Mais uma sexta-feira (29) chega e nós vamos dando sequência às nossas vidas. O mês de janeiro caminha para o seu ocaso. O ano é novo, mas a conjuntura é velha. Vivemos agora um grande dilema. Cadê esta vacina que nunca chega? Criou-se uma expectativa que não está se cumprindo. Ao invés de organizar um calendário vacinal, tem pessoas que preferem mandar os repórteres para aquele lugar. Que situação! Jamais imaginaríamos que chegássemos a um momento como este, de estarmos diante de um enorme abismo de incertezas.
Estou aqui ainda repercutindo em mim a fala de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, afirmando que “Daqui a 60 dias, a gente pode ter uma mega epidemia”. Segundo este médico, a transferência de pacientes de Manaus para outros estados vai ajudar a “plantar” uma nova cepa do coronavírus em todo o Brasil. Tal preocupação faz sentido, uma vez que uma grande maioria de infectados no Amazonas já apresentam a nova cepa brasileira do coronavírus. Mandetta ainda alerta que a nova mutação pode ser mais difícil de lidar, já que é mais infecciosa e possui características diferentes das que já foram estudadas pela comunidade cientifica internacional.
E agora, o que fazer? Já não bastava o que vínhamos passando ainda temos conviver com mais esta? Resta-nos rezar e pedir a Deus que tenha misericórdia, já que não dá para contar com um governo sério, responsável e comprometido com a vida das pessoas. Estamos a mercê da própria sorte. Enquanto isso, segue os pedidos de impeachment do mandrião. As igrejas, inclusive algumas evangélicas, engrossaram este pedido. Diferentemente do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmando que os evangélicos que pediram o impeachment, não representam a maioria dos fiéis desse segmento no País. Alguém precisa dizer a este senhor que as igrejas de aluguel, dos mercadores da fé, de fato, não estão inclusos no documento em questão.
De saber que Jesus veio anunciar o Reino de Deus e não a religião. Neste sentido, ELE não amou a religião em si, mas as pessoas. Desta forma, a nossa opção não deve ser por esta ou aquela religião, mas antes, pelo Reino de Deus. Está sobrando religião na vida das pessoas e faltando Deus. E, como nos dizia Mahatma Gandhi: “As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos os mesmos objetivos”? Mesmo que fora das religiões?
Mas que Reino é este afinal que Jesus veio anunciar? Nunca é demais lembrar que as esperanças messiânicas equivocadas do povo de Israel estavam centradas na vinda de um Messias conquistador militar que iria resgatá-los de seus inimigos geopolíticos. Não é atoa que eles tentam fazer de Jesus um rei/messias (João 6, 15). Ou seja, a proposta de Jesus não é entendida nem mesmo pelos seus discípulos. Entretanto, o mestre os reorienta e afirma com todas as letras: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36). Diríamos que Jesus mostra-lhes que o reino anunciado por si, é algo holístico em sua natureza e em sua missão libertadora para os pobres.
“O Reino de Deus não consiste em palavras, mas em atos” (I Cor 4,20). Reino que não se confunde com a Igreja. A Igreja pode vir a ser a projeção do Reino, desde que ela abrace as causas de Jesus. Causas estas que no dizer de nosso bispo Pedro são muito claras: “Denunciar a iniquidade do mercado total, do consumismo desenfreado, do lucro excluidor das maiorias. Fazer da Fé cristã luz e força para combater esse sistema de iniquidade que mata de fome milhões de pessoas da grande família de Deus deve ser o papel da Igreja”
No texto do evangelho de hoje Jesus nos dá uma boa dica de como será este Reino, comparando-o como quando alguém espalha a semente na terra. (Mc 4,26). Jesus é o portador do Reino de Deus e da transformação que ele provoca. Sua missão de libertação não é para ser abafada ou ficar escondida, mas para se tornar conhecida e contagiar a todas as pessoas. Quem acolhe esta Boa Notícia, aprende a ver e agir de acordo com a visão e a ação de Jesus. E a compreensão vai aumentando à medida que vai agindo no mundo. Como seguidores e seguidoras d’ELE, temos que estar imbuídos naquilo que Pedro nos dizia: “A construção de uma nova sociedade, alternativa à que é imposta hoje ao mundo, é um processo complexo, uma caminhada histórica, não tem uma cartilha pronta em detalhes dentro da plural humanidade. De todo jeito eu só posso imaginar esse processo como socializador: socializar a terra de lavoura e de moradia, socializar a saúde, a educação, a comunicação, as oportunidades para viver ‘o bem viver’ que proclamam os nossos povos ‘primigênios’.” (Pedro Casaldáliga)