Sextou de novo! Uma sexta-feira (15) cheia de angústia e tristeza, pelo menos para aqueles que possuem um mínimo de sensibilidade em seus corações. A situação vivida pela população de Manaus é assustadora. Morrer asfixiado é terrível. Pessoas que estão sendo escolhidas para viver e outras para morrer. Enquanto isso, o desalmado filho do presidente, comemora a abertura do comércio na capital amazonense. Tal como o seu progenitor, possui um pacto com a morte, certamente. Endossa assim a política genocida necrófila do impronunciável presidente.
Tentando encontrar forças por aqui, rezei hoje invocando a presença do amigo cearense Zé Vicente, através de sua canção, “Bendito dos Romeiros”. Uma bela canção, que nos fortalece em nossa caminhada de Igreja, comprometida com a libertação. Particularmente me detive no verso, quando ele assim se manifesta: “Quem é fraco Deus dá força. Quem tem medo sofre mais. Quem se une ao companheiro, vence todo cativeiro, É feliz e tem a paz”. Precisamos nos unir nesta hora tão difícil. Devemos nos unir pois, Isolados somos fracos. Unir para resistir.
Este é o quinto mês que estamos vivendo sem a presença física dele entre nós. Como é difícil saber que Pedro não está mais aqui, com o seu jeito simples de viver a vida. Como forma de fazer memória destes cinco meses que se foram, a Irmandade dos Mártires da Caminhada, vai realizar no dia de hoje, uma Celebração pela Paz no Mundo, aproveitando para relembrar do bispo dos pobres que, com a sua fé militante, trilhou os caminhos da igreja martirial, defensora da causa dos pequenos. Sintam-se todos e todas convidados/as a estar conosco na ocasião deste memorial, através do link:
A nossa fé ou é militante ou não é fé que de verdade. Somos militantes das causas do Reino. Conhecer Jesus e não atuar com ELE, através de uma fé engajada, torna-se cúmplice da opressão sobre os pequenos. A nossa fé só pode ser militante, no seguimento de Jesus, tendo como destinatários desta fé o resto de Israel. Os pequeninos. Os marginalizados. Os vulneráveis, abandonados pelas economias de morte. O contrário desta fé militante é aquilo que algumas redes televisivas fazem, alienando os pequenos, alimentando uma fé individualista e sem compromisso com a luta cotidiana dos pequenos para se libertarem do jugo do opressor. A fé quando não é militante, presta um grande serviço ao opressor e faz coro aquilo que Marx chama-nos atenção num de seus escritos “Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, em que afirma que “A religião é o ópio do povo”.
Sempre mantive a minha fé militante. Eu não saberia viver a minha fé ser desta forma. A inquietação acompanhou ao longo de toda a minha vida cristã. Sou filho do tempo e do processo histórico que vivi. Em minha Ordenação Sacerdotal, por exemplo, pretensioso que eu era, escolhi como lema para o meu sacerdócio a frase do Profeta Isaías: “Enviou-me para anunciar a Boa Nova aos pobres, (Is 61, 1) Só mais tarde é que fui perceber em que “fria” eu estava entrando, pois esta frase acompanhava-me por onde quer que fosse.
O período histórico que vivi a minha fé ajudou-me a cumprir a missão de lutar pelas causas dos pequenos. Diferentemente dos padres mais jovens que temos entre nós, cheios de mordomias e que se preocupam muito mais com as suas aparências de vestes vistosas e pomposas, relegando a um segundo plano a missão de estar ao lado do povo sofrido, sou filho de Puebla, como costumo dizer.
Puebla foi a Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Puebla de Los Angeles (México), no período de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979. Neste mesmo ano, estava eu dando entrada no curso de Filosofia pela PUC de Campinas/SP. Esta conferência marcou-nos profundamente e veio reafirmar a Conferência anterior de Medellin (Colômbia), assumindo mais efusivamente o compromisso com a causa dos pequenos. Através dela ficamos sabendo que a Teologia era o ato segundo. O ato primeiro era o inserir-se numa realidade de pobreza para, a partir dali construir o discurso teológico. Nada melhor do que começar um curso de filosofia, tendo como parâmetros as diretrizes de Puebla. Talvez, se os seminaristas, padres e bispos conhecessem este documento tão importante para a História da Igreja da América Latina, não fizessem tanta bobagem que fazem por ai, inclusive apoiando um genocida.
Somos desafiados pela nossa fé diuturnamente. Quem não se deixa questionar pela fé que possui, vive num mundo de fantasia e de um Deus de conveniência, que satisfaz os seus caprichos. A nossa fé nos sustenta na caminhada. Sem ela, estaríamos desprovidos de uma esperança maior. Ela nos fortalece no compromisso com os irmãos no dia a dia. Sem ela, não seriamos quem somos nós. Ela sempre trás em si o mistério insondável, como nos afirma o apostolo Paulo: “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera, é um meio de conhecer realidades que não se vêem” (Hb 11,1) Que a nossa fé nos faça sempre e cada vez mais militantes pelas causas do REINO!