Reencantar a política

O primeiro final de semana de fevereiro está chegando devagar. Uma sexta feira (05) ainda modorrenta, dado os muitos casos de infecção e morte. Pessoas que estão sendo tiradas do meio de nós de forma muito abrupta e prematura. Vidas de inocentes ceifadas por um vírus que faz estrago. O jeito é rezar e pedir a Deus força nestas horas, já que não há como contar com um governo que nos defenda nesta pandemia.

Ontem o papa Francisco deu mais uma de suas cartadas. Exortou-nos que rezássemos pedindo proteção às mulheres, vítimas de violência. Aliás, pediu ainda que dedicássemos durante todo o mês de fevereiro, em oração pelas mulheres que sofrem diversas formas de maus-tratos. Na sua fala, o Papa manifestou-se contrário “aos diferentes tipos de violência que têm gerado um número impressionante de mulheres espancadas, ofendidas e violadas.” Diante desse tipo de covardia e degradação para toda a humanidade, Francisco pede que elas sejam protegidas pela sociedade e que os sofrimentos das vítimas, através do grito de socorro, sejam escutados.

Nosso Papa, manifesta sua preocupação com uma das chagas de nossa sociedade. No seu entendimento, não somente a sociedade tem que ouvir o clamor destas mulheres, mas também a Igreja. Ele quer a nossa Igreja antenada com os clamores destas vítimas e lute pela construção de políticas publicas afirmativas de defesa das mulheres. Neste sentido, não podemos fazer ouvidos mocos a este tipo de violência, que tem crescido sistematicamente entre nós, particularmente neste momento de distanciamento social. O papa conclui a sua fala com uma frase: “Ou somos irmãos ou nos destruímos uns aos outros”.

A politica é o nosso maior dilema. Alguns de nós torcemos o nariz quando se trata da vivência cidadã no campo da política. “Política é coisa suja”. Esta é talvez a frase que mais comumente temos ouvido na boca das pessoas. Tudo porque, alguns de nossos políticos, transformaram-na numa coisa vil. Transformaram os espaços de atuação no parlamento, num balcão de negócios escusos, com o intuito de angariar benesses para si ou para os seus familiares. É um salvem-se quem puder do toma lá dá cá. Enquanto isso, a nação brasileira segue sendo saqueada e os interesses do povo ficam em segundo plano.

Montanhas de escândalos transcorrem diuturnamente no cenário político nacional. Dos 513 deputados que compõem a Câmara Federal, talvez pouco mais de 110 deles, são pessoas confiáveis e que podemos ainda contar como nossos dignos representantes. Os demais estão mamando nas tetas do Estado, e pouco se importam com os mais vulneráveis, que estão passando por sérias dificuldades, nestes tempos de pandemia. Uma crise política atrás da outra. Nosso Congresso Nacional está em frangalhos. Neste sentido, não é a política que é suja, mas aqueles que estão vivenciando-a é que a transformaram em algo asqueroso.

Todavia, grande parte desta problemática fomos nós mesmos que a criamos. Nenhum daqueles parlamentares que estão atuando no parlamento chegou lá por concurso publico. Nós é que os colocamos lá, através do nosso voto. E muitas das vezes num voto desprovido de consciência política. Diante deste contexto, impossível não pensar na expressão cunhada pelo filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821): “Cada povo tem o governo que merece”.

Não! O Brasil não merece os políticos que tem! Somos uma nação gigantesca, mas que o seu povo abdicou de exercer o seu direito político de escolher os seus representantes, com critérios críticos e mais apropriados. “Não me envolvo em política”. “Política não se discute”. São apenas algumas das frases que as pessoas usam para se eximirem das suas responsabilidades. Muitos de nós, com a convicção de que nada presta, propiciamos um campo aberto para os aventureiros de plantão. Nestas horas vem a mente uma das frases ditas pelo historiador britânico Arnold Toynbee (1889-1975): “O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam”.

O Papa Francisco tem retomado frequentemente uma das falas do Papa Pio XI de que a Política é a forma mais perfeita da caridade. E aqui eles não estão se referindo apenas à questão partidária, mas numa vivência politizada cidadã da fé. Isto supõe um real engajamento nas causas que buscam realizar a vida e o direito de todas as pessoas. Isto também requer que cristãos e cristãs, assumam pra valer o seu lugar social, na transformação da realidade. Não fugindo da política, mas usando do espaço de atuação política como busca incessante pelo bem comum. Política é coisa séria. Por isso, precisamos reencantá-la através da nossa práxis, ou seja, uma prática reflexiva. Que sejamos iluminados pela luz do Senhor!