Quarto Domingo do Tempo (31). Estamos nos despedindo do mês de janeiro. Não dá forma como gostaríamos. Estamos repetindo mais um ano, como foi no anterior. Apesar de sabermos que Deus está no comando e é Senhor da História, mesmo assim vivemos tempos de profunda incerteza. Ainda não conseguimos enxergar o amanhã. A luz do horizonte ainda está muito distante de nós, por mais que alguns dentre nós comportam como se vivêssemos dentro do campo da normalidade.
Estamos refletindo este ano o Evangelho de Marcos. Diferentemente dos demais Evangelhos, este evangelista descreve a sua narrativa com uma preocupação especifica: dizer para nós “Quem é esse Jesus?”. Todavia, ele não nos responde de forma teórica, como se nos quisesse comunicar doutrinas ou os discursos do Messias. Ele apenas faz um relato de toda a prática das atividades de Jesus, num contexto sócio, político e econômico de sua época, oportunizando aos seus leitores, chegarem por si mesmos à conclusão de que este Jesus é o Messias, o Filho de Deus (1,1; 8,29; 14,61; 15,39).
O Papa Francisco segue fazendo das suas. Cada vez mais ele nos surpreende. Este Papa é o cara! Neste sábado, por exemplo, através de uma fala contundente, chamou a atenção daqueles se opõem ao Concílio Vaticano II (1962-1965). A grande última assembleia ecumênica, que contou com a participação dos bispos do mundo inteiro Um dos documentos mais importantes da História da Igreja, que incentivou a todos nós a dialogar com o mundo moderno. Segundo o “Cara de Roma” “O Concílio é magistério da Igreja. Se você está com a Igreja, segue o Concílio. Se você não segue o Concílio ou o interpreta a seu modo, como você quiser, você não está com a Igreja. Neste ponto, devemos ser exigentes, severos. O Concílio não deve ser negociado”. O Papa foi enfático: “Quem se opõe ao Concílio está fora da Igreja”.
O Papa tem razão. O Concílio Vaticano II foi também um grande achado para a nossa caminhada de Igreja aqui na América Latina. Ele veio reforçar para nós a Teologia da Libertação, através da “Opção preferencial pelos pobres”. E a forma que encontramos para fazer uma leitura contextualizada do Concilio, foi realizada no ano de 1968, em Medellin na Colômbia a Segunda Conferência Episcopal Latino-Americana. E como nos dizia Pedro, “Medellín foi sem dúvida o Vaticano II da América Latina. Mais avançado que o Vaticano II. Porque no Vaticano II, a opção pelos pobres foi de uma minoria, quase clandestina. Medellín fez a opção pelos pobres. Medellín fez a opção pelas comunidades. Fez a opção pela militância a partir da fé. Medellín é o nosso Pentecostes”.
Neste sentido, precisamos retomar a caminhada de Igreja sob a perspectiva da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O próprio Papa João Paulo II, em carta dirigida ao episcopado brasileiro, em 1986, disse com estas palavras: “A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO é oportuna, útil e necessária” Com a ajuda da Teologia da libertação, houve uma maior visibilidade às causas dos mais pobres, mostrando que, antes deles serem pobres, eram oprimidos. “Ou a Teologia é da libertação ou não é a Teologia de Jesus de Nazaré”. (Pedro Casaldáliga)
Ao lado da Teologia da Libertação, também as CEBs sempre incomodaram com o seu jeito de ser Igreja dos pobres, Igreja povo de Deus. Um jeito de ser Igreja. Um jeito de toda a Igreja ser. Desta forma, a Igreja Latino-Americana, procurando ser fiel à Boa Nova de Jesus, desencadeia todo um processo de libertação. Libertar o oprimido da sua opressão. Isto incomodou a muitos dentro e fora da Igreja. Os poderosos trataram de perseguir os agentes de pastoral e também aos participantes destas comunidades. Perseguição esta que também partiu dos movimentos pentecostais e neopentecostais, surgidos nos EUA, vinculados diretamente ao capitalismo. No ano de 1991, foi publicado pela Editora: Francisco Alves, um livro com o intuito de denunciar esta avalanche dos movimentos pentecostais, na América Latina, contrapondo-se a organização das CEBs. “Os Demônios Descem do Norte”, de Délcio Monteiro de Lima.
Precisamos, portanto, retomar a caminhada de uma Igreja pé no chão. Igreja encarnada na realidade daqueles que mais sofrem. Uma “Igreja em Saída”, como nos propõem o Papa Francisco. Uma Igreja menos clerical e mais presença nas lutas do povo. Uma Igreja menos sacramental e mais profética e martirial, cuja mística da libertação, faça com que as lideranças religiosas não fiquem trancafiadas dentro das suas sacristias, envolvidas nos trâmites burocráticos. Não usar somente dos templos para se fazer ali a experiência de fé, mas que aceite o desafio de ser Igreja onde quer que estejam. Uma Igreja que não esteja preocupada com as vestes rendadas e suntuosas de seus celebrantes, mas que atente para a realidade dos sem teto, sem comida, sem trabalho, sem saúde, sem escola, sem nada e até sem roupa. Sem nos esquecer que Jesus começou a sua ação libertadora exatamente pela Galileia, terra dos lascados, de onde não esperava nada que pudesse vir dali.