Mudar para crescer

A mudança faz parte da vida do ser humano. A mutação é inerente a pessoa. Todos nós passamos pelo processo de mudança. Desde quando nascemos até a morte, estamos em permanente estado de mudanças. Mudar para crescer e crescer para mudar. Esta é a tônica da vida. Por mais que as pessoas não percebam, elas estão sempre mudando, de uma maneira ou de outra, de forma evolutiva. Toda mudança envolve riscos, da passagem do conhecido para o desconhecido.

O filósofo pré socrático Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.), que pertencia a escola jônica afirmava que a realidade está sempre em movimento. Para ele “Tudo flui, nada permanece”. Inclusive ele compara este processo de mudança constante como a um rio. Segundo ele, não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio, já que a água que corre agora sempre será diferente daquela que passou. Também a pessoa não é mais a mesma de quando entrou no rio em outra ocasião. Ela já passou por um processo de mudança e não é mais a mesma. Tudo flui e nada permanece.

O segredo do crescimento humano se ter a predisposição em aprender sempre. Ou seja, estar sempre aberto ao processo de aprendizagem em todas as circunstâncias. Vem-me a mente uma frase que vi escrita num dos muros da cidade de Salvador, na Bahia: “Sábio, não é aquele que sabe tudo, mas aquele que nunca perdeu a capacidade de aprender.” Ou seja, aprender faz parte da vida e constitui o processo de crescimento da pessoa humana. Quem acha que já sabe tudo perde a grande chance de entrar nesta dinâmica e acaba fazendo como aquela pessoa a qual se referia um amigo meu: “Quem acha que já sabe tudo precisa então morrer, pois está fazendo hora extra na vida.”

De aprendizagem em aprendizagem, iniciamos mais uma semana. Estamos no segundo dia do advento. Um dia após as eleições do segundo turno em algumas cidades e capitais. Dia de alegria para alguns e de tristeza, muita tristeza, para outros. Infelizmente, alguns projetos de morte foram vitoriosos neste pleito. As pessoas ainda seguem votando naqueles projetos que não os defendem e nem aos seus interesses. Todavia, muitos ainda não conseguem enxergar assim. Trocam o certo pelo duvidoso.

Dia de avaliação e aprendizagem para todos nós. Estas últimas eleições nos deram uma grande lição. Precisamos urgentemente estar dispostos a aprender com o resultado das urnas. Elas devem nos fazer pensar, refletir sobre as nossas vidas e, principalmente, sobre a nossa atuação, enquanto agentes de transformação da sociedade. Enquanto padres, religiosos, religiosas, agentes de pastoral, sindicalistas, profissionais da educação, agentes políticos, enfim.

Não as vejo como uma grande derrota para os setores mais progressistas da sociedade. Eu ainda penso com aquela frase bastante conhecida, nem sei de quem é a sua autoria, mas ela deve ser para nós como uma grande fonte de inspiração. Diz a frase: “Nada é em vão. Se não é bênção, é lição.” Assim precisamos partir do princípio que vamos aprender muito com a vontade do povo, frente às suas decisões de votar neste e não naquele projeto de sociedade. As pessoas têm as suas motivações próprias.

José Alberto Mujica Cordano, conhecido popularmente como Pepe Mujica, numa de suas frases diz o seguinte: “Os que se acham perdedores são aqueles que cruzam os braços ou se resignam diante da derrota” Pensando assim, a primeira coisa que precisamos aprender é que há uma grande frustração das pessoas, em relação a política em si, da forma como ela está sendo feita nos meios políticos. O alto índice de abstenções e o quantitativo de votos brancos e nulos falam por si. As pessoas na estão conseguindo ver no processo eleitoral, algo que diz respeito diretamente às suas vidas. É uma visão equivocada, mas não deixa de ter lá os seus motivos.

Outra coisa que também nos faz pensar é a atuação de um setor da sociedade que compreende as igrejas evangélicas. Há mais pastores imbuídos desta causa do que sindicalistas e políticos da ala mais progressista, no processo levar o eleitor ao discernimento. Estes pastores estão mais interessados em eleger pessoas de seus pares políticos, do que propriamente em evangelizar os seus fieis. Lembrando que as pessoas por eles eleitas, compreende aquele setor, cujos projetos políticos são mais retrógrados e, nem sempre, representam os interesses das camadas mais pobres da população.

Por fim, enquanto Igreja Católica, precisamos também repensar a nossa forma de atuação ou não na política. Somos bombardeados pela ala mais conservadora, que não aceita que a Igreja se meta em política. Esta postura é já em si uma atitude política, posto que vai contra a atuação daqueles agentes que se posicionam junto ao campo mais progressista, em defesa dos mais pobres. Não devemos nos omitir quando se trata da nossa atuação política. Nestas horas, sou mais o que pensava Pedro, acerca da política. Dizia ele: “Toda pessoa, por natureza, é religiosa, e toda pessoa, por natureza, é política também. Não podemos prescindir da política, pois ela, em última instância, é a vida: saúde, educação, comunicação, enfim, tudo é política.”