Primeira segunda-feira do ano (04). Iniciei a minha semana em alto estilo. Solicitei a presença do grande filósofo Heráclito de Éfeso, para a minha oração da manhã deste dia. Heráclito foi um pensador e filósofo pré-socrático considerado por muitos como o “Pai da Dialética”. Teria vivido por volta do ano de 540 a.C. Quis tê-lo presente comigo por causa de uma de suas frases, profundamente atual, e que nos ajuda entender um pouco a realidade que ora estamos vivendo. Dizia ele: “A única constante é a mudança”. Mudança esta que nos instiga a repensar o nosso cotidiano. A mudança faz parte das nossas vidas. Tempora mutantur (Os tempos mudam e, com eles, nós)
No dia de ontem, o Papa Francisco fez uma fala bastante contundente. Uma crítica severa às pessoas que saíram para viajar, por ocasião das festas deste final de ano, “buscando apenas satisfazer o próprio prazer”. Segundo o líder religioso, “é preciso mudar os hábitos por causa da pandemia e evitar a tentação de cuidar apenas dos próprios interesses”. Mudar é preciso, sem pensar apenas nos objetivos pessoais de cada um. É hora de pensar na coletividade, principalmente com a morte a nos rondar.
Mudança de vida. Mudança de atitude. “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 17, 4b), é o imperativo que Jesus nos faz hoje no texto da liturgia. Ali na Galileia dos pagãos, região distante do centro econômico, político e religioso do seu país, ele nos exorta a converter-nos. Ou seja, é preciso total mudança de vida, uma mudança radical nas nossas vidas, se quisermos experimentar o Reino que está próximo de nós. Somos impelidos a fazer em nós uma metanoia, uma transformação completa do pensamento. .O converte-se na compreensão de Jesus não se limita a uma mudança de mentalidade apenas, mas também implica uma mudança de comportamento, de atitude, de maneira de ser e de viver.
A insanidade de algumas pessoas dentre nós não lhes fazem entender que vivemos um tempo atípico. Ou compreendemos isto e salvamos vidas, ou muitos ainda vão partir do meio de nós. Se bem que a demência é tão grande que, no momento em que mais necessitamos da Ciência ao nosso lado, a previsão orçamentária para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTI) em 2021 será 34% menor do que em 2020. Para quem nega peremptoriamente a Ciência, este é um prato cheio aos negacionistas de plantão. É como se a Ciência não tivesse nenhuma importância, principalmente em meio a uma enorme crise sanitária.
Num momento em que precisamos de mudanças, estamos retrocedendo vertiginosamente. Os maus exemplos seguem acontecendo, a começar daqueles que deveriam assumir maiores responsabilidades. A vida das pessoas segue sendo ameaçada diuturnamente. Contrário a esta situação vem uma fala de Dom Mauro Morelli, que, do alto dos seus 85 anos de vida, segue nos dando exemplo de como alguém que não envelheceu, mas continua praticando ações afirmativas em favor dos menos favorecidos. “Idoso sim, mas nunca velho”, afirma ele na sua fala. “Esse mundo que aí está foi feito por nós, portanto, pode ser por nós reinventado”. (Mario Sérgio Cortella)
Carecemos de mudanças profundas entre nós, para que a vida siga o seu curso natural. Ainda falando de Dom Mauro Morelli, sempre foi um bispo muito combativo. Destacou-se no seu pastoreio no combate à miséria e à fome e pela luta pela ética e cidadania. Ele foi um dos fundadores do Movimento pela Ética na Política. Junto com Herbert José de Sousa (Betinho), fortaleceu a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Tudo de que necessitamos nas mudanças urgentes que precisamos fazer acontecer entre nós. Que falta nos faz um bispo como Dom Mauro, num momento em que a Igreja, às vezes, se cala e omite-se diante de tanta injustiça.
Cada um de nós precisa fazer a sua parte num todo. A somatória das nossas ações é que farão as mudanças acontecerem. Onde quer que estejamos, precisamos fazer acontecer tais mudanças necessárias. Os nossos governantes não nos ajudam. Vivemos em tempos de opressão. E como nos dizia Pedro, “todo opressor é opressivo”. E só tem um jeito de amar o opressor, lutando para que nunca mais oprima. Mudar é preciso e lutar também é. Façamos das nossas vidas uma ação constante de mudanças
E que não sejamos pegos de surpresa por aquela frase dita pelo escritor francês, humanista e religioso François Rabelais (1494-1553): “Conheço muitos que não puderam, quando deviam, porque não quiseram quando podiam”.