Iniciando está quinta-feira (19) meio que apreensivo. Preocupado com os rumos que algumas coisas estão tomando neste “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.” Triste com o episódio ocorrido neste último domingo (15), em que um casal de idosos protagonizou uma cena no mínimo exasperada. Ao entrar no shopping, perguntam pelo gerente da loja. O gerente que estava próximo respondeu: Sou eu, em que posso te ajudar? A senhora olhou pra ele dos pés a cabeça e respondeu: É inadmissível que um negro seja gerente de uma loja tão grande como esta. De sorte que os funcionários da loja se indignaram e deram total apoio ao seu gerente.
A cena em questão é de cortar o coração! O gerente chorou copiosamente diante do ocorrido. E não era pra menos! Eu faria a mesma coisa! A cena comove qualquer pessoa sensata e esclarecida. Pelo visto, esta senhora branca, passou pela vida e deixou de aprender algo muito importante: não é a cor da pele de uma pessoa que a faz melhor ou pior, mas o seu caráter e a sua integridade. Mostrou que a mesma, trás em si um racismo latente e estruturado que, provavelmente, não se desvencilhará dele, apesar dos longos anos de experiência de vida.
Me fez lembrar uma cena que também vivi certa feita. Estávamos numa ordenação sacerdotal de um amigo, na capital do Paraná, quando uma criança, aproximou-se do Cláudio, agente de pastoral que atuava na favela do INPS, em Mauá, passando sua unha sobre a sua pele, para ver se saía a tinta. Cláudio era negro e a criança transparente de tão branca que era. Certamente não havia convivido com uma pessoa negra, talvez.
Dada a forma como o racismo está impregnado e estigmatizado, é provável que cenas como estas se multipliquem país afora. E as pessoas nem se constrangem mais com o fato de carregarem em si esta coisa tão abominável. Isto denota o quanto o processo de colonização que sofremos, ao longo da história, nos fez tão mal. Ainda bem que a ciência vem em sentido contrário e nos mostra que a conotação social da palavra “raça”, precisou ser modificada quanto a sua maneira de se referir às populações humanas e aceitar a existência de uma única espécie: o HOMO SAPIENS. Também a terminologia mudou de RAÇA para ANCESTRALIDADE. Isso se refere às características herdadas dos pais e ancestrais de uma pessoa. Coisas que tanto os povos indígenas quanto o afro descendente, conhecem muito bem.
Quando você acha que já viu de tudo, sempre aparece uma nova. Esta semana passei por uma experiência nada agradável. Fui efusivamente chamado de comunista por uma pessoa enfurecida. Como se o fato de ser comunista fosse a coisa mais execrável do mundo. Tentei dialogar com a tal pessoa para que ela definisse para mim o que aquela palavra queria dizer para si. Embananou-se toda e não conseguiu manifestar um raciocínio plausível para o comunista que eu representava para ela.
Nesta hora procurei desenvolver a ideia do Papa Francisco quando afirma: “O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana como tal, com direitos fundamentais e inalienáveis […] O bem comum exige a paz social, isto é, a estabilidade e a segurança de uma determinada ordem, que não se realiza sem atenção especial à justiça distributiva […] Toda a sociedade – e especialmente o Estado – tem a obrigação de defender e promover o bem comum. [….] Nas condições atuais da sociedade mundial, onde há tantas desigualdades […] o princípio do bem comum se torna imediato, como consequência lógica e inevitável, em um apelo à solidariedade e em uma opção preferencial pelos mais pobres. Defender e lutar pelo bem comum não é ser comunista. É ser cristão.”
A pessoa em questão ficou ainda mais irritada ainda quando eu disse para ela que ser defensor do bem comum e dos pobres não é ser comunista, mas ser cristão. Neste momento ela aproveitou para concluir categoricamente: Esse papa também é um comunista. Ali percebi que não era mais possível continuar com o dialogo.
Não me deixei levar pela pequenez do não dialogo acima. Uma boa notícia tomou conta de mim. Fiquei sabendo que os Indígenas agora poderão colocar a sua origem e etnia na cédula de identidade. Tudo porque a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) aprovou a proposta de projeto de lei (PLS 161/2015) que permite aos indígenas, inserirem a sua origem e a etnia nos registros públicos e na Cédula de Identidade, sem a necessidade de comprovar a origem étnica. Esta medida supera a prática atual que o indígena precisa obter o Registro Administrativo de Nascimento Indígena, expedido pela FUNAI. Enfim, uma boa notícia, que muito beneficiará os povos originários.