De volta ao começo

 

Enfim, chegou o dia tão desejado por muitos. Sábado é o começo do descanso pra os trabalhadores e trabalhadoras que labutaram a semana toda. Dia de dar uma relaxada nas atividades e voltar um pouco mais para as nossas famílias e curti-las. Se bem que neste tempo de pandemia, tudo mudou. Os dias já não são mais os mesmos. A quarentena subverteu a ordem a das coisas e a rotina não é mais como antes. Fomos forçados a mudar a nossa rotina, como forma de nos protegermos. Assim, não basta apenas o cuidar de nós mesmos, mas também o cuidar dos outros, sobretudo dos idosos que temos nas nossas famílias.

Este sábado (06) já é o segundo da quaresma. No dia de hoje, interpelados pela Palavra de Deus, somos desafiados a repensar a nossa trajetória de vida. Como seres errantes que somos, necessitamos às vezes, fazer uma correção de rota na nossa caminhada de peregrinos neste mundo. Reconhecer que nem sempre somos quem achamos que somos, e necessitamos de uma volta ao começo, para beber a água pura que brota da fonte. Voltar ao começo e redimensionar a nossa caminhada, como fez o jovem da parábola, contada por Jesus no Evangelho proposto para a liturgia de hoje (Lc 15,1-3.11-32). Depois de arrepender-se das bobagens que havia feito, o jovem cai em si, e decide ir de volta ao encontro do pai: “Confiei no teu amor e voltei, sim aqui é meu lugar. Eu gastei teus bens ó pai e te dou, este pranto em minhas mãos”. https://www.youtube.com/watch?v=P1JDETBJjjY

Estamos nos referindo à parábola que alguns de nós a chama de “Parábola do filho pródigo”. O mais certo seria talvez chamá-la de “parábola do pai amoroso”. Um pai que sabe agir com extrema amorosidade para com o seu filho errante. Mesmo sabendo das bobagens feitas pelo moleque, é capaz de acolhê-lo de volta com carinho e dar-lhe uma nova chance para recomeçar. Aqui entendemos como funciona a dinâmica do processo de CONVERSÃO. Este processo começa sempre com uma tomada de consciência: Caramba, errei feio! Me lasquei! Sentindo o arrependimento sincero do filho, o pai o acolhe, dando-lhe não somente o perdão, mas também restitui-lhe a a dignidade de filho, inserindo-o de volta na família.

Esta é talvez uma das narrativas mais conhecidas de todo o Novo Testamento. Este texto nos mostra a forma como Deus age também para conosco. Um Deus que não está preocupado com os nossos erros costumeiros, mas com a nossa atitude perante eles. Esta é a face do nosso Deus, que Jesus insistiu tanto em nos revelar: Deus é misericórdia e perdão! Um Deus que não se alegra com a morte do pecador, mas que fica feliz da vida com aqueles que são capazes de voltar atrás, arrependidos por ter desviado da dota proposta por ELE: “Haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.” (Lc 15, 10) Isso é que é a verdadeira misericórdia. “A medida do amor é o amor sem medida”. (Santo Agostinho)

De volta ao começo. Fazer a experiência do retorno às origens, onde tudo começou. Foi o que fez o nosso Papa Francisco. Voltar à terra de Abraão (Ur dos Caldeus) e fazer a experiência ecumênica de diálogo aberto, pleno de humildade frente àqueles que hoje habitam aquele espaço territorial. Mais uma vez, o “Peregrino da paz”, o homem do diálogo, profeta da reconciliação e da convivência fraterna, se fazendo presente num de seus maiores desafios. Do dia 5 a 8 de março, Francisco estará em visita apostólica ao Iraque, país de maioria muçulmana onde os católicos representam apenas 1,5% de uma população de 38,8 milhões de pessoas. 33ª viagem internacional do pontificado de Francisco. O mais interessante de tudo é que uma das principais lideranças do grupo Xiita, afirmou em nota, que o papa não iria ao Iraque apenas para se encontrar com os católicos, mas com todo o povo, uma vez que eles também desejavam estar com o sumo pontífice, para ouvi-lo.

Francisco que não gosta de escoltas armadas em torno de si, foi obrigado a aceitar o aparato de proteção oferecido pelo Estado Islâmico. O primeiro papa a visitar o Iraque. “Fratelli tutti”! “Somos todos irmãos!”. Francisco com a nobre missão de confirmar os irmãos e irmãs na fé, consolar os desanimados, encorajar e reconfortar os tristes e abatidos. Assim que pisou em solo iraquiano, o papa foi direto ao assunto: “Chega de violência, de extremismo e de intolerância”. Também foi enfático ao afirmar incisivamente: “Que se calem as armas!”. Ele que tempos atrás afirmou: “Quem coloca armas nas mãos de uma criança não comete um crime somente a ela, mas perante toda a humanidade”. Bem que os incautos dentre nós, bem que poderiam ouvir e guardar para si estas palavras. Um papa ecumênico no Iraque de maioria muçulmana, de saber que, “católicos de araque”, combatem com umas e dentes vorazes uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, que propõe o diálogo. É mole, ou quer mais?