O meu sábado (07) é nostálgico. Levantei hoje, lembrando das muitas coisas que já vivi nesta vida. Volta e meia tenho estes sentimentos em mim. Estou carente de abraços. Como gostaria de sair por aí, abraçando os amigos e amigas! Cada um e cada uma me fazem muita falta! Pessoas que me completam e que sem elas, a vida não é a mesma. Este é o castigo maior que esta triste pandemia nos trouxe: não poder cair dentro do abraço das pessoas que a gente quer bem. Isto me faz ver o quanto elas são importantes para mim. Bem expressou a alemã de origem judaica, Anne Frank: “Os abraços foram feitos para expressar o que as palavras deixam a desejar.”
Os Quatis fizeram uma farra logo cedo no meu quintal. Também, com tanta jaca disponível, eles se esbaldaram. O aroma delas se espalha pelo quintal. Quem não gosta desta farra toda, são as minhas cadelas. Elas ficam sem nada poder fazer, uma vez que eles, os Quatis, ficam desfilando na parte mais alta da jaqueira, ignorando por completo a presença delas mais abaixo, correndo de um lado para outro. Volta e meia uma das enormes jacas despenca lá de cima, fazendo um grande barulho. E as cadelas revoltadas, querem que eu tome alguma providência para acabar com aquela folia.
Foi neste clima bucólico que me entreguei à oração nesta manhã. Fiquei o tempo todo pensando nesta palavra que deve ser o tema central de nossas vidas: “fidelidade”. Tudo passa por ela. Ela é o centro nevrálgico de nossa vivência cristã. Eu diria também que ela é o ponto central das nossas vidas. Viver a fidelidade na integralidade é algo que nos desafia a todos e todas. Fidelidade inclusive aos nossos valores e princípios. Fidelidade àquilo que acreditamos.
Jesus nos alerta que é praticamente impossível ser fiel nas grandes coisas, quando somos negligentes nas pequenas. (Lc 16, 10). Somos o que somos, seja no espaço mais intimo, ou mesmo na convivência com as outras pessoas. Isso requer de cada um de nós uma constante revisão das nossas atitudes, seja diante das pessoas mais próximas, seja no plano da nossa vida em sociedade. Assim, não fazemos as coisas ou deixamos de fazê-las, porque as pessoas estão nos vendo, mas porque a nossa própria consciência, deve ser o nosso guia a nos vigiar permanentemente.
A questão da “fidelidade” e “infidelidade” sempre perpassou a História de vida do Povo de Israel. Podemos ver esta situação, quando lemos um dos textos penitenciais mais belos do Antigo Testamento. (Ne 9, 5-37) Perfeito! Ou seja, desde a conquista da terra até o exílio na Babilônia, pecado e castigo, conversão e graça, queda e o levantar-se, esteve presente na vida deste povo sofrido. De cabeçada em cabeçada, fizeram acontecer a sua história, mesmo diante de um Deus permanentemente fiel no seu compromisso de com eles caminhar.
Na nossa vida também somos assim. Caminhamos até a próxima infidelidade, quando caímos de cara no chão, por não ter sido capazes de honrar os nossos compromissos. Caímos e levantamos, mesmo que alguns demorem um pouco mais em soerguerem-se. Traímos a nós mesmos, os nossos princípios e a nossa consciência, mesmo que alguns não se vejam assim. Fazem as escondidas, imaginando que isto não venha à luz do dia, em algum momento de suas vidas. Ledo engano! A dialética da vida nos coloca nesta dinâmica de prestar contas a nós mesmos, frente as nossas recaídas.
O modelo de fidelidade para todos nós é a pessoa de Jesus de Nazaré. ELE sim foi fiel sempre! Quando perguntei ao bispo Pedro, porque ele se referia a Jesus constantemente como “a testemunha fiel” e ele assim me respondeu: “porque Ele soube interpretar o que Deus havia previsto o para si, se colocando como aquele que fazia as coisas acontecerem. Ele era fiel sempre! E sabe com quem ele aprendeu a ser fiel? Com a ‘Comadre de Nazaré’, que também, como ELE, aprendeu a ser fiel desde o chamado de Deus.”
Eis o desafio que a fidelidade nos coloca também para os dias de hoje. Num mundo marcado por valores nada humanos, quando menos cristãos, somos chamados a ser e fazer a diferença. Deus conta com cada um de nós, para desenvolver o seu projeto no mundo. Mesmo diante das nossas infidelidades, ELE não desiste de nós nunca. O cuidado que Deus tem para conosco é baseado em quem ELE é de fato, e não em quem nós somos na nossa caminhada errante. Se fosse o contrário, e Deus nos tratasse conforme merecemos, estaríamos pra lá de desamparados. O que nos vale é que Deus, com o seu perdão e a sua misericórdia, não nos deixa órfãos, para sermos consumidos pelas nossas infidelidades. Deus é fiel! (Dt 7, 9)