A nossa semana segue o seu transcurso “normal”. Uma terça-feira (09) ainda de chuva no baixo Araguaia. Nossas estradas estão péssimas. Ainda temos cerca de 190 km de estrada de chão. Por aqui as pessoas seguem infectando com este vírus diabólico. Para uma cidade tão pequena, São Félix tem um número assustador de pessoas testadas positivo. A cada dia ficamos sabendo de alguém que foi apresentado à Covid-19. Diante deste contexto, ficamos todos alarmados. Até quando, Senhor!
Lá fora, segue ainda a repercussão das críticas impiedosas, caluniosas e infundadas contra a CNBB/CONIC e a Campanha da Fraternidade de 2021. Campanha esta que se faz presente entre nós desde 1964. (57 anos) Bem no início da ditadura militar, foi lançada a Campanha da Fraternidade a nível nacional, pela CNBB. Naquele ano, o tema era: “Igreja em Renovação”. O que os críticos raivosos talvez não saibam é que a CF nasce exatamente no contexto do Concílio Vaticano II, oportunizando um tempo de renovação na pastoral da Igreja. Campanha que acontece sempre no período quaresmal, quando somos convidados à prática da justiça social, da solidariedade, da partilha e do amor ao próximo.
Estas críticas nos fazem pensar. Tudo nos leva a crer que os fariseus do tempo de Jesus seguem fazendo escola nos dias de hoje. No cristianismo tem disso. Há aqueles que seguem fielmente a Jesus, e há também aqueles que preferem seguir os opositores do Nazareno. O texto do evangelho de hoje (Mc 7,1-13) é bastante elucidativo neste sentido. Mais uma vez, os fariseus ficam embirrados com Jesus porque os seus seguidores estavam comendo sem lavar as mãos. Jesus diz claramente à eles: “‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim.” (Mc 7, 6) Ou seja, Jesus desmascara o que está por trás de certas práticas apresentadas como religiosas.
É o mesmo que o vemos acontecer entre nós. Algumas pessoas tidas como profundamente religiosas (católicas) que não conseguem entender que a fé tem, pelo menos, duas dimensões importantes: a nossa relação com Deus; e a relação com os meus irmãos que comigo convivem neste mundo. É como a cruz de Jesus. Ela possui dois vértices: um vertical, que nos liga ao Deus onipotente e misericordioso; e outro horizontal, que nos remete à luta cotidiana com os irmãos, em busca de libertação. A Igreja não tem a preocupação de somente cuidar das almas, como querem estas pessoas, deixando de lado a encarnação de Jesus na realidade humana. Aquilo que chamamos de dimensão social da fé. Um olhar na Bíblia e outro na realidade. Foi assim que aprendemos com as CEBs.
Ter fé em Deus pressupõe ter confiança absoluta. Confiar é tudo o que podemos manifestar na nossa relação com Deus. Quem tem fé, confia! Confiança é tudo! É através da nossa fé que vamos conhecendo e experimentando a grandeza e a majestade de nosso Deus. Como nos afirmava Jó: “Deus é grande demais para que possamos conhecê-lo” (Jó 36,26). Por mais que os nossos escritos se aproximem de quem é Deus, nunca o abarcaremos em toda a sua plenitude. Em outras palavras, Deus não se explica, mas se confia e ama. Como dizia o grande poeta mineiro: “Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”. (Carlos Drummond de Andrade)
Confiança é tudo! Como faz a criança diante da sua mãe. Ela é capaz de lançar-se nos braços de sua mamãe, porque sabe que ali vai estar segura e protegida. Com Deus não é diferente. A confiança nos permite lançar-nos, pois sabemos, de antemão, que ELE vai estar ali, de braços abertos para nos acolher e confortar. Deus é o nosso refúgio. Exatamente como faz o garoto deficiente visual nesta linda e emocionante apresentação de dança com o seu pai.
A pandemia aqueceu os nossos corações. Estamos mais sensíveis, pois sabemos da nossa limitação e impotência diante deste contexto de morte. Mesmo que alguns dentre nós, não tenham conseguido ainda libertar-se da sua indiferença e omissão, devemos seguir confiantes, acreditando que Deus é o Senhor da história. Abramo-nos, portanto os nossos corações e nos entreguemos confiantes nos braços do PAI. Não sejamos arrogantes e prepotentes como aquelas pessoas as quais o texto do apocalipse de São João assim se refere: “Você diz: Sou rico! E agora que sou rico, não preciso de mais nada. Pois então escute: Você é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. E nem sabe disso. Quer um conselho? Quer mesmo ficar rico? Então compre o meu ouro, ouro puro, derretido no fogo. Quer se vestir bem? Compre minhas roupas brancas, para cobrir a vergonha da sua nudez. Está querendo enxergar? Pois eu tenho o colírio para seus olhos”. (Ap 3, 17-18) “Andar com fé eu vou, que a fé não costuma faia”