Domingo (27) da Sagrada Família: Jesus, Maria e José. Ultimo domingo do ano. Um ano completamente atípico está chegando ao seu final. Olhamos para trás e vemos que foi difícil chegar até aqui. Muitas famílias enlutadas, vivendo o seu martírio de um calvário de dor e sofrimento. A morte rondou-nos o tempo inteiro, levando pessoas amigas, parentes, jovens e idosos. Uma tristeza sem fim tomou conta do nosso cotidiano, apesar de algumas pessoas não ter a sensibilidade mínima suficiente para condoer-se pelo luto.
Hoje se celebra a festa da Família de Nazaré. Esta família pobre que veio nos trazer a esperança e um horizonte novo para todos os pobres. Uma família da periferia de Nazaré vem ser protagonista do Projeto Salvador de Deus para a humanidade. Esta família vem nos mostrar a importância de se ter uma família para poder realizarmos como pessoas humanas. Como nos assegura o texto do Eclesiástico que lemos na liturgia de hoje: “Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe”. (Eclo 3, 3) Uma alusão ao quarto mandamento do Decálogo. Ou seja, o respeito e o cuidado para com os pais preservam a consciência viva da identidade de um povo.
O casal do seu José e da dona Maria se completa com a chegada do menino. Nas condições mais adversas possíveis. Um lugar nada decente para se ter o nascimento daquele menino tão esperado. Um Messias nasce em lugar pobre, e vem pobre, para os pobres. Nasce, e conforme a lei da época: “Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. (Lc 2, 22) Na compreensão deles todo primogênito pertencia a Deus, e devia ser resgatado por meio de um sacrifício feito no templo.
Poucas vezes vemos Jesus se dirigindo ao Templo ao longo de sua vida terrestre. Talvez porque ali era um lugar de contradição. As autoridades religiosas locais, escribas, fariseus, doutores da lei, chefes dos sacerdotes transformaram o Templo no centro do poder político, econômico, social e religioso da época. Numa de suas falas Jesus até previu a destruição do Templo como vemos em Lucas: “Algumas pessoas comentavam sobre o Templo, enfeitado com pedras bonitas e com coisas dadas em promessa. Então Jesus disse: Vocês estão admirando essas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído (Lc 21, 5-6) De fato, no ano 70 o Templo fora destruído.
Mas voltemos à família de Nazaré. Quando entrei pela primeira vez na igreja de São José, em São Félix do Araguaia, fiquei fascinado com o mural daquela igreja. Pedro soube traduzir de uma forma muito original a família de Nazaré, através da arte de seu confrade claretiano, Maximino Cerezo Barredo. Ali está a comadre de Nazaré, seu companheiro José e o menininho Jesus como uma família de lavradores nas CEBs – Comunidades Eclesiais de Base. Somente Pedro poderia idealizar uma cena tão próxima de nossa realidade. Digno de admiração.
A família é tudo em nossas vidas. Fico imaginando o que seria de mim não fosse a minha família. Uma família pobre como tantas outras que há por aí. Sou o que sou e quem sou graças ao que recebi da minha família. Lembro com saudades dos meus tempos de menino, convivendo ali no seio da minha família. Também, nestas horas tristes e difíceis que estamos passando é a família que tem sido a nossa salvaguarda. Ela está sempre ali, disposta a ser o nosso porto seguro. Pode não ser a melhor das famílias, mas é o lugar onde nos sentimos mais seguros e com as forças suficientes para dar continuidade na nossa jornada. Prezo muito a família que tenho e sou todo família! Neste sentido, gosto muito da canção dos Titãs que fala da família: “Família, família. Vovô, vovó, sobrinha. Família, família. Janta junto todo dia. Nunca perde essa mania”.
Vidas importam e como importam! Olhando para as nossas famílias, vamos perceber que não é o que nós temos na vida, mas quem nós temos em nossas vidas que importa. E olhando para mais além, vemos que mais um ano está findando e outro iniciando dentro em breve. Mesmo que ainda vivamos a noite escura de nossa história, mas mesmo assim a luz há de brilhar como nos diz Pedro num de seus poemas: “Apesar de todas as crises, se podemos balouçar a Deus entre os braços de Maria e José não há motivo para ter medo. Deus está ao alcance da nossa Esperança”. (Pedro Casaldáliga) Família não é uma coisa importante. É tudo!