O Natal que agrada a Deus

 

Estamos iniciando a semana do Natal. Dentro de mais alguns dias, estaremos celebrando mais uma vez o nascimento do Deus Menino. Sem dúvida, um Natal diferente de todos os demais que já tivemos. A pandemia do novo coronavírus nos impõe algumas limitações, que nos impedem de festejar como gostaríamos. Alguns infectologistas até nos alertam, de que, se quisermos celebrar o Natal de 2021, não devemos nos aglomerar nas celebrações deste ano. Triste, mas é verdade.

O profeta Isaias, que teria vivido entre os anos de 765 AC e 681 a.C., tem um texto bastante elucidativo e que nos ajuda a pensar um Natal diferente, como forma de sermos mais fieis e coerentes à proposta de Deus, de vir encarnar-se na realidade humana. Dizia ele: “O jejum que eu quero é este: acabar com as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu, e não se fechar à sua própria gente”. (Is 58, 5-7)

Apesar do texto se referir ao jejum que agrada a Deus, podemos fazer uma alusão de como seria pensar um Natal que agrada a Deus. Esta é uma perspectiva que pode nos colocar em sintonia com o Projeto de Deus, fazendo acontecer no Natal, aquilo que pensa o próprio Deus ao se fazer um conosco. Procurar a Deus é antes de tudo praticar o direito e a justiça. Numa sociedade tão desigual como a que estamos vivendo, pode ser que celebramos o Natal não do nascimento do filho de Deus, mas das nossas próprias mazelas e contradições.

Um Natal em que muitos dos nossos irmãos e irmãs não têm o que comer, mas nós nem nos importamos com este fato. O Natal de verdade, precisa ser um ato solidário. Um Natal que se manifesta através da solidariedade com os oprimidos e da participação efetiva num processo de libertação. Só assim estaremos celebrando a vinda do Deus-conosco e estaremos recebendo d’ELE uma resposta benévola, onde seremos co-agentes deste seu projeto na construção de uma sociedade fundada no direito e na justiça.

O Projeto de Deus é extremamente revolucionário. O movimento de Jesus foi um movimento também revolucionário. A narrativa bíblica, sobretudo do Novo Testamento mostra-nos um Jesus que trazia em seus discursos e em sua prática concreta, muito mais do que somente um repetir de chavões e dogmas judaicos presentes no contexto da Palestina de seus dias. Muito ao contrário, ELE desafiou e foi contra diversas leis instituídas pelos líderes religiosos, escribas e doutores da lei de seu tempo, não aceitando se aliar ao poder que esses exerciam antes, denunciando a hipocrisia de vários deles, que se diziam santos e cujas atitudes estavam distantes daquilo que Deus anunciava, através de toda a narrativa bíblica. (Torá)

Então é Natal! Mais uma vez temos a grande chance de renovar este compromisso selado entre Deus e a humanidade. Um Natal diferente. O Natal da pandemia. Sem poder abraçar todos os que gostaríamos. Sem poder estar com os que queríamos. Outro Natal, ou como nos dizia nosso bispo Pedro, “Natal, um Natal outro: para descobrir, acolher e anunciar o Deus-conosco, hoje, aqui; segundo Mateus, capítulo 25, Quem se entende com os pobres pode-se entender com Deus. Somente assim, feito criança, feito Deus vindo a menos, poderíamos te encontrar, diariamente nosso, entre Belém e a Páscoa, Jesus, o de Nazaré.

Celebremos então outro Natal. O Natal do nascimento do menino Jesus. Como nos alerta o papa Francisco: “Para que Jesus nasça em nós, preparemos o coração, rezemos, não nos deixemos levar pelo consumismo. Ah, tenho que comprar presentes, tenho que fazer isto e aquilo… Aquele frenesi de fazer coisas, coisas, coisas… o importante é Jesus. Consumismo: o consumismo, irmãos e irmãs, nos sequestrou o Natal. O consumismo não está na manjedoura de Belém: ali está a realidade, a pobreza, o amor. Preparemos o coração como o de Maria: livre do mal, acolhedor, pronto para receber Deus”, Pronunciamento do Papa no Angelus deste IV Domingo do Advento) “Oh vem Senhor, não tardes mais! vem saciar nossa sede de paz!” (Zé Vicente)