O Natal que não quero

25 de dezembro. É Natal! Uma data especial. Comemoramos no dia de hoje, o nascimento do Deus Menino, encarnado na pessoa de Jesus de Nazaré. Para os cristãos, é uma das principais datas comemorativas, ao lado da Páscoa da Ressurreição de Jesus. O que poucos cristãos sabem é que esta é uma festa de origem pagã, que era realizada pelos os romanos, que celebravam a chegada do inverno (solstício de inverno). Nesta oportunidade, eles cultuavam o Deus Sol (natalis invicti Solis). Ou seja, o “aniversário do Sol Invicto”. Segundo eles, neste dia o Sol volta atrás em sua partida em direção ao o sul e prova ser “invencível”, como a luz da esperança de uma nova aurora que retorna após a escuridão.

É Natal afinal! A festa que é comemorada/celebrada por muitos cristãos. Talvez não com o verdadeiro sentido e significado originário desta festa. Aliás, para muitos, isto pouco importa. A iniciativa tomada por Deus, de se fazer presente na nossa realidade humana, através do nascimento de uma simples criança, de nada vale para muitos cristãos fervorosos, conquanto refestelem em faustos banquetes e se embriagam antes mesmo de começar a festa. Este tipo de Natal não nos interessa. Este Natal não quero para mim, nem para os que amo. Não nos esqueçamos de que Jesus está presente na nossa história, dividindo-a em duas: antes e depois de si.

No Natal, as famílias católicas mantêm o hábito de armarem os presépios em suas respectivas casas. Neles, estão traduzidos a forma como entendemos historicamente o nascimento de Jesus. Entretanto, a primeira ideia do presépio que conhecemos hoje, nos foi passada por São Francisco de Assis. Foi ele que, no século XIII (1223), na cidade italiana de Greccio, fez a montagem do primeiro presépio. O “Povorello de Assis”, na sua radicalidade evangélica, tratou de nos demonstrar a forma como o Filho de Deus veio ao mundo, interpretando a essência do texto bíblico: “Porque não havia lugar para eles na hospedaria”. (Lc 2.7b)

Este é o verdadeiro sentido do Natal. Um Deus que é amorosidade, ternura, compaixão e misericórdia em pessoa. Ama tanto os seus, que envia o seu próprio Filho para ser um de nós, um conosco: “Deus amou de tal forma o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele acredita não morra, mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 16) ELE não quer condenar quem quer que seja. Ao contrário do que andam dizendo por aí, Deus não quer que as pessoas se percam. Muito menos sente prazer algum em condená-las. Ele manifesta todo o seu amor através do Filho, para salvar e dar a vida a todos e todas.

Jesus é o Deus presente entre nós! O presente que Deus quis nos dar gratuitamente. Como o Natal é tempo de dar e receber presentes, esta festa foi incorporada e manipulada pelo capitalismo, como momento adequado para exercitar o consumismo desenfreado. Também as pessoas oportunizam desta data, para enviarem as mensagens mais lindas possíveis, talvez para compensar aquilo que não conseguiram ser ao longo de todo o ano que ora chega ao fim.

Todos e todas gostamos de receber presentes. Quem não gosta? Entretanto, o Natal é a oportunidade que temos de, a exemplo de Jesus, nos darmos como presente. Neste sentido, gosto muito da ideia que os orientais têm sobre presentes. Segundo eles, o melhor presente que alguém pode dar a outrem, é a si mesmo. Ou seja, darmo-nos como presentes aos outros. Assim sendo, seguindo a mesma lógica, somos forçosamente questionados: que tipo de presente tenho sido para as pessoas ao longo da minha vida? Como as pessoas me vêem, sendo presentes na vida delas? Na família, no trabalho, na escola, na sociedade de maneira geral, qual é o tipo de presente tenho sido? Olhando-me no espelho, o presente que tenho sido, ajuda as pessoas a serem mais elas como seres humanos?

O Natal pensado e desejado por aqueles que vivem do lucro, da riqueza fácil, da exploração das pessoas, pode ser tudo, menos o Natal do nascimento do Jesus Menino. Para nos ajudar a compreender e melhor viver o Natal genuíno, lembro-me de uma das falas ditas pelo padre Júlio Lancellotti, quando perguntado por um dos seus interlocutores, de como ele devia fazer para chegar e dialogar com uma pessoa em situação de rua? “Trate-a simplesmente como se estivesse lidando com o seu irmão de sangue estando naquela situação”, respondeu o padre Júlio. Ou senão, façamos como o padre Zezinho nos diz em uma de suas canções: “Amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou. Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria.” (Amar Como Jesus amor)
https://www.youtube.com/watch?v=rnjdmhUjkSo