da “sua igreja”?
Como vêem, os desafios são enormes. Não é fácil ser uma igreja missionária, no contexto em que nos pede o Papa Francisco. Neste sentido, não basta, portanto, dizer que somos todos missionários e missionárias, e ficarmos acomodados no nosso cantinho, sem olhar mais além. Se não abraçamos a causa do Nazareno, com a sua predileção para os pequenos, ficaremos rezando missas, comungando, desejando a paz e não ajudaremos a construir o Reino aqui e agora. Nestas horas vale mais uma vez o que nos disse Pedro Casaldáliga, com o seu jeito nada discreto: “Tenho fé de guerrilheiro e amor de Revolução. E entre evangelho e canção, sofro e digo o que quero.” Que possamos fazer da nossa vida uma missão permanente pelo REINO com amor de REVOLUÇÃO!