Mais uma quarta-feira (11)! Mais um dia para viver! Felizmente, temos melhor sorte que algumas das famílias, que perderam seus familiares, para este vírus letal. Contabilizamos 173 mortes nas ultimas 24 horas, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Ministério da Saúde. Já se somam 162.902 vítimas fatais. Mas isto não quer dizer nada, para o desqualificado-mor do Palácio do Planalto, que ontem nos chamou de “maricas”, pelo fato de não fazermos o enfrentamento da “gripezinha”, manifestando total desrespeito àqueles e àquelas que se foram de junto de nós.
Mais uma vez ontem, os bispos signatários da “Carta ao Povo de Deus”, soltaram um novo vídeo, para fazer chegar às pessoas mais simples, o conteúdo desta significativa carta, para a caminhada de nossa Igreja. Desta vez, eles fazem uma denúncia bastante forte a respeito da manipulação do nome de Deus, por Grupos de religiosos fundamentalistas, contribuindo assim para o poder autoritário. Dizem eles: “A religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor.”
É a Igreja da libertação, comprometida com os mais pobres, mostrando a sua cara e a que veio. Enquanto isso, alguns fundamentalistas, seguem disseminando o ódio e a desinformação, confundindo ainda mais a cabeça das pessoas mais simples, acerca das questões políticas do contexto atual. O que mais nos entristece, é que estas tais pessoas, transitam entre as estruturas da Igreja, sejam elas leigas ou até mesmo alguns padres e bispos equivocados em suas formas de vivenciar a sua fé.
Gratidão é a palavra da vez! Ela está presente na minha vida sempre. Faz parte do meu caminhar. A cada dia, sou agradecido a Deus pela minha história de vida. Sou muito grato a Deus por ter colocado algumas pessoas chaves no meu processo histórico. Pessoas que me ajudaram a ir construindo a minha história, ficando os pés na realidade sofrida do povo. Uma destas pessoas foi o cardeal Dom Cláudio Hummes, que me ajudou a trilhar o caminho dos pobres, quando fazia o curso de Teologia em São Paulo. A Região do ABC Paulista, de onde ele era bispo, foi decisiva para que eu compreendesse ainda mais a Teologia da Libertação. Pelas mãos dele, fui ordenado diácono.
Outra pessoa que muito me marcou e foi significativa no meu processo histórico, foi Dom Angélico Sândalo Bernardino. Este homem me ensinou a dar os primeiros passos do meu sacerdócio, tendo a causa dos pequenos como destinatários de minha atuação pastoral. A Região de São Miguel Paulista, foi fundamental para que eu caminhasse como igreja da libertação, junto àquele sofrido povo da Zona Leste de São Paulo. Foi ali que tomei contato com o Movimento de Moradia, uma verdadeira escola, ajudando-me a traçar a minha postura política a partir de então.
Por fim, vim de encontro ao meu grande místico, poeta, profeta, mestre Pedro Casaldáliga do Araguaia. Este sim terminou de lapidar o meu sacerdócio, colocando-me em sintonia com, a Causa Indígena, de onde nunca mais arredei o pé. Pedro, com o seu jeito profeta de ser, na simplicidade de sua poesia revolucionária, com a sua postura de radicalidade evangélica, ensinou-me muito das causas dos esquecidos de nossa região do Araguaia. Sou eternamente grato a este grande homem de Deus, por ter me transformado numa pessoa crítica e combativa, na busca incessante pelo Reino de Deus.
Por fim, sou grato também por ter feito a minha caminhada de igreja, sempre construindo a minha história. Não esperei que outros fizessem a minha história por mim. Eu mesmo fiz questão de trilhar um caminho alternativo, sintonizado com as questões que dizem respeito à caminhada do povo de Deus sofrido. É assim que sei ser igreja. É desta forma que compreendo o seguir Jesus hoje. Este seguimento tem um lado, é o lado de cá. Eu jamais conseguiria estar do lado de lá. Estar do lado dos vencedores e daqueles que triunfaram e se vangloriam de seus feitos escusos, que se contrapõem ao Projeto de Deus.
Como o samaritano da narrativa bíblica de hoje, (Lc 17,16) sou um homem amadurecido no meu compromisso de fé. Fé esta que se fundamenta na esperança, se fortalece com a Palavra de Jesus e se concretiza no meu gesto de gratidão a Deus pela vida que tenho, e nos sonhos que acalento, na procura da utopia do Reino. No mais, fico com a palavra de Pedro quando nos diz: “A igreja é mais que o papa, e o reino de Deus é mais do que a Igreja.” (Pedro Casaldáliga)