Já estamos vivenciando a quinta-feira (11). Um dia que podemos considerar especial. Ontem, o Papa Francisco, aproveitando do ensejo da Festa de Nossa Senhora de Lourdes, publicou uma importante mensagem, apontando o dia de hoje como o “Dia Mundial dos Enfermos”. Insistiu ele assim o dia 11 de fevereiro como “A relação de confiança, na base do cuidado dos doentes”, sendo inspirado pelo versículo: “Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos”. (Mt 23, 8). Cuidar dos outros é um gesto de amor, mais concretos que alguém pode ter, pois quem ama cuida. Este é o desafio de todo cristão de cuidar de si, cuidar dos outros, cuidarmos uns dos outros.
Nada melhor do que dedicar este dia aos nossos doentes, sobretudo aquelas pessoas que estão sofrendo os efeitos da pandemia da Covid-19. Como diz o próprio papa: “A todos, especialmente aos mais pobres e marginalizados, expresso a minha proximidade espiritual, assegurando a solicitude e o afeto da Igreja.” Igreja esta cuja missão será preponderante, no sentido de dar respostas claras e objetivas no contexto da pós-pandemia, se quiser ser fiel ao seguimento de Jesus, que dedicou a sua vida aos mais pobres, aos enfermos.
Dia de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira dos enfermos. A nossa devoção a ela começou no ano de 1858, meados do século XIX. A Virgem apareceu nas cercanias de Lourdes, França, na gruta Massabielle, a uma jovem chamada Santa Marie-Bernard Soubirous ou simplesmente Santa Bernadete. Essa santa mulher deixou por escrito um testemunho que entrou para o ofício das leituras do dia de hoje.
Jesus tinha um carinho todo especial pelas mulheres de seu tempo. Várias delas seguiram-no, mesmo que os Evangelhos não tenham descrito todos os passos delas, na missão de seguir o seu Mestre. E Jesus não poderia ser diferente disso, afinal na Palestina de seu tempo, as mulheres nada mais eram que um simples objeto nas mais de seu marido. Neste sentido, elas deviam ao esposo total lealdade, mas, por princípio, era considerada como naturalmente infiel, desvirtuada e falsa. Por esta razão, sua palavra diante de um juiz não tinha praticamente valor algum. Entretanto, embora fossem obrigadas a ser fiel ao marido, ele, por seu lado, não tinha os mesmos deveres matrimoniais. Tanto que ele podia, a qualquer momento, rejeitá-la, sem que houvesse um motivo para isso. Ela, dificilmente poderia, por iniciativa própria, se desligar do casamento.
Talvez por razões como estas que Jesus se aproxima delas efetivamente e as traz para o centro, devolvendo-lhes a dignidade como seres importantes. Jesus as inclui e dá a elas o poder de fala (empoderamento), numa sociedade em que somente os homens desfrutavam de tal poder. Não é atoa que os discípulos de Jesus ficam espantados/admirados quando vêem o seu mestre, falando com uma mulher, (Jo 4, 27) E esta mulher é nada mais nada menos que uma mulher samaritana. Diante deste contexto, a atitude dos discípulos reflete duplamente o desprezo (machismo) que os judeus têm pelos samaritanos, ainda mais sendo uma mulher.
Jesus está pouco se importando com a forma que aquela sociedade machista e patriarcal encarava a presença feminina. Mais uma vez ele quebra todos os protocolos, numa atitude clara de inclusão destas mulheres. Numa visão tridimensional, fico daqui imaginando o que a sua Mãe, a Comadre de Nazaré, diria a respeito destas atitudes de seu Filhão. Certamente diria ela: Este meu Filho é mesmo o cara! Aliás, nosso bispo Pedro também tinha a ideia de que Jesus era o cara porque aprendeu tudo com a Comadre de Nazaré, inclusive a sensibilidade para lidar com as causas femininas. Maria era a mulher revolucionaria. Já demonstrava isto no seu Magnificat, que Pedro assim traduziu para nós num de seus poemas: “Seu Braço Poderoso, quebranta o capital, os mísseis e a miséria, enche dos bens do Reino a humanidade pobre e despede despidos os acumuladores para o reino das trevas. (“Canta-nos teu Magnificat” – Pedro Casaldáliga, 2005)
No Evangelho de hoje (Mc 7,24-30) Jesus é bastante explicito diante da fé inabalável de uma pobre mulher: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa”. (Mc 7, 29) A Boa Nova que ELE veio trazer (salvação) não é privilégio dos homens ou de um povo determinado, mas é para todas aquelas pessoas que acreditam nele e na sua missão e se dispõem a fazer o seu seguimento. Não se trata mais de uma raça ou de sangue que unem as pessoas a Deus, mas a fé em Jesus e no mundo novo e transformado que ele faz ressurgir entre nós. Que as mulheres nos faça enxergar este mundo novo como bem nos disse nosso profeta dom Helder na sua “Invocação a Mariama”