Na Liturgia deste IV Domingo da Páscoa, vemos, na 1a Leitura (At 4, 8-12), o anúncio do evangelho, mas também a denúncia contra os que oprimem e querem calar a verdade que liberta. Mesmo em condições adversas e hostis, os discípulos de Jesus, animados pelo Espírito, devem fazer o bem, sempre e em qualquer circunstância: “Estamos sendo interrogados por termos feito o bem”. Para os cristãos, Jesus é a referência para o agir e o viver bem. Viver bem, faz bem.
Na 2ª Leitura (1Jo 3,1-2), o Apóstolo João nos convida a contemplar o grande presente do amor de Deus: sermos chamados filhos de Deus. Costumo dizer que o fruto não cai longe do pé. Neste caso, se somos filhos de Deus, qual deve ser o nosso sinal distintivo? Respondo com Santo Agostinho, pois, para ele, a questão da semelhança do homem com Deus tem dois aspectos. O primeiro diz respeito ao momento da criação, quando Deus faz o homem à sua imagem e semelhança; neste sentido, todo homem carrega dentro de si esta imagem divina. Um segundo momento é quando o homem, por sua livre vontade, deve esforçar-se para imitar o modo de amar de Deus; neste último aspecto, tornam-se semelhantes a Deus os que O buscam e O amam verdadeiramente. Este segundo momento é, na verdade, uma restauração do primeiro, visto que, ao assemelhar-se a Deus pela caridade, o homem não está fazendo outra coisa senão restaurando em si a imagem divina deteriorada pelo egoísmo. Assim, ao tornar-nos semelhantes a Deus, a caridade nos faz também filhos seus: “A caridade é o único sinal que distingue os filhos de Deus dos filhos do demônio” (Santo Agostinho. Comentário da 1ª Epístola de São João, V, 7). Assim como entre os homens é a semelhança física o que caracteriza alguém como filho de outrem; do mesmo modo, o sinal distintivo dos verdadeiros filhos de Deus é, exatamente, a vivência da caridade. Embora muitos aleguem serem filhos de Deus, somente os que amam com caridade, de fato, o são. Portanto, se quisermos ser realmente felizes, não devemos perder tempo com amores particulares, egoístas e passageiros; ao contrário, amemos, sem reservas, a todos: parentes, amigos, inimigos e, especialmente, os pobres deste mundo. Seremos felizes nesta vida e por toda eternidade, se todas as nossas ações forem movidas pelo amor, mas não por qualquer amor, e sim por aquele que chamamos de amor fraterno ou de perfeita caridade.
No Evangelho (Jo 10,11-18), Jesus se apresenta como o ‘Bom Pastor’, capaz de deixar as noventa e nove ovelhas sadias para buscar a que se perdeu, que se machucou. Quando a encontra, então, Ele a cura, carrega ao colo, salva.
Hoje, Jesus está presente em nossos líderes e autoridades quando exercem seus cargos em espírito de serviço e doação. O verdadeiro líder, pastor, também enfrenta o ‘lobo’, toma posicionamentos quando a dignidade das pessoas e o bem comum correm perigo. As ovelhas dependem da habilidade do pastor para se manterem vivas e seguras. Todos somos chamados a viver a espiritualidade do bom pastor, todos somos ‘pastores’ na família, na religião, na política etc., mas também todos somos ovelhas de Jesus.
“O homem de hoje rejeita, com desdém, o papel de ovelha e a ideia de rebanho, mas não nota que está completamente dentro. Um dos fenômenos mais evidentes de nossa sociedade é a massificação. Deixamo-nos guiar de maneira indiferente por todo tipo de manipulação e de persuasão oculta. Outros criam modelos de bem-estar e de comportamento, ideais e objetivos de progresso, e nós os seguimos; vamos detrás, temerosos de perder o passo, condicionados e sequestrados pela publicidade. Comemos o que nos dizem, vestimos como nos ensinam, falamos como ouvimos falar, por slogan. O critério pelo que a maioria se deixa guiar nas próprias opções é o que o capitalismo dita ou então todos fazem assim” (Pe. Raniero Cantalamessa).
Cada um de nós é chamado a ser livre e fazer a diferença no universo. O Bom Pastor, que é Cristo, propõe fazer, com Ele, uma experiência de libertação. Pertencer a seu rebanho não é cair na massificação, mas ser preservado dela. “Onde está o Espírito do Senhor, ali está a liberdade” (2 Cor 3,17).
Boa reflexão e que possamos produzir muitos frutos para o Reino de Deus.