Na Liturgia deste V Domingo da Quaresma, veremos, na 1a Leitura (Jr 31, 31-34), que o profeta Jeremias compara a volta dos exilados com uma nova aliança que terá suas raízes no mais íntimo do coração. Jeremias recorda que Deus tinha feito uma aliança no Sinai, entregando a Moisés mandamentos escritos em pedra. O povo aderiu à aliança, contudo, mais com a boca do que com o coração, nunca interiorizou devidamente, foi infiel. Agora, nesta nova aliança, os mandamentos não serão mais gravados em pedras, mas no coração. Uma aliança que o tempo não apagará. Não será uma imposição externa, mas uma disposição interior para percorrer os caminhos de Deus.
Para a Doutrina Católica, a Lei Moral decorre da ordem estabelecida por Deus em todo ser humano para ser fundamento da conduta dos indivíduos e da sociedade. A lei natural é respeitada como lei do Criador e ponto de encontro de todos os homens, independentemente de suas crenças e filosofias de vida. “Na vida cotidiana, expressa o que se tem a obrigação de fazer, o que convém fazer. Serve também para formular e descrever a relação existente entre nossas ações e os objetivos que elas buscam atingir”.
Para Santo Agostinho, tudo foi criado por Deus segundo ordem, peso e medida, isto é, tudo está sabiamente ordenado numa escala hierárquica: Deus, homem, animal, vegetal e mineral. Essa hierarquia é a Lei eterna de Deus, não é uma filosofia, pois, segundo Santo Agostinho, a lei eterna é a vontade Divina que manda conservar a ordem natural e não perturbá-la. A Lei eterna Divina é interior à criatura, o objetivo fundamental do ser humano, da sua felicidade, é realizar a vontade de Deus. Por isso o dever moral é definido como a ação em conformidade com a vontade divina. É a conjugação do pensamento de Deus com as criaturas ordenadas traduzido na escala cósmica. A ‘moral do dever’ consiste no amor à ordem. Para ele, Deus não está ‘lá fora’, nas criaturas, nos prazeres, na filosofia e nem na riqueza, nem lá em cima, nem cá em baixo, mas está dentro de nós. Assim, ele consegue encontrar Deus dentro de si por meio da verdade. Então, a ‘moral do dever’ é tão somente amar a verdade Divina presente em mim. “Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a Verdade habita no coração do homem. E se não encontras senão a tua natureza sujeita a mudanças, vai além de ti mesmo. Em te ultrapassando, porém, não te esqueças que transcendes tua alma que raciocina. Portanto, dirige-te à fonte da própria luz da razão” (A verdadeira religião 39,72).
Na 2ª Leitura (Hb 5,7-9), o Apóstolo Paulo afirma que a nova Aliança, plena e definitiva, se realizará em Jesus Cristo. A Paixão é vista aqui como a mais solene prece de intercessão e o mais sublime ato de obediência.
No Evangelho (Jo 12, 20-33), vemos que todos correm atrás de Jesus, mas ele sabe que deve primeiro ser exaltado na cruz. É necessário que o grão de trigo morra para não permanecer sozinho. A pressão por parte dos pagãos marca o início da hora de Jesus, isto é, da sua paixão. Jesus, perturbado pela aproximação da hora, pede ao Pai que glorifique seu nome. A paixão se torna assim, para João, a glorificação do pai e do Filho. Vejamos mais alguns apontamentos:
1º) Todos querem ver Jesus: não é por curiosidade, mas por sede de vida nova. As questões que nos veem são as seguintes: De quem devemos nos aproximar para que nos aponte Jesus? Onde e em quais ambientes podemos encontrá-lo? Quando devemos procurá-lo, na hora da morte, como São Dimas, ou temos a chance de encontrá-lo enquanto estamos a caminho?
2º) Jesus caiu em terra: a ressurreição passa pela cruz, Jesus agora vive não mais num corpo físico, mas no seu Corpo Místico, na Igreja, isto é, em toda a humanidade. Assim foi para Jesus, assim será para cada um de nós.
3º) Cair em terra, não é só dar fruto, é salvar-se, viver eternamente: “Ele foi ferido por causa de nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes, a punição a ele imposta era o preço de nossa paz, e suas feridas, o preço de nossa cura” (Is 53,5).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.