Tudo pelo Reino

Iniciando mais uma semana chuvosa pelas bandas de cá. Uma segunda-feira (15) em que precisamos revestir-nos de esperança para sobreviver. Entre dia e sai dia, vamos no compasso da pandemia. Vidas e mais vidas se perdendo, enquanto o genocida de plantão segue arquitetando das suas. Desta vez, liberando mais armas. “Deus, família e armamento”. Ou “eu quero todo mundo armado, que povo armado jamais será escravizado”. São as máximas que os nossos ouvidos temos que ainda ouvir. Que lástima! Contradizendo Monteiro Lobato, um país não se faz com homens e livros, mas com armas.

Uma data importante se aproxima de nós. Nos anos anteriores, no dia de hoje, estaríamos nos preparando para festejar mais um ano de vida dele. Nosso brasileiro de Barcelona se estivesse fisicamente aqui conosco, estaria completando os seus 93 anos (16 de fevereiro de 1928). Como está fazendo falta a sua presença profética no meio de nós! Estamos tentando dar prosseguimento ao seu legado, que não é pouco. Haja responsabilidade! Haja teimosia!

Já estamos planejando a nossa próxima Romaria dos Mártires da Caminhada. Vai ser a primeira delas sem a presença dele fisicamente. Estava prevista para acontecer este ano, mas prorrogamos para o ano seguinte. “TUDO PELO REINO”, este é o tema da nossa próxima romaria, que acontecerá nos dias 16 e 17 de julho de 2022, na cidade de Ribeirão Cascalheira, onde está localizado o Santuário dos Mártires da Caminhada. A Romaria é um dos momentos especiais da Prelazia de São Félix do Araguaia. Nestes momentos, fazemos memória de todos aqueles e aquelas que deram suas vidas pelas causas do REINO. Vidas pela Vida. Vidas doadas, no intuito de construir entre nós o REINO querido por Deus, na perspectiva de outra sociedade possível.

Defender a vida é o nosso maior compromisso. Estar dispostos a lutar para que as vidas sejam preservadas, sobretudo dos mais pobres. Compromisso pela vida como fizeram a enfermeira Rebeka Fonseca e o motorista Wadson Diniz. Nesta sexta-feira (12) ambos praticaram um ato heróico, percorrendo cerca de dois quilômetros, na rodovia Transamazônica, empurrando uma maca com cilindro de oxigênio, para salvar uma paciente com Covid-19. Tudo para chegar até o Hospital Regional do Tapajós e salvar a vida daquele paciente. Se os nossos governantes tivessem ao menos um pouco deste espírito, não estaríamos a mercê da morte e muitas outras vidas seriam poupadas.

Ontem a cidade de São Felix do Araguaia estava de luto. Perdemos um dos nossos moradores mais antigos, vítima de um enfarto fulminante, aos 68 anos de idade. Domício Gomes de Melo, um dos nossos melhores contadores de causos da cidade. Uma pessoa boníssima, que todos gostavam de tê-lo por perto, por causa do seu jeito alegre de ser. Sempre sorrindo. Era um dos meus admiradores. Dizia-me sempre: “padre Chico, eu gosto muito das suas missas. O senhor mexe com o coração da gente”. Claro que eu ficava todo feliz com estas suas palavras de carinho.

Rezei hoje fazendo a memória deste grande amigo que nos deixou. Domício, como ele mesmo se definia, era um Prelazia histórico. Um enfrentante, como são chamados aqueles e aquelas que caminham na mesma toada de Pedro. Defendia o bispo Pedro com umas e dentes. Ai de quem falasse mal de dom Pedro perto dele. Volta e meia passava pela casa do bispo, oportunidade para exercitar sua ruidosa gargalhada diante da presença atenta de Pedro.

Pedro e Domício, dois grandes amigos de boa prosa. A vida de Pedro falava por si. Um testemunho vivo de coerência e dedicação às causas do Reino. Não se deixava trair por qualquer tipo de vaidade ou soberba. Ao contrario dos fariseus do Evangelho de hoje (Mc 8,11-13), não precisava de nenhum sinal. Lá, eles queriam que Jesus mostrasse-lhes um sinal do céu para que acreditassem que ELE era de fato, o Messias enviado. Mas Jesus não faz questão alguma de provar nada para aquela gente. ELE tinha claro para si que o seu ser Messias veio de Deus, tão somente para realizar a vontade do Pai. “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). A insistência deles em ter uma prova concreta demonstrava a necessidade de querer um messias triunfalista, que provoca admiração, mas que não liberta. Exatamente o contrario daquilo que Jesus veio nos trazer. E como nos dizia Santo Agostinho numa de suas orações: “Vós sois, Ó Jesus, o Cristo, meu Pai Santo, meu Rei infinitamente grande; sois meu bom pastor, meu único mestre, meu auxílio cheio de bondade…”