O caminho estreito

 

A terça-feira (19) me fez meditar sobre um assunto muito peculiar para os nossos dias. Levantei com a ideia de caminho na minha cabeça. Vi-me refletindo sobre a temática do caminho. Automaticamente veio-me a mente também a canção “Pelos caminhos da América”. Ela que inicia da seguinte forma: “Pelos caminhos da América. Há tanta dor tanto pranto. Nuvens, mistérios encantos. Que envolvem nosso caminhar. Há cruzes beirando a estrada, Pedras manchadas de sangue, apontando como setas, que a liberdade é pra lá”. América que precisa ser descolonizada para construirmos um novo caminho.

Caminho que somos desafiados a percorrer, numa realidade prá lá de incerta. Caminhar é preciso! Estamos sempre nesta trajetória, por mais que alguns possam achar que estão estacionados. A vida com a sua dinamicidade nos mostra que estamos sempre desenvolvendo o nosso caminhar. Caminhos feitos de escolhas é verdade, mas caminhos que vamos trilhando sem parar. Como diz a canção que muito cantamos em nossas comunidades: “Vem caminheiro o caminho é caminhar. Vai peregrino, meu amor testemunhar”. Ou seja, para nós que somos cristãos temos outro desafio ao caminhar, pois temos que dar testemunho vivo, através das nossas ações d’ELE.

O nosso caminhar é sempre permeado pelas nossas escolhas. Nós mesmos escolhemos os nossos caminhos. Cada um de nós faz, de acordo com as suas convicções, perspectivas e valores. Jesus se propõe como um CAMINHO a ser seguido. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão por mim.” (João 14,6.) ELE não é qualquer caminho, mas o caminho para o PAI. O caminho da vida. O caminho para a nossa realização pessoal. Toda a sua perspectiva entre nós foi para nos mostrar este caminho. Segui-lo nesta direção, significa que devemos andar como ELE andou. Pensar como ELE pensou. Seguir seus passos, vivendo como ELE viveu. Andar por um caminho estreito, como ELE mesmo nos disse.

Nossa vida é feita de opções. Nenhum de nós trafega pela vida sem tê-las feito. A opção por este ou aquele caminho somos nós mesmos que escolhemos. Jesus até que nos dá uma boa dica quando orienta a “entrar pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que levam para a perdição, e são muitos os que entram por ela! Como é estreita a porta e apertado o caminho que levam para a vida, e são poucos os que a encontram!”. (Mt 7, 13-14) Missão nada fácil de ser cumprida, pois tanto a opção fundamental pelo Reino e sua justiça (entrar pela porta), como continuar nessa busca fundamental (caminho), exige muito de cada um de nós. A escolha por este ou aquele caminho, jamais será feita por aqueles que estão “em cima do muro”. Estes relutarão e acabarão escolhendo a estrada mais larga que lhe lhes possibilitará privilégios e comodidades.

Os caminhos que escolhemos ao longo da vida nos trazem mais ou menos felicidade. Já até vimos nas redes digitais a frase “Não há caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho”. Lá pelos idos do ano 350 a.C, o filósofo grego antigo Aristóteles, já nos dizia que “A felicidade depende de nós mesmos.” Ou seja, nós é que construímos ou não a nossa felicidade. Se bem que com tantas cruzes que nos são colocadas sobre os ombros, fica até difícil de acreditar que a nossa felicidade depende de nós e é construída por nós mesmos. Com tanta injustiça reinante entre nós, por mais que os pobres tentem construir a sua felicidade, acabam não encontrando forças suficientes para romper com as barreiras da opressão e da desigualdade.

A vida é o nosso dom maior que Deus nos deu. Nascemos para sermos felizes. Deus nos cria para uma dimensão maior de nossa existência na busca pela felicidade. Todos e todas buscamos esta felicidade. Entretanto, vamos colocando obstáculos a esta realização plena. Desta forma, cabe a cada um de nós, irmos superando as resistências que nós mesmos colocamos para as nossas vidas. Neste sentido, quem sabe possamos fazer nossas as palavras do grande filósofo estóico Sêneca (65 dC): “A verdadeira felicidade é desfrutar o presente, sem ansiosa dependência do futuro, não para nos divertirmos com esperanças ou medos, mas para ficarmos satisfeitos com o que temos, o que é suficiente, pois aquele que é assim não deseja nada.” Façamos pois a nossa caminhada e tracemos os nossos próprios caminhos. Não nos deixemos cair na tentação de ficar acomodado e não correr os riscos que o caminhar suscita. “Feliz a pessoa que suporta com paciência a provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu àqueles que o amam”. (Tg 1, 12)