A destruição das Jerusaléns de hoje

Hoje é quinta-feira (26), mas gostaria ainda de fazer memória do dia de ontem. Dia este que passou despercebido para grande parte das pessoas. Dia 25 de novembro é o DIA INTERNACIONAL DE COMBATE À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER. Lembrando que esta data foi estabelecida no Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, realizado em Bogotá, Colômbia, em 1981, em homenagem às irmãs Mirabal. Las Mariposas, como eram conhecidas. Patria, Minerva e Maria Teresa, foram brutalmente assassinadas pelo ditador Trujillo, em 25 de novembro de 1960, na República Dominicana. De lá para cá, ficou estabelecido que esta data fosse lembrada como o dia de luta de combate a violência contra a mulher.

Quando qualquer tipo de violência é feita a uma mulher, toda a sua família está sendo violentada, seja ela física, sexual, ou psicológica. Na nossa sociedade, há algumas formas de violência praticadas por psicopatas tais como: Estupros, violência doméstica ou familiar, assédio sexual, coerção reprodutiva, infanticídio feminino, feminicídio, aborto seletivo, chegando inclusive a violência obstétrica. A luta para se combater este tipo de violência é uma luta de todos, homens e mulheres, sobretudo porque, segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), houve um aumento considerável dos números relacionados à violência doméstica no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus.

Não bastasse esta situação absurda que passam as mulheres no Brasil, fomos surpreendidos nos últimos dias, com uma notícia que nos deixou muito tristes, como igreja da libertação. A arquidiocese do Rio de Janeiro tratou de cancelar uma celebração que aconteceria, em homenagem ao Dia da Consciência Negra (20), na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, na Glória, Zona Sul do Rio. Tudo porque, alguns grupos conservadores, contrários a esta data tão importante, de combate ao racismo no país, pressionaram as autoridades eclesiásticas daquele estado, que acabaram pondo fim a uma celebração, que marcava o dia de luta do povo negro.

É o advento do “cristofascismo”. Estamos vivendo dias sombrios neste momento de nossa caminhada histórica, quando a religião é manipulada e o nome de Deus é utilizado para justificar todas as formas de retrocesso. Quem imaginava que fossemos passar por esta noite de trevas, quando um bando de tresloucados, se arvoram no direito de atuar dentro da igreja como verdadeiros donos desta. Se bem que, as lideranças religiosas deste estado não servem de base, posto que, estiveram presentes no Palácio do Planalto, abençoando a vitória do Capitão do Mato, dias após a sua eleição, mesmo sendo ele, alguém favorável a tortura, a pena de morte e ao assassinato de pessoas durante a ditadura militar no país.

Se é verdade que precisamos passar o nosso Brasil a limpo, com a nossa “Santa Madre Igreja”, não é de todo diferente. Bem que o papa tem insistido frequentemente numa igreja que precisa incorporar em si os sinais advindos da lição que esta grande crise sanitária, econômica e social nos possibilitou. Segundo ele, é preciso toda a igreja repensar a sua forma de ser no mundo como forma de responder aos desafios que se colocam à igreja sobre a fase posterior à crise que exige, ao que ele chama, de uma “diversidade solidária” por parte de todos. Não dá mais para ser uma igreja meramente sacramental e voltada sobre si mesma, mas que ela possua os anticorpos para curar as estruturas e os processos sociais, que se degeneraram em sistemas de injustiça, em sistemas de opressão.

Uma igreja presente e atuante no mundo, como nos assegurou o Concílio Vaticano II (1962-1965), que ajudou a nos posicionar, e nos fez mudar a compreensão da Igreja sobre sua presença no mundo moderno. No mundo da pós-pandemia não será diferente, se quisermos ser fieis, coesos e coerentes à proposta anunciada por Jesus de Nazaré. Caso não aceitarmos este grande desafio, correremos o risco de fazer como aconteceu na história, em que vários espaços tidos como “sagrados”, foram destruídos, como nos relata o texto de Lucas do evangelho de hoje (Lc 21,20-28), que descreve para nós a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Como sonhar não custa nada, sonho com uma Igreja mística, profética e encarnada no processo de libertação do povo, em que, a exemplo da destruição do Templo de Jerusalém, imploda este terrível câncer denominado Renovação Carismática Católica, com o seu “modus operandi” de alienar o povo.